A Rússia atacou a Suécia com a divulgação de vários pósteres nas ruas de Moscovo em que acusa alguns dos nomes mais importantes e conhecidos da História sueca de serem “nazis”. A lista de personalidades incluía a autora da coleção de livros infantis “Pipi das Meias Altas”, Astrid Lindgren, o realizador Ingmar Bergman e ainda o fundador do IKEA, Ingvar Kamprad.
As part of Russia's anti-Swedish propaganda campaign, they have labeled Astrid Lindgren – one of Sweden's most beloved children's authors – as a Nazi. This is particularly unhinged, seeing as she explicitly despised Nazism and all forms of nationalism pic.twitter.com/4qpgaTAflL
— Hugo Kaaman (@HKaaman) May 3, 2022
Magdalena Andersson, a primeira-ministra sueca, já reagiu à divulgação dos pósteres, considerando-os “completamente inaceitáveis”. Por sua vez, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-primeiro-ministro Carl Bildt deixou no ar que o Kremlin pode estar a “preparar uma operação de desnazificação na Suécia”. Recorde-se que o Kremlin justificou a invasão da Ucrânia com a necessidade de retirar neonazis do poder em Kiev.
Now there is a publicity campaign in Moscow ???????? saying that ???????? is a country of Nazis. Are there any limits to these guys? Or are they preparing a ”denazifying” operation against ???????? as well? I think this will further solidify support for ???????? joining @NATO. pic.twitter.com/n7RHJQRDjd
— Carl Bildt (@carlbildt) May 3, 2022
Esta manobra de propaganda criada pela Rússia — destinada a atingir a credibilidade da Suécia — baseia-se em meias verdades, de acordo com o jornal sueco The Local. Plasmado no cartaz está, por exemplo, um desabafo da escritora Astrid Lindgred num dos seus diários, em que esta dava conta de que preferia dizer “Heil Hilter durante toda a minha vida” do que sofrer uma invasão russa: “Dificilmente se pode imaginar alguma coisa pior”.
No entanto, a escritora sueca também escreveu que Hitler era “um pequeno artesão alemão” que se tornou no “Messias do seu povo e um destruidor da cultura”.
Por seu turno, as acusações de nazismo de Ingmar Bergman baseiam-se num episódio relatado no livro de memórias do próprio: o realizador lembra um episódio de intercâmbio com um estudante alemão, tendo ido a um dos comícios de Adolf Hitler. “Nunca vi nada assim como esta erupção de uma imensa energia. Gritei como todos, levantei o meu braço como todos e amei [estar lá] como todos.”
Contudo, o realizador diz, na mesma obra, que — quando teve conhecimento dos campos de concentração nazis —, “ficou desesperado” e sem reação, tendo até duvidado dessa informação.
Relativamente ao fundador do IKEA, a Rússia também divulgou declarações de quando Ingvar Kamprad era jovem e em que este admitia que era “nazi” e que “admirava Hitler”. Mais tarde, ter-se-á arrependido desta fase da juventude, alegando que havia sido o “maior erro da sua vida”.
De recordar que a Rússia já ameaçou com “consequências político-militares” caso a Suécia decidir entrar na NATO. Além disso, no início de março, quatro caças russos sobrevoaram o espaço aéreo sueco.
Notícia corrigida as 12h47