A associação ambientalista Zero denunciou esta quinta-feira que os níveis de ruído no aeroporto de Lisboa ultrapassam os limites legais e alertou que a regime de restrição de voos noturnos também não é cumprido.

Em comunicado, a Zero explica que entre os dias 14 e 19 deste mês realizou, em Camarate (Loures), a “mais extensa campanha de medições de ruído aeroportuário desde 2019, tendo constatado que os limites foram ultrapassados todos os dias tanto para a média ponderada de 24 horas como para o período noturno.

Os ambientalistas frisam também que o regime de restrição de voos noturnos “continua a ser uma farsa”, citando medições que tinham feito na semana iniciada a 11 de julho e que apontam para um total de 140 movimentos entre as 00h00 e as 06h00, “o que corresponde a uma flagrante violação da legislação, que estabelece um limite de 91 voos semanais”, escrevem.

Lembram que a legislação do ruído publicada em 2000 previa que não ocorresse qualquer movimento aéreo no aeroporto de Lisboa entre as 00h00 e as 06h00, uma situação alterada por uma portaria publicada em 2004 por causa da realização do campeonato europeu de futebol, que admitia a possibilidade de voos nesse período mediante restrições, quer no que respeita ao tipo de aeronaves que podem operar em função das suas emissões sonoras, quer no número de voos ocorridos

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Contudo, “não só o limite não está a ser cumprido, como está a ser largamente excedido em mais de 50%”, diz a Zero, que defende a existência de um período de seis horas todas as noites sem qualquer movimento aéreo e propõe incluir um período de funcionamento limitado nas horas contíguas.

No período entre as 23h00 e as 07h00 horas, a associação ambientalista diz que tem registado “sistematicamente cerca de 70 movimentos por noite”.

Estamos, portanto, perante um atropelo gigante e inadmissível a um direito fundamental dos cidadãos, o direito ao descanso, com todas as consequências daí decorrentes em termos de distúrbios de sono e patologias associadas”, considera.

Na nota divulgada, a Zero chama a atenção para as consequências do excesso de ruído na saúde da população e destaca a violação dos limites definidos por lei tanto para a média ponderada de 24 horas, cujo limite legal para zonas mistas (como é o caso em termos de classificação legal) é de 65 decibéis (dBA) como para o período noturno, cujo limite legal nestas zonas é de 55 dBA.

Após um período de acalmia motivado pela pandemia, o inferno está de volta aos céus de Lisboa”, afirma a Zero, lembrando que “as áreas urbanas sob os cones de aproximação e descolagem de aviões são compostas por inúmeros recetores sensíveis (escolas, universidades, hospitais, bibliotecas, etc.), onde, na ausência de uma infraestrutura aeroportuária próxima, os limites legais são mais exigentes”.

“Deve-se também ter em conta que a escala de decibel é logarítmica e a intensidade sonora duplica a cada 3 dBA. Ou seja, estamos perante níveis de intensidade de ruído que são várias vezes superiores ao que a lei determina”, insiste.

A associação recorda que o ruído constitui “uma forte perturbação da qualidade de vida, nomeadamente o ruído noturno, causando doença cardiovascular, stress, redução da capacidade de aprendizagem das crianças, entre outros distúrbios e patologias”.

Citando a Organização Mundial de Saúde, diz que em locais afetados pelo tráfego aéreo as recomendações são para valores máximos da contribuição do ruído dos aviões de 40 dBA em período noturno e 45 dBA no período das 24 horas do dia.

No que refere aos voos noturnos, a associação lembra que já tinha constatado em 2019 que o regime de voos noturnos em vigor no Aeroporto de Lisboa estaria a ser violado e, nesse contexto, enviou um pedido de investigação e de atuação em conformidade à Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Diz que espera que as contraordenações previstas estejam a ser aplicadas, mas sobretudo manifesta preocupação com o facto de, em termos práticos, a queixa ter sido ineficaz, “com prejuízo para a saúde de quem reside nas proximidades do aeroporto ou debaixo dos cones aéreos”.

Sublinha ainda que o Plano de Ação do Ruído para o Aeroporto Humberto Delgado diz respeito ao período 2018-2023 e baseia-se na operação de 2016, com 182.148 movimentos anuais – sendo que em 2019 a operação já tinha crescido para 222.984 movimentos (+22,4%) e pede uma atuação firme das autoridades para garantirem o cumprimento da legislação.