Nova legislação que está a avançar em várias regiões de Espanha, incluindo o País Basco e Valencia, vai obrigar as novas casas a serem construídas numa perspetiva de combate às desigualdades de género e de divisão das responsabilidades domésticas. É a chamada “casa feminista” que, na prática, tem uma arquitetura que recusa “quartos principais” com casa de banho – ou seja, suites – porque se acredita que estas favorecem uma “hierarquização” indesejável. E privilegia-se cozinhas em “open space que tenham contacto com a sala de jantar, para não isolar e discriminar a pessoa que prepara as refeições.

Algumas das principais normas que têm sido debatidas publicamente já foram vertidas num decreto que está a avançar no País Basco. Pode ler-se nesse decreto, por exemplo, que “o espaço para cozinhar deverá ter as dimensões de cozinha com espaço para refeições” ou, em alternativa, deve desenhar-se a cozinha de forma a poder estar “unido de forma direta” ao espaço de convívio e refeição, garantindo pelo menos uma “conexão visual direta“. E deve ser um espaço pensado para ser usado por mais do que uma pessoa ao mesmo tempo.

As normas desta “arquitetura feminista” vão começar a ser aplicadas na construção de habitação pública mas o objetivo é que, progressivamente, as mesmas orientações também venham a valer para a construção urbana privada. Como escreve o espanhol El Mundo, as primeiras orientações neste sentido foram compiladas pela Conselleria de Vivienda y Arquitectura Bioclimática del Gobierno Valenciano. Mas no País Basco as normas em breve irão fazer parte de uma nova lei da habitabilidade, ou seja, vão passar a ser obrigatórias na nova construção.

A autoria das orientações é de uma especialista em igualdade de género (definida pela UNESCO) da Universidade Politécnica de Madrid, Inés Sánchez de Madariaga, e de uma Professora de Urbanismo na Escola de Arquitetura da Politècnica de València, Inés Novella. Esta última disse ao El Mundo que não está em causa “não é uma lista de receitas, mas é verdade que queremos fazer alterações aplicando uma perspetiva de género. A arquitetura é mais um dos tijolos com que se constrói o edifício do feminismo“.

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“Temos em mente o objetivo de fomentar a co-responsabilidade, porque a incorporação dos homens nas tarefas domésticas e de cuidado familiar está a ser muito mais lenta do que a incorporação das mulheres no mundo do trabalho”, afirma a responsável, garantindo que “a intenção é tornar a vida mais fácil para quem presta os cuidados, seja mulher ou homem, e também beneficiar quem recebe esses cuidados”.

Como explicaram as especialistas ao El Mundo, a casa feminista é uma casa adaptável a todo o tipo de realidades familiares e deve ser pensada tendo em conta a maior importância do teletrabalho, no pós-pandemia. Os quartos nunca podem ter menos de 10-12 metros quadrados, conforme as situações, e todos têm de ser iguais – ou seja, não se considera desejável que alguns tenham casa de banho privativa e outros não – para não fomentar “hierarquias” e criar mais flexibilidade na utilização da casa, ao longo dos anos, escreve o jornal.

As casas de banho, além de terem sempre luz natural e ventilação, devem poder ser usadas por mais do que uma pessoa ao mesmo tempo e pelo menos uma das casas de banho na casa deve ter acessibilidades que facilitem a utilização por pessoas com mobilidade reduzida. Também se prevê a construção de uma divisão para funcionar como lavandaria. Uma “casa feminista” deve ter um espaço autónomo de pelo menos três metros quadrados para ter máquinas de lavar e secar, bem como locais para colocar e organizar a roupa.