A pressão para resolver a crise política italiana com a continuidade do primeiro-ministro, Mario Draghi, aumentou esta segunda-feira, com autarcas influentes e associações a assinar petições a favor da estabilidade governativa.
Centenas pedem em carta aberta a Draghi para continuar primeiro-ministro de Itália
Na quarta-feira, Draghi irá ao Parlamento avaliar o apoio político para o seu Governo de coligação, depois de na passada semana o Presidente italiano, Sergio Mattarella, ter recusado o seu pedido de demissão.
O primeiro-ministro italiano apresentou o seu pedido de demissão após o Movimento Cinco Estrelas (M5S) se ter abstido numa moção de confiança.
Contudo, Mattarella travou as intenções de Draghi, pedindo-lhe para voltar ao Parlamento e procurar o apoio suficiente para manter em funções o seu Governo, que a oposição acusa de ser um “albergue espanhol”, pela sua grande heterogeneidade, incluindo desde partidos da extrema-direita até à esquerda.
Se Draghi se demitir, o cenário mais provável é de antecipação das eleições que estão marcadas para a primavera do próximo ano, prolongando uma crise política em plena luta contra a pandemia de Covid-19 e contra o aumento vertiginoso da inflação, que atingiu 8% em junho.
Dezenas de organizações e um grupo de influentes autarcas, incluindo os de Milão, Florença, Roma e Turim, estão a assinar manifestos para exigir a continuidade do primeiro-ministro, invocando a necessidade de evitar uma escalada da crise económica e social.
Entre os signatários estão associações de reitores, professores, médicos, enfermeiros, farmacêuticos e até veterinários, bem como entidades ambientais, antimáfia ou políticas.
Noutros casos, sindicatos e empregadores surgiram unidos, exigindo um “Governo forte” e a Conferência Episcopal Italiana pediu “estabilidade”, pela boca do seu presidente, o cardeal Matteo Zuppi.
Draghi, que parece continuar determinado a consumar a demissão, tem até quarta-feira para procurar uma solução alternativa, que poderá apresentar no Parlamento.
Neste período, será essencial para o primeiro-ministro aferir qual a posição do M5S relativamente a algumas das suas mais importantes reformas e ao apoio à Ucrânia no esforço contra a invasão russa — um dos temas de divergência dentro da coligação.
Para já, ainda se desconhece a metodologia que poderá ser usada por Draghi, admitindo-se que haja uma votação no Parlamento, para medir o apoio ao Governo de coligação, repetindo-se, de alguma forma, a moção de confiança da passada semana.
Enquanto isso, os partidos que sustentam a coligação parecem estar cada vez mais distantes entre si, no diagnóstico da crise política e da saída para este problema.
O progressista Partido Democrata acredita que o Governo deve continuar com a mesma composição, enquanto a Forza Itália – de centro-direita, de Silvio Berlusconi, – e a Liga – de extrema-direita, de Matteo Salvini, – acreditam que o M5S deve ser excluído da solução de poder.
O líder do movimento centrista Italia Viva, Matteo Renzi, também apoia o primeiro-ministro, argumentando que “ninguém em Itália ou em Bruxelas está interessado” num Governo italiano dividido e debilitado.
O líder do M5S, Giuseppe Conte, depois de provocar a crise política, tenta mediar posições divergentes dentro do seu próprio partido, entre os que defendem a permanência no Governo e os que preferem passar para a oposição.
Uma reunião de dirigentes do M5S tem revelado que será difícil encontrar um consenso sobre a posição do partido no Parlamento, esta semana.
As divergências entre Draghi e Conte não são novas nem recentes, centrando-se nas diferenças de posição sobre políticas económicas e sobre o apoio de Itália a Kiev, com o M5S a ser acusado de ser pró-russo.
Mas analistas citados pelos media italianos concordam em que a solução para a crise política pode estar nas mãos de Conte, depois de Draghi ter dito repetidas vezes que não quer governar sem o apoio inequívoco do M5S.