Não é, não poderia nunca ser, um regresso ao passado e à velha normalidade — a guerra na Ucrânia continua, mais a leste, e parte do país continua invadida por tropas russas. E no entanto, em Kiev e em outras cidades ucranianas, à margem da guerra, os bares e as discotecas voltaram a encher, as festas voltaram a realizar-se e a dança regressou, relatam por exemplo os jornais El Mundo e The New York Times.

Esta semana, o diário norte-americano publicava uma longa reportagem sobre o regresso da vida noturna em Kiev, referindo que depois de um silêncio prolongado, a noite da cidade está agora a regressar em força. Muitas pessoas estão mesmo a sair de casa para dançar, para ir a um bar ou discoteca e para ir a festas com amigos pela primeira vez desde que a guerra começou, escreve o The New York Times.

Não se trata de alheamento ou inconsciência mas sim da reivindicação da dança e do convívio como terapias emocionais, alegam os ucranianos citados. Oleksii Pidhoretskii, um jovem ouvido pelo NYT — descrito como alguém que “vive com a avó” em Kiev e que “não saía há meses” —, diz mesmo: “Se souberes como usar isto, é uma cura”.

Um outro ucraniano residente em Kiev, Bohdan Chehorka, explicava a impressão que tem deste regresso enquanto bartender: “Questionei-me muito, tive uma grande dúvida: é ok trabalhar durante a guerra? Faz sentido fazer um cocktail durante a guerra? Mas o primeiro turno em que trabalhei foi a resposta a isso. Conseguia ver nos olhos dos clientes. Para eles, era psicoterapia”.

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Outro testemunho foi dado ao El Mundo por Yur Lipsbitc, um funcionário da discoteca Closer, também localizada em Kiev. “Criámos aqui o nosso bunker mental. Permite-nos superar a depressão e mostrar que continuamos a resistir”, apontou.

As festas em Kiev têm, porém, uma limitação horária comum. Às 23h entra em vigor um recolher obrigatório que estará a antecipar os concertos e os horários de abertura de bares e discotecas para períodos mais diurnos. Muitos bares encerram aliás às 22h, para dar tempo aos funcionários para regressarem a casa a tempo de não violarem o recolher obrigatório, escreve o The New York Times.

Para o retorno das festas e a afluência aos bares e discotecas, muito tem contribuído também o regresso de ucranianos e refugiados de guerra ao país, nota o El Mundo. O jornal espanhol cita números da Agência Europeia de Proteção de Fronteiras (Frontex), que estima que no mês passado mais de 2,5 milhões de ucranianos tenham já regressado depois de terem saído para fugir da guerra.