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Mapa da guerra. O que se sabe sobre a invasão russa no dia 9

Este artigo tem mais de 2 anos

O nono dia de combate foi marcado pelo ataque a Zaporíjia, a maior central nuclear da Europa. Mas não ficou por aqui: as forças russas capturaram uma segunda cidade ucraniana, Trostyanets.

epa09799527 Ukrainian military members walk on a bridge destroyed by shelling in Irpin city, Kyiv (Kiev) province, Ukraine, 03 March 2022. Russian troops entered Ukraine on 24 February prompting the country's president to declare martial law and triggering a series of severe economic sanctions imposed by Western countries on Russia.  EPA/ROMAN PILIPEY
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Cerca de 150 estações de rádio europeias transmitiram a música de John Lennon “Give Peace a Chance” ao mesmo tempo, esta sexta-feira

ROMAN PILIPEY/EPA

Cerca de 150 estações de rádio europeias transmitiram a música de John Lennon “Give Peace a Chance” ao mesmo tempo, esta sexta-feira

ROMAN PILIPEY/EPA

Ao nono dia de guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o pior temeu-se na central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa e uma das maiores do mundo, depois de um ataque das forças russas ter provocado um incêndio num edifício de treino, perto do perímetro da central. O conflito entre os dois países continua, assim, a escalar, com vários países a pedir que a Rússia cesse as operações “imediatamente”. A ação foi classificada de “irresponsável” pela NATO e de “um acto de guerra” pela Embaixada dos EUA na Ucrânia. O Governo ucraniano está a contar com uma nova ronda negocial com a Rússia nos próximos dias.

A informação sobre o que se está a passar no leste da Europa é atualizada ao minuto no liveblog do Observador e está a ser contada pelos enviados especiais do Observador à Ucrânia, Cátia Bruno e João Porfírio.

Atualizado na tarde de 4 de março de 2022

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

O que se passou durante a tarde e noite?

  • As forças russas capturaram uma segunda cidade ucraniana, depois de já terem tomado Kherson: Trostyanets, no norte do país. O governador da região descreveu uma situação dramática, com as forças russas a pilhar e roubar lojas e casas, e a impedir o acesso de médicos aos civis, exceção feita para as crianças.

Rússia captura Trostyanets. É a segunda cidade ucraniana sob controlo russo

  • Quarenta e sete pessoas morreram nos bombardeamentos russos à cidade ucraniana de Tcherniguiv, no norte do país.
  • O Conselho de Segurança da ONU esteve reunido, com representantes de vários países a condenarem o ataque à central nuclear de Zaporíjia, que agora está nas mãos as forças russas. O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica também esteve presente e indicou que uma equipa da organização está disponível para se deslocar à central nuclear de Chernobyl para assegurar a “segurança” do local. Moscovo ainda não aceitou a oferta, disse.
  • A Rússia continua a restringir as liberdades dentro de portas. O parlamento aprovou legislação que criminaliza a divulgação de “informações falsas”, incluindo tudo o que “desacredite” o exército russo, o uso do termo “guerra”, ao invés de “operação militar especial” e o apelo a sanções contra a Rússia. As penas podem ir de multas até 15 anos de prisão. Em consequência disto, vários media independentes suspenderam operações, incluindo até alguns meios de comunicação estrangeiros, como a Bloomberg e a BBC. Ainda no campo das restrições à informação, a Rússia bloqueou o acesso às redes sociais, incluindo Facebook, Twitter e Youtube.

Rússia declara guerra à informação: apelar a sanções ou “desacreditar” o exército passa a ser crime

  • A NATO recusou criar uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, com receio de a medida vá agravar ainda mais o conflito. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou esta posição dizendo que é uma “luz verde” a mais bombardeamentos no seu país.

Zelensky: “Sabendo que novos ataques são inevitáveis, a NATO decidiu não fechar os céus da Ucrânia”

  • Alarga-se o boicote de empresas à Rússia. A organização da Web Summit anunciou que vai “proibir todos os membros e agências do governo, media controlada pelo Estado, empresas apoiadas pelo Estado e empresas com vínculos com o governo russo, de participar” no evento. No mesmo sentido, várias marcas de luxo, incluindo Hermès, Cartier, LVMH, Kering e Chanel, anunciaram o encerramento temporário das suas lojas e operações na Rússia.
  • O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou que o Reino Unido vai, tal como a União Europeia, aplicar mais sanções à Rússia. Londres e Bruxelas devem aumentar a pressão sobre oligarcas e elites russas. O grupo G7 (Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) também se comprometeu com o aumento das sanções.

