Campeã mundial e europeia ao Ar Livre, campeã mundial e europeia em Pista Coberta, campeã olímpica. Ainda antes dos 30 anos, Maria Lasitskene já ganhou tudo o que havia para ganhar no atletismo, neste caso no salto em altura. Melhor era impossível. No entanto, a atleta olha sobretudo para aquilo que tem mais para vencer no futuro e não tanto para aquilo que conquistou no passado. E foi por isso que, no atual contexto particularmente delicado para a Rússia no mundo do desporto, decidiu escrever uma carta ao presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, mostrando-se contra as proibições que existem agora devido à invasão da Ucrânia mas que já vinham de trás pelos problemas ligados ao doping.
Very interesting letter from Maria Lasitskene to Thomas Bach, president of the IOC. pic.twitter.com/MKbFRjTmyi
— Paul Hunt (@pahunt1978) June 9, 2022
“Não estou segura que me conheça já que, olhando para as suas últimas declarações e decisões, parece-me que se encontra muito mais perto da política do que dos atletas e do desporto profissional em geral”, começa por apontar Maria Lasitskene, que já ganhou também cinco vezes a prestigiada Liga Diamante.
“Nos últimos sete anos, não tive a possibilidade de estar presente em quatro grandes competições no plano internacional apesar de nunca ter havido qualquer queixa contra mim. Se lhe interessa realmente aquilo que é o destino dos desportistas, não nos deveria obrigar a expressar respeito e tentaria encontrar a união do mundo através do desporto. No entanto, o senhor escolheu uma solução mais simples, que é vetar todos com base na sua cidadania”, apontou a atleta, que falhou por exemplo os Jogos Olímpicos de 2016 e que daí para cá tem ganho quase tudo ou como atleta neutral ou como atleta do Comité Olímpico Russo.
“Nada disto deveria ter nunca acontecido e nenhum argumento me vai convencer do contrário. O público não ama os atletas pelas sua nacionalidade mas sim por aquilo que mostram nas competições. Não foi o facto de vetarem os desportistas russos que fez com que a guerra acabasse, apenas criou uma novela em torno do desporto que agora é impossível deter”, referiu numa carta aberta revelada pela MatchTV onde explica também a sua argumentação para a “revolta” manifestada contra Thomas Bach: já se mostrou contra a invasão da Ucrânia, nunca teve problemas com doping mas continua de fora por ser russa, algo que poderá voltar a acontecer nos próximos Mundiais ao Ar Livre nos EUA, que se realizam em julho.
Tóquio 2020. Atletas russos insurgem-se contra a federação de atletismo
Apesar de haver atletas que se têm manifestado favoráveis às ações de Vladimir Putin, existem cada vez mais exemplos de atletas contra a guerra e que pedem a paz, como os tenistas Daniil Medvedev, que subiu esta segunda-feira a número 1 do ranking ATP, ou Andrey Rublev. No entanto, mesmo com essa posição pública, ambos estão proibidos de disputar Wimbledon, próximo Grand Slam do calendário internacional. A única exceção a uma política de boicotes quase transversal é mesmo a Federação Internacional de Judo, que permite que russos e bielorrussos se mantenham nas competições mas como atletas neutros.
La vigente campeona olímpica de salto de altura #MariaLasitskene envía una carta abierta a Thomas Bach criticándole su recomendación de sanción a los deportistas rusos y haber mezclado deporte con política #Atletismo #Rusia pic.twitter.com/bktJ2jJ5wH
— Historias de los Juegos (@HistoriasdlosJJ) June 10, 2022
“Esta decisão dá as mesmas oportunidades a todos os atletas para superar a discriminação, a política, os conflitos ou qualquer outro assunto que não esteja relacionado com o desporto. O desporto é uma ferramenta social importante, uma ponte para reconstruir comunidades e uma sociedade melhor a nível mundial. O conflito não foi criado nem alimentado pelo desporto e, por isso, os atletas não devem ser castigados por questões que estão fora do seu controlo. Todos os que apoiam a guerra podem e devem ser sancionados mas devem ser respeitados os direitos de quem não apoia a guerra. Não deve haver uma sanção apenas porque tem determinado passaporte”, referiu na altura o órgão em comunicado.
“Como se pode garantir uma competência internacional justa se os governos decidem de acordo com os seus próprios interesses políticos quem pode ou não pode participar nas competições? Hoje é a Rússia e à Bielorrússia, amanhã pode ser o teu país. Se deixamos isto nas mãos dos governos, estaremos a ser apenas uma ferramenta política e não poderemos garantir uma competição justa”, acrescentou a esse propósito Marius Vizer, presidente da Federação Internacional de Judo… e pessoa próxima de Putin.