Ao 34.º dia de guerra, subiu para nove o número de altas patentes russas mortas em combate desde o início da invasão: aos nomes de Yakov Ryezantsev, Sergei Sukharev, Oleg Mityaev, Andrei Sukhovetsky, Vitaly Gerasimov e Andrei Kolesnikov juntaram-se nos últimos dias os de Andrey Paly,  Andrey Mordvichev, Yakov Ryezantsev e Denis Kurilo.

As quatro primeiras mortes reportadas eram de majores-generais e vários especialistas apontam, de acordo com a BBC News, que há 20 generais a liderar as operações russas na Ucrânia. Ou seja, se forem verídicas, a Rússia já perdeu um quinto destes oficiais envolvidos na guerra.

O que está a motivar este facto? Não basta dizer que estão no lugar errado à hora errada, crê Rita Konaev da Universidade de Georgetown: “Eu não acho que isto seja um acidente. Um [morto] é um acidente, mas este número é direcionado”, diz a investigadora ao jornal britânico.

A suspeita de Konaev é corroborada por uma fonte próxima do Presidente Zelensky, em declarações ao The Wall Street Journal: a Ucrânia tem uma equipa de inteligência militar encarregue de localizar e atacar os oficiais do exército russo. “Eles procuram generais de alto nível, pilotos, comandantes de artilharia”, assume, acrescentando que “têm todos os seus detalhes, nomes”.

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Com um poderio militar inferior, matar comandantes “alimenta a moral da própria Ucrânia. Há o elemento de ser vitorioso. É inspirador”, explica Konaev.

Um combate desigual em todas as frentes. Rússia ataca Ucrânia com “maior poderio militar desde a dissolução da União Soviética”

A localização é crucial quando se fala em alvejar oficiais russos, e tal expõe um problema do Kremlin: as comunicações. Aliás, a notícia da morte do major-general Vitaly Gerasimov foi dada através de um simples telemóvel e, consequentemente, intercetada pelos serviços de inteligência da Ucrânia, como se verá mais adiante. “Se os russos usam telefones ou rádios analógicos para comunicar com oficiais seniores, os ucranianos têm tudo nas suas mãos”, justificou o especialista de defesa da Rochan Consulting, Konrad Muzyka.

Falhas ou não à parte, a pergunta impõe-se: porque é que há altas patentes das forças armadas na linha da frente? Para Elie Tenenbaum, do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), Moscovo “está a pedir aos generais que estejam à frente das tropas e assumam riscos” para compensar uma situação moral difícil.

O investigador pensa que os fortes contingentes militares deslocados para as fronteiras com a Ucrânia não estavam preparados para a guerra o que pode ter levado ao desânimo e à ” provável deserção de militares russos, com veículos abandonados em campo aberto”. À agência de notícias France-Presse (AFP), citada pela rádio France 24, Tenenmbaum diz que só foram avisados que iriam entrar em combate 24 horas antes.

Por sua vez, Rob Lee, especialista em Defesa, sublinha a “tradição” de dar ampla autoridade aos generais, que desempenham “um papel mais pesado” e de “tomada de decisão muito centralizada”, pelo que “não é chocante” estarem na linha da frente, sublinha ao The Wall Street Journal.

Nos últimos anos, houve uma grande mudança para forçar os comandantes de batalhão a pensar de forma autónoma, com liberdade para tomar decisões”, revela Muzyka. “Mas isto foi introduzido apenas há três anos, então talvez ainda não tenha tido um efeito adequado nos seus desempenhos”.

Os detalhes das circunstâncias das mortes dos generais não são claros e obter factos sólidos do que acontece no terreno é complicado. Acredita-se que morreram na linha de frente, porém não necessariamente, salvaguarda Konaev: “Eles podiam estar de passagem ou a analisar as linhas de reabastecimento, por exemplo”.

No entanto,  alerta Elie Tenenbaum, a importância estratégica da morte destes generais não deve sobrestimada, já que as funções desempenhadas por alguém como Gerasimov, por exemplo, podem ser facilmente assumidas por figuras de patente mais baixa. Mas, claro, as suas mortes “atingem a Rússia, na mesma”.