O que se passou no final da manhã e início da tarde?

  • O presidente russo falou ao início da tarde pedindo aos “outros países” – que não os países do Ocidente – que “normalizem relações com a Rússia”. Numa reunião no Kremlin transmitida pelas televisões locais, Vladimir Putin garantiu que irá cumprir todas as suas obrigações económicas relativamente a esses “outros países”. “Todas as nossas ações, caso elas sejam tomadas, virão apenas e só em resposta a algumas iniciativas hostis contra a Federação Russa“, garantiu Putin;
  • O conflito que dura há umas semana continua a ter impacto na economia, com o euro a ser negociado abaixo de 1,10 dólares pela primeira vez desde maio de 2020, segundo a Bloomberg;
  • Mykolaiv, a cidade a cerca de 70 Km de Kherson (já tomada pelos russos) não está afinal ocupada como tinha dito o presidente da câmara local durante a manhã. Um conselheiro do presidente da Ucrânia explicou que o assalto das tropas russas a Mykolaiv foi “repelido”;
  • O secretário-geral da NATO antecipa que os próximos dias na Ucrânia possam “ser piores”. Jens Stoltenberg voltou a insistir com Putin para que páre o conflito e “se envolva em diplomacia genuína” e garante que a Organização “não está à procura de uma guerra”, embora assuma que fará “tudo o que for necessário para proteger o seu território”. Também falou da central nuclear Zaporíjia, cuja tomada russa como “uma ação imprudente” ;
  • A Embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia foi mais longe e considerou este ataque “um crime de guerra”;
  • A companhia estatal nuclear da Ucrânia anunciou que três soldados ucranianos morreram e outros dois ficaram feridos no ataque à maior central nuclear da Europa, Zaporíjia, nesta madrugada. Entretanto, uma multidão desarmada bloqueou os acessos à central nuclear de Zaporíjia , segundo o The Kyiv Independent;
  • O número registado pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados aponta já para a existência de 1,2 milhões de refugiados da Ucrânia;
  • Em Portugal já foram registados 1.150 pedidos de asilo vindos da Ucrânia e já há mais de 11 mil postos de trabalho disponibilizados na plataforma criada para o efeito;
  • Foram ouvidas novas explosões em Kiev ao início da tarde. A Sky News noticiou pouco depois que pelo menos sete pessoas morreram, entre as quais duas crianças, num ataque aéreo na região;
  • Ucrânia está a contar com uma nova ronda negocial com a Rússia este fim de semana. Um conselheiro do presidente ucraniano avisou entretanto que Zelensky, não irá fazer concessões que possam vir a “humilhar” o povo ucraniano na sua luta pela integridade territorial;
  • A ONU atualizou os números de vítimas civis no conflito: 331 civis ucranianos morreram e outros 675 ficaram feridos. Destes 331 mortos, 19 eram crianças;
  • O Governo ucraniano atualizou o número de soldados russos mortos pelos seus militares: 9.200 soldados até ao momento;
  • Presidente ucraniano fala mais uma vez para dizer que falou com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Informei-a do terrorismo nuclear do agressor. Preveni-lo é a nossa tarefa comum. Discutimos o fortalecimento das sanções contra a Rússia. O assunto da adesão da Ucrânia à União Europeia também esteve na agenda”, escreveu no Twitter;
  • Um míssil lançado pelas forças russas terá caído perto de uma das residências oficiais de Volodymyr Zelensky, mas falhou.

