A Comissão Federal de Comércio (FTC) está a tentar impedir que a Meta, a dona do Facebook e do Instagram, compre mais uma empresa – a Within, um estúdio que desenvolve conteúdos para realidade virtual. Para esta comissão, a empresa de Mark Zuckerberg já é demasiado grande no espaço da realidade virtual.
“A FTC está a tentar impedir que a gigante de realidade virtual Meta e o seu acionista principal e CEO Mark Zuckerberg comprem a Within Unlimited e a sua popular aplicação de realidade virtual dedicada à área de fitness, a Supernatural”, refere em comunicado a entidade liderada por Lina Khan.
Nesta nota, esta agência acusa a Meta de “já ser um dos principais participantes em cada nível do setor da realidade virtual”, sublinhando que o “império de realidade virtual da empresa já inclui um dispositivo que lidera as vendas, uma loja de aplicações líder, mais sete entidades bem-sucedidas no desenvolvimento [de aplicações para realidade virtual] e uma das aplicações mais vendidas de sempre”.
Perante este cenário, a FTC considera que a tecnológica e Mark Zuckerberg estão a “planear expandir o império de realidade virtual da Meta com mais uma tentativa para adquirir ilegalmente uma aplicação dedicada a fitness que prova o valor da realidade virtual para os utilizadores”.
Facebook vai mudar aplicação para que deixe de perder publicações de amigos
A Supernatural, a aplicação mais popular da Within, permite praticar exercício com realidade virtual. Através do headset Meta Quest, o exercício pode ser feito em cenários paradisíacos, das Galápagos até às ruínas de Machu Picchu, ou mesmo na superfície de Marte. Além de treinos, a aplicação também tem uma componente virada para meditação. Em 2020, a revista Time analisou a aplicação e considerou-a mesmo como “uma das melhores invenções” do ano.
“Em vez de estar a competir por méritos, a Meta está a tentar comprar o seu caminho até ao topo”, refere em comunicado John Newman, diretor da área da concorrência na estrutura da FTC.
Esta agência federal considera que a tecnológica já é a maior fornecedora de equipamentos de realidade virtual e também a maior na área das aplicações. Em fevereiro, por exemplo, só a aplicação Horizon Worlds desenvolvida pela empresa e já a pensar no metaverso, tinha 300 mil utilizadores no mercado dos EUA e Canadá.
A Meta controla também o estúdio responsável pela criação da aplicação de fitness em realidade virtual Beat Saber – um rival da app Supernatural da Within. A aquisição foi feita em 2019, por um montante que não foi revelado na altura. “Atualmente as duas empresas desafiam-se uma à outra para continuar a acrescentar novas funcionalidades e atrair mais utilizadores, rivalidade competitiva que seria perdida caso esta aquisição tenha autorização para continuar”, diz o comunicado da FTC.
Ao site norte-americano The Verge, a Meta refuta as acusações feitas pela FTC, dizendo que “o caso da FTC é baseado em ideologia e especulação, não em provas. A ideia de que esta aquisição poderia levar a resultados anti-concorrência num espaço dinâmico e com tantas possibilidades de entrada e crescimento como o fitness online e conectado não é simplesmente credível”, avançou a esta fonte Stephen Peters, porta-voz da Meta. “Ao atacar este negócio”, diz este porta-voz, a “FTC está a enviar uma mensagem arrepiante a qualquer negócio que deseje inovar na realidade virtual”. Na ótica da empresa, esta “compra da Within será boa para as pessoas, para os programadores e para a área da realidade virtual”.
Esta é a primeira grande ação de Lina Khan, a líder da FTC, contra uma das “big tech”. Uma assumida crítica do negócio das grandes tecnológicas norte-americanas, Khan foi nomeada por Joe Biden para ocupar o cargo de “chair” da FTC em março de 2021, recebendo luz verde do Senado em junho do mesmo ano.
Esta comissão indica que deu entrada com uma queixa anti-concorrencial no tribunal da Califórnia com o objetivo de travar esta aquisição.
Meta sobe preços dos Oculus para “continuar a investir” na realidade virtual
As principais tecnológicas têm reportado um aumento dos custos ao longo dos últimos meses. A Meta não foge a esse cenário, em parte muito justificado pela pressão trazida pela subida da inflação. A questão é que a Meta tem ainda outra pedra no sapato – a ambição de desenvolver trabalho no metaverso, que obriga a um sério investimento. Só no ano passado, a empresa gastou 10 mil milhões de dólares nesta área.
In order to continue investing in moving the VR industry forward for the long term, we are adjusting the price of Meta Quest 2 headsets to $399.99 (128GB) and $499.99 (256GB) starting on 8/1/22.
— Meta Quest (@MetaQuestVR) July 26, 2022
Para conseguir “continuar a investir na indústria de realidade virtual a longo prazo”, a empresa anunciou esta semana um ajuste aos preços dos headsets da Oculus, empresa que comprou em 2014. Assim, a partir de 1 de agosto, o Meta 2 Quest de 128 GB passará a custar cerca de 400 dólares nos Estados Unidos e cerca de 500 na versão com 256 GB.
Esta quarta-feira, a Meta revelou resultados do segundo trimestre após o fecho da sessão em Wall Street. Pela primeira vez na história de 18 anos, a empresa apresentou uma quebra de receitas, mostrando os efeitos de um contexto económico mais desafiante.
A empresa viu as receitas totais recuarem 1% em termos homólogos, passando de 29 mil milhões de dólares há um ano para os 28,8 mil milhões de dólares no segundo trimestre deste ano, enquanto o lucro do segundo trimestre caiu 36%, para 6,7 mil milhões de dólares, face aos 10,4 mil milhões em termos homólogos. O lucro por ação também recuou, neste caso, 32%, para 2,46 dólares. Por sua vez, os custos totais e despesas cresceram 22%, para 20,5 mil milhões de dólares.
No segundo trimestre, o Reality Labs, a área de negócio da empresa dedicada à realidade virtual, gerou receitas de 305 milhões de dólares, um valor 32,5% abaixo do segundo trimestre de 2021. O Reality Labs continuou “no vermelho” no que diz respeito ao resultado líquido, com um prejuízo de 2,4 mil milhões de dólares. Há um ano, esta área tinha prejuízos de 2,8 mil milhões.
Apesar do cenário financeiro mais desapontante para os analistas, a empresa viu o número de utilizadores crescer. Os utilizadores diários ativos do Facebook subiram 3% para 1,97 mil milhões, invertendo um tombo de meio milhão de utilizadores no quarto trimestre de 2021. No total da família de aplicações – Facebook, Instagram, WhatsApp – a empresa registou uma subida de 4% nos utilizadores ativos diários, para 2,88 mil milhões até junho.
Receitas trimestrais da dona do Facebook e Instagram caem pela primeira vez