“Entendo a política como o respeito aos adversários e a entrega aos companheiros”. Foi assim que Pablo Casado, líder do Partido Popular, o maior partido da oposição espanhola, se despediu do Congresso, esta quarta-feira. Foi uma intervenção curta: leu um discurso, ouviu a resposta do presidente do governo, levantou-se e saiu da sala. Tudo não chegou a dez minutos, descreve o El País.

Nos últimos dias, e perante as convulsões internas do partido e especulações sobre a sua saída da liderança, surgiram dúvidas se Casado iria manter a pergunta que tinha planeado colocar a Pedro Sanchéz no Congresso. Foi uma incógnita que se manteve até ao último minuto, com a equipa de Casado a confirmar a presença do ainda líder popular apenas meia hora antes do plenário, para colocar a pergunta: “Quanto mais está disposto a ceder aos seus parceiros independentistas para ficar na Moncloa?”

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Contratos fraudulentos e acusações de espionagem: o PP espanhol está a implodir. O que aconteceu?

Seguiu-se, então, o breve discurso de despedida, em que não fez qualquer referência à cisão atual do PP. Deixou apenas um apelo ao PSOE, partido no governo, para que continue a ocupar o espaço político do centro, “sem necessidade de pactos com os que não acreditam em Espanha, ou de alianças com os que a atacaram”.

“Espero que o governo se coloque ao serviço dos interesses gerais, com respeito pelas instituições, pela união nacional e pela igualdade de todos os espanhóis”, afirmou.

Foi chegado à última frase que deixou uma mensagem mais pessoal: “Entendo a política como a defesa dos mais nobres princípios e valores, desde o respeito pelos adversários à entrega aos companheiros. Tudo para servir Espanha e a causa da liberdade”. As palavras de Casado foram recebidas com aplausos do seu grupo parlamentar.

Em resposta, o presidente do governo, Pedro Sánchez, desejou-lhe “o melhor a nível pessoal” e garantiu que o executivo está empenhado na recuperação económica de Espanha, na recuperação pós-pandemia, na luta pela expansão das liberdades e direitos e no progresso do país. Ainda assim, deixou-lhe um reparo, criticando uma oposição que tem insistido na “desqualificação constante, negando até a legitimidade do governo”.

Sánchez deixou também a garantia de que não haverá eleições antecipadas. “Não vamos fazê-lo”, afirmou, “por sentido de Estado e porque este governo coloca os interesses gerais à frente de qualquer outro tipo de interesse”. “As eleições vão ser convocadas quando for apropriado competir por mérito e não pela fraqueza dos adversários”, garantiu.

Ayuso e Casado. Este Partido Popular já não tem espaço para os dois (resta saber se ainda há espaço para o PP)

A despedida de Casado do Congresso acontece depois de, na terça-feira, o líder popular ter convocado uma reunião da junta diretiva nacional do partido, onde se espera que seja convocado o 20.º congresso nacional do partido, que será de “natureza extraordinária”. Para breve é esperado o anúncio de que deixará a liderança do partido, dizia na terça-feira o ABC.

Pablo Casado prepara-se para sair da liderança do PP

O escândalo dentro do PP começou quando há dias foi noticiada uma investigação interna que o próprio partido estaria a fazer a Isabel Díaz Ayuso, que ainda há meses era celebrada no partido como uma estrela em ascensão, depois de ter conquistado a governação de Madrid e ficado à beira da maioria absoluta. Em causa estariam suspeitas de ter interferido na atribuição de um contrato para compra de máscaras a uma empresa — contrato esse em que o seu irmão seria intermediário e pelo qual teria recebido uma comissão.

Ayuso, que soube dos rumores que apontavam que o partido não só a estava a investigar como teria contratado, ou tentado contratar, detetives para esse efeito, fez uma conferência de imprensa explosiva, na semana passada, em que denunciava a conduta “cruel” da direção do seu partido e dizia estar a ser vítima de uma “fabricação” para a prejudicar politicamente.

A direção do partido reagiu garantindo que iria abrir um processo interno à presidente de Madrid e que ponderaria mesmo agir por via legal, uma vez que considerava as acusações de Ayuso “quase criminosas”.

Entretanto, Ayuso já veio defender que o contrato, pelo qual o irmão terá recebido honorários e não uma comissão, num valor bastante mais baixo do que tinha sido noticiado (um valor a rondar os 55 mil euros e não os 268 mil), não teria “nada de ilegal” nem teria sido adjudicado por sua interferência, tendo esta segunda-feira anunciado que iria entregar os documentos relativos ao negócio à Justiça.