A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) considerou esta sexta-feira preocupante o aumento das mortes por tuberculose na Europa, mas lembra que estes dados devem ser “contextualizados e interpretados” e aponta o atraso no diagnóstico por casa da pandemia de Covid-19.
Em comunicado, a SPP explica que a demora na procura de cuidados de saúde pela população e as dificuldades de acesso a estes serviços por causa da pandemia desempenham um importante papel neste atraso do diagnóstico, que “condiciona formas mais graves de doença”.
Segundo o relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado na quinta-feira, a tuberculose causou cerca 21 mil mortes na região europeia da OMS em 2020, o primeiro aumento de óbitos registado em mais de duas décadas.
Na nota, a Comissão de Trabalho de Tuberculose da SPP, além do atraso no diagnóstico, lembra que “a tuberculose pode infetar qualquer pessoa, mas principalmente os mais vulneráveis, com múltiplas comorbilidades (DPOC, diabetes, neoplasia, VIH, entre outras) e extremos das faixas etárias, que apresentam maior risco de doença grave”.
Recorda ainda os dados nacionais relativos a 2020, divulgados este mês pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que apontam igualmente para um aumento da mortalidade (8% – 94 casos, 7% em 2019), frisando que “a totalidade dos doentes em que ocorreu o óbito apresentavam fatores de risco ou comorbilidades”
O relatório divulgado este mês pela DGS aponta igualmente para um atraso do diagnóstico de tuberculose em Portugal, situando-se atualmente nos 80 dias.
“Este atraso condiciona não só formas de apresentação da doença mais graves na altura do diagnóstico e, portanto, com mais sequelas, como uma maior disseminação da doença na comunidade“, sublinha a SPP.
O Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal relativo a 2020 dizia igualmente que a taxa de notificação de tuberculose baixou de forma significativa no primeiro ano da pandemia e que as autoridades esperam um crescimento do número de casos nos anos seguintes.
Em declarações à agência Lusa aquando da divulgação deste relatório, a responsável pelo Programa Nacional para a Tuberculose, Isabel Carvalho, reconheceu que a mediana de dias até ao diagnóstico “tem vindo a aumentar paulatinamente” e disse que 2/3 desses dias são atribuídos ao doente na procura de cuidados de saúde – dificultada pela pandemia – e na valorização de sintomas.
Considerou ainda que vai existir sempre uma conjugação de fatores a influenciar o atraso no diagnóstico, exemplificando: “por um lado, a menor literacia da população em relação a tuberculose, à medida que a doença vai baixando a sua incidência, por outro, a dificuldade no acesso, sobretudo em populações vulneráveis, como os sem-abrigo ou os migrantes”.
No ano em que a pandemia chegou a Portugal foram notificados 1.465 casos de tuberculose, menos 383 do que em 2019.