O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, abandonou a cimeira do G20 mais cedo do que previsto, após ser ignorado por várias comitivas. O chefe da diplomacia russa cancelou as reuniões que teriam lugar durante a tarde desta sexta-feira, assim como também decidiu não estar presente no jantar oficial que fecha o encontro das 20 economias mais fortes do mundo.

De acordo com o Politico, a comitiva russa que participou no G20 foi alvo de boicote diplomático por parte dos países do Ocidente. Numa iniciativa liderada pelos Estados Unidos, os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 (Alemanha, Itália, Reino Unido, Japão, Canadá e França) recusaram tirar uma fotografia de grupo em que estivesse presente Sergei Lavrov. Além disso, num encontro inaugural que abriu a cimeira na quinta-feira, o Ocidente recusou comparecer. O motivo? O chefe de diplomacia russo atendeu ao evento.

Os Estados Unidos também rejeitaram encontrar-se com a delegação russa em privado. Fonte da Casa Branca disse ao Guardian que as relações entre Washington e Moscovo não podem ser as mesmas “no que diz respeito ao envolvimento no G20” após a invasão russa da Ucrânia.

A tensão entre o Ocidente e a Rússia também foi visível no encontro da manhã desta sexta-feira que reuniu os 20 ministros dos Negócios Estrangeiros. Antony Blinken interpelou, segundo a Reuters que cita fonte da Casa Branca, os seus “colegas russos” e confrontou-os: “A Ucrânia não é vossa. Os seus cereais não são vossos”. “Por é que estão a bloquear os portos?”, questionou ainda o secretário de Estado norte-americano.

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Lavrov fala em “russofobia frenética”

Em reação, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo não poupou críticas ao Ocidente. “Chamaram-nos ‘agressores’, invasores’, ‘ocupantes’ — ouvimos muitas coisas”, lamentou o chefe da diplomacia russa, que considera que a atitude dos parceiros ocidentais foi de uma “russofobia frenética”.

“Durante o encontro, os parceiros ocidentais não falaram sobre as questões económicas globais, nem tentaram encontrar consensos para tomar decisões relacionadas com o desenvolvimento sustentável”, sublinhou Sergei Lavrov em conferência de imprensa citada pelos órgãos internacionais, acrescentando que o Ocidente apenas “criticou a Rússia no que concerne à situação na Ucrânia”.

Sergei Lavrov disse também que Moscovo “não tem nada para negociar com o Ocidente”. “Se os países ocidentais não querem negociar e apenas falam da vitória da Ucrânia face à Rússia no campo de batalha, então não há nada para falar por causa desta abordagem”, atirou. Interrogado sobre a rejeição de Antony Blinken num encontro com a Rússia, o ministro desvalorizou o assunto e culpabiliza os EUA por abandonarem “todos os encontros” entre Moscovo e Washington. E garante: “Não vamos correr atrás de ninguém”. 

Simultaneamente, o ministro mostrou disponibilidade para negociar com a Ucrânia e a Turquia, num encontro tripartido, no que concerne à retirada dos cereais armazenados em território ucraniano. Mas sem antes mandar outra farpa às preocupações do Ocidente: “As estatísticas mostram muito claramente que o trigo que está bloqueado nos portos da Ucrânia representa menos de 1% da produção mundial. Não tem impacto na segurança alimentar”.

Kuleba discursou, Lavrov não esteve presente

Esta tempestade perfeita para acidentes, boicotes e intrigas diplomáticas teve outro momento de destaque. Convidado para discursar na cimeira pela organização e pelo Ocidente, Dymtro Kuleba apelou a uma “resposta global à agressão russa que ameaça o mundo com a crise alimentar e energética”. “Pôr a Rússia no seu lugar é o desafio global número um e o encontro de hoje prova-o”, escreveu na sua conta pessoal do Twitter.

Apesar de a mensagem ser direcionada à Rússia, Sergei Lavrov não esteve presente no momento em que Dymtro Kuleba discursava, apurou a Agence-France Presse.