O português que mais vezes terá estado frente a frente com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, veio reconhecer que, depois da disputa desencadeada a propósito da anexação da Crimeia em 2014, “não levámos Putin a sério”.

Em entrevista ao Expresso, Durão Barroso recorda não só o encontro onde o russo terá garantido que “se quisessem, as Forças Armadas russas” tinham capacidade para “tomar Kiev em menos de duas semanas” como a indiferença do próprio Conselho Europeu em relação a uma possível ofensiva na capital ucraniana. “Ninguém no Conselho Europeu pensou que isto pudesse acontecer. Ultrapassa toda a imaginação: tentar destruir ou fazer desaparecer como país independente um Estado soberano.

Na mesma entrevista, o social-democrata reconhece que não só Vladimir Putin mudou nos últimos oito anos, como a própria “situação” se alterou drasticamente. “O Putin que conheci era um homem profundamente marcado pelo ressentimento com a decadência russa. Mas também era alguém que fazia cálculos racionais, no sentido de pesar os custos e os benefícios de cada decisão e ver até onde podia ir. Mas não a um ponto de ultrapassar a linha do que seria entendível de um ponto de vista racional”, junta-se ao coro de personalidades que têm colocado a saúde mental do russo em causa para justificar a entrada no país vizinho.

Sobre a ameaça nuclear que as movimentações russas têm despertado, Durão Barroso diz que “não podemos excluir nada”, aconselhando o Ocidente a “ter disciplina para não gerar uma situação que fuja ao controlo”. Questionado sobre o impacto das sanções europeias e norte-americanas à Rússia, o homem que reuniu pelo menos 25 vezes com Putin diz que o “russo não é sensível” a esta matéria.

Antecessor do luxemburguês Jean-Claude Juncker na Comissão Europeia, o também antigo primeiro-ministro de Portugal acrescenta que, a curto prazo as sanções financeiras não chegam para asfixar a Rússia.

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