O que aconteceu na madrugada e início da manhã do nono dia

  • A maior central nuclear da Europa, Zaporíjia, foi tomada pelas forças russas, depois de um ataque ter provocado um incêndio num edifício de treino (e não num dos reatores, como inicialmente noticiado). As tropas da Rússia já controlavam desde terça-feira os territórios à volta da central.
  • Rússia e Ucrânia trocam acusações sobre quem será o culpado do incêndio. Em conferência de imprensa, o diretor-geral da Agência Internacional da Energia Nuclear (IAEA, na sigla original) assegurou que “o projétil foi lançado pelas forças russas”. Já a Rússia rejeita responsabilidades e culpa “sabotadores ucranianos” pelo sucedido. Um porta-voz da Defesa russa disse mesmo, citado pela Reuters, que, na última noite, “houve uma tentativa por parte do regime nacionalista de Kiev de lançar uma provocação monstruosa”. Num vídeo transmitido na conta oficial de YouTube da central era mesmo possível ver fumo a sair de algumas partes da estrutura e o lançamento daquilo que aparentavam ser mísseis.
  • O ataque provocou, pelo menos, dois feridos (dois elementos da segurança da central), segundo o diretor-geral da IAEA, Rafael Mariano Grossi. O fogo foi extinto pelas 06h20 (hora local, menos duas horas em Portugal continental) depois de cerca de 3 a 4 horas de combate às chamas.
  • Depois de os serviços de emergência ucranianos terem acusado inicialmente a Rússia de estar a impedir o combate ao incêndio, o fogo começou a ser combatido por volta das 5h20 (hora local, menos duas horas em Portugal continental). Os mesmos serviços anunciaram que o fogo foi dado como extinto pelas 06h20 (hora local).
  • O governo ucraniano chegou a alertar para um aumento dos níveis do radiação junto à central nuclear devido ao incêndio, mas IAEA acabaria por rejeitar essa informação, garantindo não ter ocorrido libertação de radiação. Para já, apenas um dos reatores está a funcionar (e a 60%). Antes, a secretária de Estado da Energia norte-americana, Jennifer Granholm, garantiu que os reatores da centralestão protegidos por estruturas de contenção robustas”.
  • Durante o ataque, a Casa Branca esteve em contacto com a presidência ucraniana e Joe Biden falou mesmo com Volodymyr Zelensky. Já Boris Johnson, que também falou com Zelensky, vai pedir uma reunião urgente do conselho de segurança da ONU sobre o ataque à central de Zaporíjia.
  • O Presidente da Ucrânia acusou, já esta madrugada, a Rússia de terrorismo nuclear, reafirmando que “a Europa tem de acordar”. E voltou a apelar a uma ação imediata da Europa — só isso, argumenta, “pode travar as tropas russas e evitar o fim da Europa”.
  • Também esta sexta-feira ficou a saber-se que Zelensky sobreviveu a (pelo menos) três tentativas de assassinato nos últimos dias, noticiou o britânico The Times.
  • O presidente da Câmara de Mykolaiv informou que as tropas russas estão a entrar na cidade que fica a uma hora de distância de Kherson (a 71 km), que já foi tomada pelas forças russas.
  • Esta sexta-feira é dia de cimeira da NATO. À entrada para o encontro, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reiterou que a aliança é defensiva. “Não procuramos conflitos, mas se o conflito chegar a nós, estamos prontos e vamos defender cada centímetro do território da NATO”, vincou. A mesma posição foi defendida pelo secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que condenou ainda o ataque na central nuclear de Zaporíjia. Para Stoltenberg, o ataque mostra “a irresponsabilidade desta guerra e a importância de lhe pôr um fim”.
  • O Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, garante que não há quaisquer tropas do país envolvidas no conflito na Ucrânia.
  • Subiu para 47 o número de mortes na sequência dos ataques aéreos levados a cabo pelas tropas russas numa zona residencial na cidade ucraniana de Chernihiv, a cerca de 150 quilómetros a norte de Kiev.
  • Em Zhytomyr, cidade localizada a 120 quilómetros a noroeste de Kiev, que tem sido alvo de bombardeamentos nos últimos dias, soaram alarmes esta madrugada que alertaram para o risco de um ataque aéreo e instruíram a população a dirigir-se para um local seguro, segundo o The Kyiv Independent.
  • Cerca de 150 estações de rádio europeias transmitiram a música de John Lennon “Give Peace a Chance” ao mesmo tempo, esta sexta-feira, numa ação solidária contra a guerra. A Rádio Observador, juntamente com outras estações privadas europeias em mais de 25 países, juntou-se à iniciativa pelas 7h45 (hora de Lisboa) com o grupo Lucky Duckies a interpretar o tema em direto nos estúdios.

Rádio Observador junta-se à iniciativa: “Give Peace a Chance” ao vivo com os Luckie Duckies

  • O CEO do Airbnb, Brian Chesky, anunciou esta madrugada que a plataforma de arrendamento vai “suspender todas as operações na Rússia e na Bielorrússia” (este último país tem-se mostrado favorável às ações de Putin). O Airbnb junta-se, assim, à já extensa lista de empresas que suspenderam ou reduziram a atividade em território russo.
  • A Rússia restringiu o acesso ao serviço da BBC Rússia e à Rádio Liberty, que é financiada pelo governo dos Estados Unidos, assim como ao site russo independente Meduza.
  • Pelo quinto dia consecutivo, a bolsa de Moscovo não abriu à negociação, o que está a ser visto como uma tentativa de evitar uma provável derrocada. Já as bolsas europeias estão a registar perdas cada vez mais profundas. Esta sexta-feira, o índice europeu Stoxx 600 estava a cair quase 3% no início da terceira hora de negociação.

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