As altas patentes mortas até hoje

Andrei Sukhovetsky, a primeira baixa de peso no exército russo Units of Russian mountain air assault division hold exercise in Crimea

O experiente major-general Andrei Sukhovetsky, que comandava a 7ª Divisão Aérea, foi morto em combate na Ucrânia a 3 de março e, segundo o The Independent, que cita uma fonte militar, por um sniper. Tinha 47 anos. Ao contrário das restantes mortes, a de Sukhovetsky foi noticiada nos jornais russos e confirmada pelo Presidente russo.

Primeira baixa de peso no exército russo: major-general morreu em combate durante a invasão

Aquando da primeira baixa de peso, vários especialistas interpretaram-na como um mau sinal para os planos de Putin e uma fonte de desmotivação para o exército russo, tal como Christo Grozev, diretor-executivo do site de jornalismo de investigação Bellingcat.

Sukhovetsky começou o serviço militar como comandante de pelotão depois de se formar numa academia militar da Força Aérea e progrediu nas fileiras para assumir uma série de posições de liderança ao longo dos últimos anos. Participou, inclusivamente, na campanha militar russa na Síria e na Crimeira, e era ainda comandante adjunto do 41.º Exército Combinado de Armas.

Vitaly Gerasimov, medalhado pela anexação da Crimeia, é o segundo general a morrer em solo ucraniano

O major-general Vitaly Gerasimov, primeiro vice-comandante do 41.º exército do Distrito Militar Central da Rússia, foi a segunda baixa de peso, a 7 de março, nos arredores da cidade de Kharkiv, uma das cidades mais pressionadas pela ofensiva de Moscovo. A informação foi avançada por fontes ucranianas.

Respeitado veterano de guerra do exército russo, envolveu-se na segunda guerra da Chechénia, na guerra na Síria e na anexação da Crimeia em 2014 — tanto que foi galardoado com uma medalha de honra pelos feitos na região.

A comunicação da morte de Gerasimov por um oficial do FSB (Serviço Federal de Segurança russo) colocou a nu os problemas de comunicação das tropas russas: usou um telemóvel com um cartão SIM normal, dispositivo facilmente intercetado pelos serviços secretos ucranianos, conta Christo Grozev.

O jornalista do Bellingcat identificou que do outro lado da linha estava Dmitry Shevchenko, um oficial sénior do FSB que se encontrava em Tula, cidade a quase 600 km de Kharkiv. Quando ouviu a notícia através de um telemóvel civil, Shevchenko fez uma “pausa longa” e atirou um palavrão.

Na chamada, o subordinado questionou se podiam falar através do “Era” – um sistema de comunicação militar criptografado introduzido pelo Kremlin no ano passado e que prometia funcionar “em quaisquer condições” de combate.

Contudo, o “Era” não estava funcional, e a culpa era dos “idiotas” russos que destruíram várias torres de telecomunicações 3G em Kharkiv — o sistema Era precisa de precisa de rede 3G ou 4G para funcionar. “O exército russo está equipado com telemóveis seguros que não funcionam nas áreas onde o exército russo está a operar”, pormenorizou Grozev.

Andrei Kolesnikov morreu a 11 de março, em circunstâncias ainda desconhecidas

O major-general Andrei Kolesnikov, comandante do 29º Exército Combinado de Armas, morreu a 11 de março, avançaram fontes ucranianas. Tinha 45 anos — nasceu a 6 de fevereiro de 1977, em Oktyabrskye (Rússia).

As circunstâncias da morte não foram reveladas até à publicação deste artigo.

Oleg Mityaev, 46 anos, morto pelo Batalhão Azov

O major-general Oleg Mityaev, que comandava a 150.ª divisão de fuzileiros motorizados russa — unidade formada em 2016 e na região de Rostov, perto da fronteira com a Ucrânia — foi morto pelo Batalhão Azov esta terça-feira, nos arredores da cidade de Mariupol. Tinha 46 anos.

Até agora sem confirmação oficial da Rússia, o conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Gerashchenko, publicou uma foto que disse ser de Mityaev, de 46 anos, no Telegram.

Kiev diz que quarta alta patente do exército russo morreu em combate

Morreu um comandante de elite dos paraquedistas, o coronel russo Sergei Sukharev

O coronel e comandante do 331º Regimento de Paraquedistas das forças militares russas, Sergei Sukharev, morreu em combate na Ucrânia. A notícia é avançada esta sexta-feira pelo Ministério da Defesa ucraniano.

