Donald Trump propôs o lançamento de mísseis para o México “para destruir os laboratórios de drogas, silenciosamente” e aniquilar os cartéis, de acordo com o novo livro de memórias do ex-secretário de Defesa, Mark Esper, intitulado A Sacred Oath (Um juramento sagrado, na tradução para português), que será publicado a 10 de maio nos Estados Unidos da América.
O envolvimento dos EUA no ataque ao México poderia ser mantido em segredo, sugeriu o 45.º Presidente norte-americano, de acordo com o The New York Times. “Eles [dirigentes mexicanos] não controlam o próprio país”, afirmou e, após Esper levantar várias objeções à proposta de disparar mísseis Patriot, Trump respondeu: “Ninguém saberia que fomos nós”. Como? O líder simplesmente negaria qualquer responsabilidade. Se não estivesse a encarar Trump nos olhos, escreve Esper, pensaria que a ideia fosse apenas uma piada.
Ele [Donald Trump] é uma pessoa sem princípios que, dado o seu interesse próprio, não deveria estar numa posição de serviço público“.
O antigo secretário de Defesa destaca igualmente que Trump estava rodeado de influências com atitudes “erráticas ou perigosas”, segundo o jornal norte-americano. Uma delas era o conselheiro sénior para os assuntos políticos, Stephen Miller, que recomendou o envio de 250 mil tropas para a fronteira com o México.
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Miller propôs ainda decapitar Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do grupo jihadista Estado Islâmico morto por uma unidade de elite do exército norte-americano no noroeste da Síria, em 2019. E foi mais longe: a cabeça do extremista islâmico deveria ser mergulhada em sangue de porco e exibida como um aviso a outros terroristas.
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O escritor de A Sacred Oath terá dito a Miller que tal ato representaria um “crime de guerra”. Ao The New York Times, o conselheiro negou o episódio e apelidou Esper de “idiota”.
Esper conta ainda, que no verão de 2020, quando os Estados Unidos estavam envoltos em protestos por justiça racial, após a morte de George Floyd, Donald Trump admitiu a possibilidade de alvejar as pernas dos manifestantes. “Vocês não podem simplesmente disparar? Atirem nas pernas deles ou algo assim”, detalha Mark Esper assim a irritação do então Presidente no Salão Oval.
Trump pediu que se disparasse para pernas de manifestantes, revela livro
“A boa notícia: não foi uma decisão difícil” não seguir a ideia lançada pelo Presidente republicano, diz Esper. “O mau: eu tive que fazer Trump recuar sem que se criasse a confusão que eu estava a tentar evitar”, lê-se num extrato do livro publicado pelo portal de notícias Axios.
Já o The Guardian, pormenoriza como Trump reagiu quando o general Mark Milley explicou que não tinha poderes para corresponder ao seu pedido: “Vocês são todos a porra de uns falhados”.
A frase do ex-Presidente chocou Esper:
Esta não foi a primeira vez que eu o ouvi usar este género de linguagem, mas não com tanta raiva, e nunca direcionada a pessoas [que estavam] numa sala com ele, muito menos a [William] Barr [procurador-geral], Milley e eu”.
O vice-presidente Mike Pence “que estava sentado em silêncio, imperturbável” também era alvo dos “insultos sujos” e do “veneno”, faz questão de salientar Esper. Trump estava “à espera, ao que parecia, que um de nós cedesse e simplesmente concordasse. Isso não ia acontecer”.
Na perspetiva do (polémico) líder, nenhum membro da sua equipa tinha “espinha dorsal para enfrentar a violência”, ironizando que todos os presentes no Salão Oval gostavam de ver cidadãos “a incendiar as cidades”, continua o autor do livro.
O The Guardian e o The New York Times tentaram obter declarações de Donald Trump sobre o conteúdo de A Sacred Oath, mas sem sucesso.