O bastonário da Ordem dos Médicos defende que é preciso fazer alterações nos cursos de medicina e nas especialidades para no futuro ter uma resposta adequada às necessidades da população, uma discussão que decorrerá no Congresso Nacional em Lisboa.

“Se eu quiser estar preparado para daqui a uns anos dar a resposta que os cidadãos precisam, tenho de fazer alterações nos cursos de medicina já, nas especialidades já“, disse Miguel Guimarães, sublinhando que no Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, que decorre no fim de semana em Lisboa, vão estar “pessoas que pensam fora da caixa”.

“Vamos ter pessoas que pensam de forma diferente: da área da engenharia, da física, médicos, naturalmente, e também biólogos e pessoas de várias áreas diferentes”, explicou.

“Cenários para 2040 — A medicina no tempo pós-Covid-19” é o tema do encontro que até domingo junta na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa especialistas de diversas áreas para discutir o que se aprendeu com a pandemia, as macrotendências até 2040, a necessidade de redesenhar os serviços de saúde para melhorar o acesso e a prestação de cuidados e a transformação digital da saúde.

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Os médicos vão homenagear o neurocientista António Damásio e a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, num encontro que decorre quando passam dois anos da pandemia em Portugal e em que se pretende debater as lições que se podem tirar das mudanças a que o Serviço Nacional de Saúde foi forçado.

“Além das coisas que temos de corrigir já, como a questão de haver um médico de família para cada cidadão, temos de pensar mais longe em várias coisas que precisam de ser mudadas”, disse o bastonário, dando o exemplo do serviço de urgência, que “continua a funcionar como há 20 ou 30 anos atrás”.

Defendeu que é preciso repensar a forma como os hospitais funcionam, sobretudo ao nível da urgência: “Não faz sentido que numa urgência, em que vou tratar casos muito graves, tenha 50% de doentes que não são casos graves. Mas também é verdade que muitos doentes não têm alternativa”.

Miguel Guimarães disse também que “é preciso fazer literacia e educar as pessoas para que percebam o que é uma situação aguda urgente e uma situação aguda não urgente” e ter, a montante, resposta ao nível dos cuidados de saúde primários.

“Se não tiverem [esta resposta], onde vão os doentes?”, questionou.

O bastonário da Ordem dos Médicos espera que no congresso surjam propostas nas várias áreas, sublinha que as urgências são o “ponto crucial do Serviço Nacional de Saúde” e adiantou que no final serão feitas recomendações para enviar ao Governo.

“Queremos deixar as propostas escritas, como recomendações para o novo governo. Esperemos que o Ministério da Saúde e tenha uma atitude diferente da que tem tido até agora”, afirmou.