A Ucrânia anunciou esta quinta-feira 30 de junho, que, depois de uma operação militar “notável”, as tropas russas saíram, finalmente, da ilha Zmiinyi, mais conhecida como Ilha da Serpente. Mas a Rússia apresenta outra versão da história: admite a retirada, mas alega que esta representa um “gesto de boa vontade” para não obstruir as exportações de cereais.

Imagens partilhadas nas redes sociais dão conta de um cenário diferente daquele que é relatado pelo Kremlin e mais próximo daquele que é descrito por Kiev. Nas fotografias e vídeos, é possível ver-se fumo, provocado por ataques aéreos e de artilharia, que terão “forçado” as tropas russas a abandonarem a ilha do Mar Negro, descreve o governo ucraniano.

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Os novos ataques estão em ilha com os esforços da Ucrânia em reconquistar a ilha no último mês. Na segunda-feira, 27 de junho, o Comandante de Operações do Sul da Ucrânia informou que um segundo sistema de mísseis russo havia sido atingido na ilha, assim como vários militares do exército de Moscovo.

Porque é que a ilha da Serpente é tão importante?

Foi logo nos primeiros dias da guerra que a Ilha da Serpente foi invadida pelas forças russas. Localizada a apenas 48 quilómetros da costa da Ucrânia, o domínio deste território fortaleceria muito a presença das forças russas neste país, facilitando os ataques à distancia, realizados com mísseis, artilharia e drones. Mas não só: a pequena ilha foi ganhando cada vez mais importância estratégica, uma vez que, a ser ocupada, daria às forças russas o total controlo das águas junto aos três últimos portos que ainda estão sob domínio ucraniano — incluindo o principal, o porto de Odesa, onde um bloqueio do Kremlin impediu as exportações de cereais naquele que é um dos principais fornecedores mundiais.

Ucrânia ainda não desistiu da Ilha da Serpente, símbolo mítico da resistência ucraniana

Depois de dois meses de ataques, foi em abril que a capacidade militar russa começou a ficar comprometida, depois de atingido um dos seus principais ativos: de acordo com a Ucrânia, um míssil atingiu o navio de guerra Moskva, que até então comandava a poderosa Frota do Mar Negro. Moscovo desmentiu, justificando a embarcação afundada com a detonação acidental de munições a bordo.

Mas o que é facto é que o navio afundou. Desde então, o Kremlin esforçou-se para trazer para a ilha sistemas antiaéreos. Defender estes sistemas acabou, no entanto, por se tornar, como descreve a BBC, um “pesadelo de logística” para a Rússia, uma vez que se encontravam muito longe das bases navais principais do Mar Negro.

Rússia perdeu um dos seus maiores navios de guerra. O que se sabe sobre o ataque ao Moskva?

O exército ucraniano nunca desistiu desta ilha — que acabou por se tornar num local com algum simbolismo — e em junho começou a reforçar as tentativas de recuperação da ilha do Mar Negro: a Ucrânia conseguiu atingir o rebocador naval russo  Spasatel Vasily Bekh — que estava a deixar armas e soldados na ilha — com mísseis anti-navio Harppon, doados pelo Ocidente; confirmou que um sistema de lançamento de mísseis russos colocado na ilha tinha também sido atingido; havendo ainda relatos de “perdas significativas” na ilha através de ataques aéreo. Sobre este último ponto, a Rússia reagiu confirmando que houve uma “tentativa louca” por parte da Ucrânia para reconquistar a Ilha da Serpente — ressalvando, no entanto, que se havia tratado de “outra falsa vitória”.

“Navio de guerra russo, vão-se f****.”

“Navio de guerra russo, vão-se f****.” transformou-se quase num grito de guerra para os ucranianos — foi, inclusive, estampada em camisolas e incluída num selo postal do país.

“Navio de guerra russo, vão-se f****.” O grito de guerra da Ucrânia colocado em selo postal

A conhecida frase foi proferida depois de as tropas russas terem chegado à ilha da Serpente, pedindo aos soldados ucranianos para baixarem as armas e para se renderem. Quatro meses depois, com a retirada das tropas russas, a Ucrânia volta a dar uso à frase, numa publicação partilhada no Twitter, “dedicada à libertação da ilha da Serpente”, realizada por “militares heroicos”.