O Presidente da República cessante de Itália, Sergio Mattarella, deverá permanecer no cargo, depois de os partidos de coligação governamental terem concordado que é a melhor hipótese para evitar instabilidade política no país. Este sábado na sétima ronda de votações no parlamento italiano, para eleger o próximo Presidente da República, não houve consenso, mas Sérgio Mattarella — que não pretendia continuar no cargo — obteve quase 400 votos.

Mattarella, 80 anos e cujo mandato termina a 03 de fevereiro, fez saber por diversas ocasiões que não queria permanecer no cargo, mas, segundo a agência France-Press, há um consenso entre partidos para que seja reeleito, em nome da estabilidade política no país. Para hoje estavam previstas duas rondas de votação, sendo que na primeira Sergio Mattarella recebeu 387 votos e foram ainda registados 60 votos em branco e 380 abstenções.

Para uma eleição são precisos 505 votos, ou seja, uma maioria dos 1.009 eleitores participantes na votação. A oitava ronda de votação está marcada para as 16:30 locais.

“Os italianos não merecem ter mais dias de discórdia. (…) Defendemos que Mattarella permaneça no Quirinal [sede da Presidência da República italiana]”, afirmou o líder da ultradireita, Matteo Salvini, citado pela agência EFE.

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Também o ex-primeiro-ministro, Matteo Renzi, escreveu nas redes sociais que “manter Mattarella no [palácio do] Quirinal e Mario Draghi no governo é a única forma de tirar a Itália desta loucura”, referindo-se às sucessivas votações sem consenso.

No Twitter, o líder do Partido Democrata, Enrico Letta, colocou uma fotografia do atual presidente, escrevendo “Obrigado, presidente Mattarella”, enquanto o Força Italia, de Silvio Berlusconi, e o Movimento 5 Estrelas, de Giuseppe Conte, sublinharam que o atual chefe de Estado é o único que pode garantir a unidade política.

A eleição do Presidente da República decorre há uma semana sem acordo quanto a um nome, o que prolonga a incerteza que pesa sobre o futuro do primeiro-ministro, Mario Draghi, e da coligação governante. O Presidente da República tem um papel essencialmente protocolar em Itália, mas este ano está muito em jogo: se Mario Draghi fosse eleito, abandonaria a liderança do seu Governo que assenta numa frágil coligação.

Uma tal escolha poderia desencadear eleições legislativas antecipadas, o que faria “descarrilar” as reformas necessárias à obtenção dos milhares de milhões de euros prometidos a Itália no âmbito do fundo de recuperação da União Europeia. Itália é o maior beneficiário europeu desse programa, estando previsto receber quase 200 mil milhões de euros, desde que cumpra os requisitos de reformas em diversas áreas.

A escolha do Presidente da República é notoriamente difícil de prever: a história prova que esta eleição semelhante a um conclave, sem candidatos oficiais e com boletins de voto secreto, é propícia a reviravoltas de última hora.