Sobre a sua carreira militar, Sukharev participou na “Batalha de Ilovaysk em 2014, onde cometeu um crime de guerra”, como se lê na publicação.

A morte anunciada pelo lado ucraniano de mais um tenente-general

Ao 25º dia, mais uma morte de relevo no exército russo, pelo menos de acordo com o que anunciam fontes oficiais ucranianas. No Twitter, as Forças Armadas da Ucrânia anunciaram a morte do tenente-general russo Andrey Mordvichev, que comandava o oitavo esquadrão de armas combinadas (uma forma de combate que combina várias armas, integrando, por exemplo, infantaria e forças aéreas).

A morte, segundo as informações do lado ucraniano — como frisam meios internacionais como a Forbes e o Independent, não confirmada pelos russos ou por fontes independentes — terá acontecido perto do aeroporto de Kherson.

Como recorda a Forbes, o exército ucraniano já tinha destruído um posto de comando usado por aquele esquadrão, informava na sexta-feira um conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky, segundo a Interfax Ucrânia. Com a informação da morte de Mordvichev, voltou a ganhar relevo na imprensa internacional a ideia de que a Ucrânia está focada em procurar especificamente altas patentes russas para causar danos, no terreno e na moral, ao exército inimigo.

Segundo um post das Forças Armadas ucranianas que o Independent cita, na sequência da morte do tenente-general, “e com base no facto de que o inimigo tem sofrido perdas humanas importantes, é provável que o exército russo e a liderança política decidam… prolongar a duração da guerra“.

O vice-comandante cuja morte a Rússia já reconheceu

A sexta morte já foi, por sua vez, confirmada pela própria Rússia. Trata-se do vice-comandante da frota russa no Mar Negro, o capitão Andrey Paly.

Se a notícia da morte de Andrey Paly na cidade portuária de Mariupol, uma das principais frentes de combate da guerra e uma das cidades que a Rússia está a atacar de forma mais insistente, já tinha sido avançada pela Ucrânia, este domingo a Rússia confirmou a notícia, como cita a BBC.

A informação partiu de um dirigente da academia naval de Nakhimov, Konstantin Tsarenko, na rede social russa Vkontatke. Depois disso, como cita também a BBC, um senador russo confirmou na mesma rede social a “perda pesada, irreparável” da Rússia, afirmando que Paly “morreu nas batalhas pela libertação de Mariupol dos nazis”. Esse é, de resto, um dos argumentos principais que Vladimir Putin está a usar para justificar a invasão da Ucrânia — no exército ucraniano existem batalhões de extrema-direita, sendo o mais conhecido o batalhão Azov, mas a nível institucional a extrema-direita não tem representação no Parlamento do país, tendo obtido apenas 2,15% dos votos nas últimas eleições.

Segundo o jornal online russo Pravda, Paliy nasceu em Kiev, em 1971, e chegou a ser comandante no exército ucraniano no início da sua carreira militar. Em 2019, foi nomeado vice-comandante da frota do Mar Negro para “trabalho político e militar” e em 2020 tornou-se vice-comandante das Forças Armadas russas na Síria.

Um mês depois do início da invasão, o general Yakov Ryezantsev morre

Na sexta-feira, dia 25 de março, o conselheiro do Presidente ucraniano, Oleksiy Arestovych, confirmava a morte de mais um general russo. Yakov Ryezantsev morreu em Chornobaivka, em Kherson, um local de intensos combates.

Rússia perde mais um coronel, é a nona morte de altas patentes na Ucrânia: Denis Kurilo, da brigada que invadiu a Finlândia em 1944

O coronel Denis Kurilo, que comandava a 200ª Brigada de Fuzileiros Motorizados, morreu a combater perto de Kharkiv, avançou esta terça-feira o Ministério da Defesa da Ucrânia.

Esta unidade de elite participou na invasão da Finlândia em 1944 e na da Crimeia em 2014, segundo recordou o membro da comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros da Estónia, Eerik Kross, no Twitter.

Notícia atualizada a 30 de março, às 10h20 com a morte do coronel Denis Kurilo.