A Megasa, dona da Siderurgia Nacional com unidades no Seixal e na Maia, foi a primeira grande indústria portuguesa a anunciar a paragem na produção na sequência do agravamento dos preços da energia, em particular do gás natural e da eletricidade. E outras podem seguir o mesmo caminho, se “nada for feito pelas entidades oficiais”, referiu ao Observador fonte oficial da Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Elétrica (APIGCEE).

Siderúrgica portuguesa Megasa suspende produção devido a “aumento radical” dos preços da eletricidade

Apesar de a escalada dos preços estar mais associada ao petróleo e ao gás natural, o problema afeta as indústrias que consomem muita eletricidade e cujos preços estão a ser puxados para cima precisamente pelo gás. “Esta escalada está a inviabilizar a manutenção de produção por parte de algumas empresas com maior exposição ao mercado diário (de eletricidade), o que já conduziu à suspensão da produção da atividade em empresas como a Megasa”.

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“Para além da paragem de produção, existem outros impactos óbvios que se prendem com redução de produção e de vendas, bem como de esmagamento de margens de comercialização”.

Na linha do que Portugal já defendeu junto da Comissão Europeia, a associação que integra empresas de cimentos, papel e químicas, pede a suspensão do mecanismo de fixação dos preços da energia elétrica que usa o gás como a tecnologia que fecha o preço de toda a energia comprada numa determinada hora. “É urgente criar um mecanismo que retire de alguma forma as centrais a gás natural dos mecanismos de formação de preço, sem naturalmente retirar do mercado a capacidade de produção destas centrais”.

Mas esta é uma medida que só a Comissão Europeia pode autorizar e que terá de ser consensualizada pelos vários países que foram os mercados regionais de eletricidade, como já assinalou ao Observador fonte oficial do Ministério do Ambiente e Ação Climática.

O ministro Matos Fernandes já anunciou a transferência de 150 milhões de euros adicionais do Fundo Ambiental para baixar ainda mais as tarifas de acesso à rede pagas pelas empresas e assim compensar o aumento da componente da energia. Mas a APIGCEE considera que os “atuais níveis de preço pulverizaram as reduções as tarifas de acesso às redes para 2022, um dos apoios anteriormente anunciados”.

A nova medida para baixar tarifas, tais como outras sinalizadas pelo Governo, ainda não estão no terreno. No primeiro caso é preciso que a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) faça a revisão tarifária do segundo trimestre. Em outros dos apoios referidos, como subsídios ao preço do gás, será preciso que a Comissão Europeia dê luz verde no quadro do regime das ajudas de Estado,

E pede medidas inspiradas no que fez a França que impôs as suas centrais nucleares (que produzem a custos mais baixos) a venda se 25% da sua produção a um preço regulado de 42 euros por MW/hora a novos comercializadores, medida que “teve um efeito muito positivo na redução do preço da energia elétrica”. A Megasa revelou ter proposto ao próprio primeiro-ministro um modelo em que o comercializador de último recurso compre uma parte da produção renovável a preços abaixo do mercado para fornecer a indústria que mais energia elétrica consome.