Maria Vorontsova e Katerina Tikhonova, as filhas de Vladimir Putin, são dois dos mais recentes alvos de sanções dos Estados Unidos, esperando-se ainda uma decisão idêntica por parte da União Europeia. Do congelamento de bens até à proibição de importar carvão russo, as medidas procuram atingir não só políticos, empresários ou funcionários oficiais, também através das suas famílias. O porta-voz do Kremlin, porém, recusou comentar estas sanções, avança a agência TASS.
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Do outro lado do Atlântico, serão retiradas do sistema financeiro os seus ativos congelados, já em espaço europeu o alcance de possíveis sanções ainda não é conhecido. E começam a perceber-se as razões para a decisão: a ideia não será atingir as próprias filhas de Putin, mas antes chegar de forma mais eficaz aos bens do presidente russo.
Isso mesmo explicou um responsável norte-americano à BBC: “Temos razões para acreditar que Putin, e muitos dos seus comparsas, e os oligarcas, escondem a sua riqueza, os seus bens, com membros da família que colocam essa riqueza e esses bens no sistema financeiro norte-americano, assim como em muitas outras partes do mundo”.
Apesar do interesse internacional, Putin sempre tentou manter discrição sobre a sua vida privada e a identidade das filhas. A razão? “Uma questão de segurança e o desejo de permanecer anónimo, para que os seus entes queridos possam ter uma vida normal”, relatava a agência TASS em 2020, citada pela Newsweek.
Foi, no entanto, do conhecimento público o casamento de Putin com Lyudmila Shkrebneva, uma ex-assistente de bordo, entre 1983 e 2013. Maria Vorontsova e Katerina Tikhonova são fruto desta relação, que durou 30 anos.
A primogénita Maria Vorontsova terá nascido em abril de 1985 em Leninegrado, atual São Petersburgo. Em agosto de 1986, já na Alemanha, quando a família para lá se mudou devido ao trabalho de Putin como agente do KGB, terá nascido Katerina Tikhonova. Tal como aconteceu com as filhas de George W. Bush, Barbara e Jenna, ambas receberam o nome em homenagem às avós.
Acredita-se que a família voltou a Moscovo em 1996, tendo as duas andado na escola até Putin se tornar Presidente interino e, aí, passaram a ter aulas em casa. Segundo a biografia de Lyudmila, revelada pela ABC News, o pai sempre foi carinhoso com as filhas e sempre as mimou, enquanto a mãe tinha a seu cargo a disciplina de ambas. Ternura à parte, a verdade é que o político de 69 anos não menciona sequer o nome das filhas em público.
Sobre o percurso académico, Maria, de 36 anos, estudou Biologia e frequentou a faculdade de Medicina em Moscovo, onde é investigadora e lidera uma iniciativa russa de inteligência artificial. A sua carreira enfrenta, contudo, momentos conturbados. Com a invasão das tropas russas à Ucrânia, foi obrigada a desistir do seu projeto empreendedor — “uma clínica de elite para estrangeiros super ricos na Rússia”.
Por sua vez, Katerina, com 35 anos, licenciou-se em Estudos Asiáticos e é vice-diretora do Instituto de Pesquisa Matemática de Sistemas Complexos da Universidade Estadual de Moscovo. A antiga dançarina acrobática é a mais mediática das irmãs e, em junho de 2021, por videoconferência, compareceu no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo — o equivalente no país ao Fórum Económico Mundial, em Davos. O silêncio sobre o grau de parentesco com Putin, como em todas as ocasiões, manteve-se, exceto a referência do moderador ao seu primeiro nome e patronímico: Katerina Vladimirovna, como contava o The Washington Post na altura.
Voltou a ser notícia a 14 de março quando um ativista, Pierre Afner, invadiu a mansão — com oito quartos e três casas de banho — que lhe pertence em Biarritz, França, trocou as fechaduras e declarou que a propriedade “está preparada” para receber refugiados ucranianos.
French activist breaks into Putin's daughter's tacky villa in Biarritz, France, changes the locks and announces that it will now be used to house Ukrainian refugees instead. pic.twitter.com/M72jtKVfQ2
— Visegrád 24 (@visegrad24) March 14, 2022
Ambas são divorciadas — a cientista é separada de Jorrit Faassen, um empresário holandês. Já Tikhonova foi casada com o bilionário mais jovem da Rússia, Kirill Shamalov, mas, tal como a irmã, divorciou-se em 2018 — neste último caso a relação durou cinco anos.
Nem sob pressão. As fugas de Putin à confirmação da identidade das filhas
Uma reportagem da Reuters em 2015 trouxe à tona o nome de Katerina e, numa conferência de imprensa nesse mesmo ano, Putin foi questionado sobre a veracidade da peça. Nada confirmou, porém garantiu que as suas filhas “não estão envolvidas em negócios ou em política”.
“As minhas filhas vivem na Rússia e estudaram apenas na Rússia. Estou orgulhoso delas”, assumiu, citado pelo The Washington Post. “Falam fluentemente três línguas estrangeiras. Eu nunca falo sobre a minha família com ninguém”. E não perdeu a oportunidade para reiterar a típica posição: “Cada pessoa tem direito ao seu destino, a viver a sua própria vida e a fazê-lo com dignidade”.
A polémica não estagnou e, mais tarde, em 2019, a repórter da BBC, Farida Rustamova, atirou que tanto Tikhonova como Vorontsova estavam a aumentar a presença no cenário empresarial russo — e a desculpa de 2015 do autocrata desmoronou-se.
Os seus velhos amigos, gestores de empresas do Estado, estão a ajudar estas duas mulheres nas operações comerciais. Podemos ver que os canais de televisão começaram a mostrá-las frequentemente. Este é um segredo aberto“, disse a jornalista, questionando: “Aqui está a minha pergunta: diga-me, por favor, quando é que admitirá que elas são suas filhas e quando se irão abrir à sociedade, tal como as filhas dos outros líderes mundiais”.
Em resposta, Putin referiu-se às filhas como meras mulheres. “Mencionou uma mulher, mencionou outra. Acabou de expor alguns factos. Não é suficiente. Pesquise um pouco mais”, reagiu.
Só em 2020, contra a sua reserva permanente, anunciou que uma das suas filhas, sem especificar qual, recebeu uma dose da vacina Sputnik V. “Ela participou na experiência”, admitiu, afirmando que a filha teve um pouco de febre “e foi tudo”. Mesmo assim, o Presidente não deixa de detestar intrusões na sua vida pessoal: “Tenho uma vida privada na qual não permito interferência. Deve ser respeitada”, já terá dito.