A menos de uma semana das eleições internas no PSD, Luís Marques Mendes, no habitual comentário no Jornal da Noite, da SIC, antecipou que o próximo líder social-democrata não terá uma vida fácil nos próximos anos. Porém, está crente de que haverá uma “oportunidade” para aquele que ficar à frente do partido, nomeadamente por considerar que o Governo vai acusar “desgaste” durante esses anos.

“A vida do novo líder do PSD, por um lado, vai ser um inferno, por outro lado, vai ser uma grande oportunidade“, começou por afirmar o ex-líder do PSD, explicando que será “um inferno porque o novo líder, seja ele qual for, não vai ter lugar na AR, [e isso] é uma dificuldade”. Mas Marques Mendes antecipou mais problemas: “Antes, o PSD tinha apenas um partido à sua direita — o CDS e relativamente estável —, agora tem dois [Chega e IL] e em crescente. Esta fragmentação na área do centro-direita é uma dificuldade.”

Luís Marques Mendes lembrou ainda que “o PSD está na oposição há sete anos e com a maioria absoluta serão dez anos e meio ou 11 anos” para dizer que isso “desmobiliza, desertifica e é aquilo que torna a vida do próximo líder num inferno”. Porém, o ex-líder social-democrata disse que este contexto é também uma “oportunidade” porque se “espera que finalmente o PSD venha a fazer oposição” e porque “o Governo vai começar a ter o desgaste e não vai estar sempre em alta”.

“Acho que depois desta eleição o partido vai unir-se, ganhe quem ganhar, o novo líder eleito vai fazer “o rassemblement” e vai “chamar o adversário a colaborar”.

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Marques Mendes acredita que a grande prioridade deve ser o foco nas eleições Europeias. “O PSD só consegue ganhar eventualmente as eleições em 2026 se ganhar as Europeias em 2024. Tem de apostar tudo nisso”, ressalvou, frisando a necessidade de “angariação de novos quadros” e para “reganhar autoridade política”, já que “o PSD nos últimos anos passou a ser um partido pouco relevante, em grande medida porque não se deu ao respeito e não foi respeitado”.

As críticas aos “porta-vozes” Marcelo e Costa

Luís Marques Mendes considera que não é bom para a democracia que Presidente da República e primeiro-ministro funcionem como porta-vozes um do outro. O ex-presidente do PSD aponta esse como o ponto menos positivo da visita de António Costa a Kiev, na Ucrânia, onde esteve reunido com Volodymyr Zelensky.

“Eu preferia não ter visto o Presidente da República a antecipar o anúncio da ida do primeiro-ministro a Kiev. Como também teria preferido que António Costa não anunciasse publicamente o convite que o Presidente Zelensky fez a Marcelo Rebelo de Sousa”, começou por dizer o comentador, argumentando que estamos perante “dois órgãos de soberania distintos” e que “cada coisa” deve estar “no seu sítio“. “Não compete ao Presidente da República ser uma espécie de ‘porta-voz’ da agenda do primeiro-ministro; nem que o primeiro-ministro seja uma espécie de ‘porta-voz’ da agenda do Presidente da República”, reiterou.

Quanto à visita em si, Marques Mendes acredita que “António Costa esteve francamente bem” no que toca à opinião sobre a entrada imediata da Ucrânia na União Europeia”. “Foi franco e foi genuíno. Não foi hipócrita.” O ex-líder social-democrata está certo de que “anda muita gente dentro da UE a mentir à Ucrânia, a enganar, a iludir, a criar falsas expectativas”.

“Há posições radicalmente opostas dentro da UE sobre a entrada da Ucrânia a curto prazo. Os países de Leste querem que a Ucrânia entre rapidamente e há os países da chamada “velha” Europa, com a França à cabeça, que dizem ‘nem pensar’, que [acham] que a Ucrânia podem entrar, mas só daqui a umas décadas”, esclareceu o comentador, que notou uma Europa dividida “quase ao meio” sobre o tema.

No entanto, Marques Mendes elogia a postura de António Costa por acreditar que “não é tempo para criar falsas expectativas”. “Acho que António Costa marcou pontos, mesmo perante o Presidente Zelensky não cedeu à tentação de dizer o mais simpático, disse aquilo que é mais verdadeiro porque sabe bem que as divisões são muito grandes”.

“A realidade é que dentro da UE há muitos políticos que andam a iludir, António Costa falou a verdade”, insistiu.

Num balanço sobre os três meses de guerra, o ex-ministro dos Assuntos Parlamentares lembrou que a guerra começou por ser “uma guerra da Rússia contra a Ucrânia e é hoje uma guerra entre a Rússia e o Ocidente, com um grande apoio dos EUA e da NATO”. “Neste momento o Ocidente acredita na derrota de Putin e quer a derrota de Putin”, explicou, reiterando que “mudou a natureza da guerra” e que “a Ucrânia neste momento não quer negociações de paz porque acredita que pode ganhar a guerra”.

Governo quer passar uma “imagem de diálogo”

Na semana em que se vota o Orçamento do Estado na especialidade, Luís Marques Mendes realçou que “o Governo tem maioria absoluta, mas como não quer ser acusado de prepotente está a dar uma imagem de diálogo” com as negociações que escolheu fazer na fase da especialidade, ao ouvir IL, PSD/Madeira, Livre e PAN.

O ex-ministro antecipou alguns dos pontos em que haverá alterações relativamente à proposta inicial do Governo, desde logo com o acolhimento de “todas as principais reivindicações da Associação Nacional de Municípios Portugueses”, e com o aumento para “o dobro” da capacidade de endividamento das autarquias para obras cofinanciadas pela União Europeia.

O comentador revelou ainda que “o valor de 20 mil euros por escola a transferir para os municípios vai subir para o valor médio de 29.700 euros”, o valor que o Estado paga à Parque Escolar.

Tal como o Observador já tinha noticiado, o Governo vai aceitar “várias exigências” dos deputados do PSD/Madeira, sendo que além da extensão, até 2023, das licenças na Zona Franca da Madeira, estará ainda previsto o apoio à construção ao hospital do Funchal e apoio às garantias da República às dívidas da Madeira.

Já sobre as negociações com Livre e PAN, Marques Mendes realçou que “estão a correr bem” e que poderão levar uma abstenção no Orçamento do Estado. Mais ainda: “As metas do défice e da dívida mantêm-se inalteradas” e “os salários e pensões não terão atualização face à inflação”, realçou o comentador.

Ainda sobre a Covid-19, Luís Marques Mendes referiu que a situação deve levar a “cuidados” como “usar a máscara em locais fechados, com aglomerados de pessoas, perante pessoas mais vulneráveis”. É preciso “lançar uma campanha de recomendação de uso de máscara de forma pedagógica”, sugeriu.

“DGS tem de olhar para a comunicação com mais cuidado. Passámos do oito para o 80 ou do 80 para o oito. Antes tínhamos informação dia a dia, talvez um exagero, agora temos só semana a semana e com dados atrasados”, sublinhou, frisando que pode haver uma forma com divulgações duas vezes por semana, por exemplo.