Tão italiana quanto as concorrentes Ferrari e Lamborghini, a Maserati, que se bateu em pista na Fórmula 1 dos anos 50 com a marca do Cavallino Rampante, com Fangio ao volante, nunca conseguiu rivalizar com as suas conterrâneas e rivais em modelos de série. Em parte, porque se dedicou a modelos de GranTurismo, com mais ênfase no luxo do que na performance pura e dura, mas a realidade é que sempre acusou um certo déficit de potência. Isso está em vias de acabar, uma vez que o construtor do grupo Stellantis vai mostrar ainda este ano, para começar a entregar em 2023, o Folgore, o seu primeiro GT com 1200 cv, bem acima do que os seus rivais oferecem.

Durante anos, a Maserati marcou passo, sem os recursos necessários para investir na sua modernização e evolução. Mas com a criação da Stellantis foi aberta a porta para novos voos e o construtor italiano, que alia luxo e carácter desportivo, está decidido a mostrar o que vale. A oportunidade para este salto em frente foi fomentada por uma aposta clara na electrificação, aproveitando esta nova tecnologia para ultrapassar a concorrência, não só as míticas Ferrari e Lamborghini, mas sobretudo batendo os rivais directos que também perseguem luxo e emoção ao volante, como os Audi RS, BMW M, Mercedes-AMG ou a Porsche.

Folgore é a palavra-chave

Quase em simultâneo com a revelação do novo Grecale, o SUV mais pequeno do que o Levante que promete tornar-se o best-seller do construtor italiano, a Maserati revelou o que podemos esperar da marca do tridente em matéria de electrificação. Anunciando que, em 2025, todos os seus modelos vão oferecer uma versão 100% eléctrica, estratégia que vai dar já os primeiros passos já em 2023, com a chegada do SUV Grecale e do GranTurismo alimentados por bateria, a Maserati deu outro salto em frente ao garantir que, a partir de 2030, só produzirá modelos eléctricos. Sendo que a mensagem para o mercado consiste em apostar primeiro em força nos veículos a bateria para conquistar a liderança.

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Para a gama futura, a Maserati estará a contar com as novas plataformas da Stellantis concebidas especificamente para modelos eléctricos, as STLA, com a Maserati a necessitar das STLA Medium e STLA Large, as mais adaptadas à sua gama. Mas isso não acontecerá antes de 2024/2025, pelo que até lá vai começar a trabalhar com os modelos que possam instalar motores eléctricos e a combustão, à semelhança da BMW e da Mercedes, mas a um nível muito superior.

Maserati regressa à competição no Mundial de Fórmula E

O primeiro Maserati 100% eléctrico será o GranTurismo Folgore, sendo esta a denominação das versões eléctricas da marca transalpina. A plataforma será nova, do tipo multienergia, mas os italianos quiseram certificar-se que todos os trunfos estavam do seu lado. Assim, a entrada de leão nos eléctricos vai realizar-se em simultâneo com a participação na Fórmula E, de onde obviamente vão retirar conhecimentos para aplicar nos modelos de estrada. Contudo, não está previsto o recurso à tecnologia da Rimac, a empresa croata que fornece meio mundo, uma vez que o logotipo do tridente não figura entre a lista de clientes no site dos croatas.

1200 cv, 305 km/h e 0-100 em menos de 3 segundos

O novo GranTurismo Folgore já apareceu a rodar, tendo a Maserati aproveitado para publicar nas suas redes sociais fotos do CEO da Stellantis, o português Carlos Tavares – recentemente distinguido com o prémio Liderança pelo Observador –, grande amante de automóveis e de competição, com o gestor a aparentemente gostar do que sentiu ao volante. O primeiro dos Folgore tem instalado um sistema eléctrico a 800V, o que permite carregar a uma potência superior, poupando tempo neste processo, sem esforçar (aquecendo) tanto a bateria, cuja capacidade permanece uma incógnita.

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Apesar de se desconhecer se vai montar dois ou três motores, a Maserati avança que com motores repartidos pelos dois eixos, “a potência total será superior a 1200 cv”, o que deixa antever performances entusiasmantes e nunca vistas num Maserati. Daí que o construtor anuncie uma velocidade máxima de 305 km/h, muito respeitável para um desportivo eléctrico (o Porsche Taycan, por exemplo, não passa dos 260 km/h), para depois prometer a capacidade de ir de “0-100 km/h em menos de 3 segundos”.

Além deste GranTurismo Folgore, a tecnologia eléctrica vai igualmente chegar ao Grecale, GranCabrio, Quattroporte e Levante, restando conhecer o nível de potência que a Maserati pretende instalar. O mais provável, contudo, é que surjam várias versões, com packs de baterias de diferentes capacidades e motorizações com distintos níveis de potência.

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Quem deverá anunciar um débito igual ou superior aos 1200 cv será o superdesportivo MC20, que possui na versão a gasolina um V6 biturbo com 620 cv, unidade motriz que também será montada na versão com motor de combustão do GranTurismo. O objectivo da marca do tridente será nivelá-lo pelos melhores do segmento, pelo que só faz sentido ultrapassar os 1200 cv neste coupé de dois lugares, o mais desportivo da Maserati.

Com estes desportivos e coupés eléctricos, a Maserati prepara-se para dar um salto qualitativo importante, conseguindo ainda saltar para a liderança numa nova tecnologia, entre os construtores tradicionais. Com os “mais de 1200 cv” do coupé de quatro lugares GranTurismo, a Maserati ultrapassa, mesmo que momentaneamente, a Ferrari (cujo modelo mais potente é o SF90, com 1000 cv, valor é atingido com recurso a um sistema PHEV, uma vez que o motor de combustão se fica pelos 780 cv) e a Lamborghini (o seu modelo de ponta é o Aventador SVJ, com um V12 atmosférico com 770 cv). Sendo certo que estes fabricantes míticos irão surgir, mais cedo ou mais tarde, com modelos eléctricos e electrificados com potências superiores, fazendo justiça à sua reputação. Já em relação aos Audi RS, BMW M, Mercedes-AMG e Porsche, a evolução das respectivas potências deverá ser mais lenta e menos “generosa”.