O ministro da Defesa moçambicano, Cristovão Chume, pediu quarta-feira união em torno das designadas “forças locais” lideradas por ex-combatentes que pegaram em armas para defender comunidades de ataques insurgentes que há quatro anos atingem Cabo Delgado.

“Em vez de nos centrarmos naquilo que nos divide, devíamos nos centrar e dar um apoio, até moral, ao trabalho que estão a desenvolver para o bem das comunidades”, referiu, em resposta a jornalistas, quando questionado sobre a legalidade do porte de armas por aquelas forças.

“Aqueles que acham que há problemas jurídicos, que apoiem o Governo e as instituições nas melhores soluções” em termos legais, “no lugar de andarmos às críticas sobre o que está a acontecer”, referiu.

Em vários momentos da insurgência armada, desde 2017, em Cabo Delgado, houve ataques repelidos por grupos de antigos combatentes da luta pela independência que chegaram a perseguir e abater algumas células rebeldes.

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Na última semana, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, distinguiu várias individualidades durante o 3 de fevereiro, dia dos Heróis Moçambicanos, com destaque para 230 membros das forças locais.

Cristovão Chume disse quarta-feira que a defesa proporcionada por estes grupos voluntários é prioritária, acima de questões legais.

“Eu olho sobretudo à importância do trabalho que estão a desenvolver, às vidas que estão a salvar, às comunidades que protegem”, disse.

“Não acho que não sejam importantes [as questões legais], mas podemos num momento posterior discutir como as abordar”, sublinhou, reiterando que os dias têm decorrido “entre a vida e a morte” para várias comunidades.

O “terrorismo” emergiu e “as pessoas, de uma maneira espontânea, organizaram-se com os meios que tinham para proteger as suas machambas [hortas], famílias e comunidades. Solicitaram armas”, referiu.

Cristóvão Chume traça o paralelo com a luta pela independência, dizendo que as pessoas que agora são postas em causa, “libertaram este povo, esta terra, com menos conhecimento do que se calhar têm hoje”.

“São as mesmas pessoas que estão outra vez a pegar em armas para apoiar o nosso país. Se não fossem eles, algumas comunidades nem estariam a ter uma vida de paz”, concluiu.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes.