Uma alegada estratégia em curso dos Estados Unidos da América para conseguir o “domínio marítimo mundial” e planos da NATO para “mover as suas infraestruturas militares para perto das fronteiras [marítimas] da Rússia”. São estas as “grandes ameaças” aos interesses navais da Rússia, segundo uma nova “doutrina naval” aprovada pelo Presidente russo Vladimir Putin este domingo, em que se assinalava o Dia da Marinha no país.
O documento que resume esta nova doutrina naval do país, publicado num portal online do Governo russo e citado pela agência de notícias estatal TASS, assume o objetivo de que a Federação Russa se consolide como “uma grande potência marítima”. E destaca mesmo os EUA como a principal ameaça aos interesses do Kremlin. Lê-se no documento que “os grandes desafios e ameaças à segurança nacional e ao desenvolvimento sustentável da Federação Russa” no plano marítimo passam sobretudo pelas consequências do “rumo estratégico dos EUA”.
Para o regime russo, os norte-americanos visam conseguir “o domínio marítimo mundial e uma influência global nos processos internacionais, incluindo aqueles que se referem ao uso de rotas de transporte e aos recursos de energia dos Oceanos“.
Porém, também as movimentações da NATO e a expansão a leste deste bloco militar, igualmente no plano marítimo, continuam a ser vistas como “inaceitáveis” pela Federação Russa, permanecendo “um fator determinante nas relações da Rússia com a NATO”, lê-se no documento, alegando que tem-se verificado “um número crescente” de exercícios da NATO em “mares adjacentes ao território russo”.
Rússia planeia aumentar capacidade de combate da Marinha
Na nova doutrina naval russa, detalhada ao longo de 55 páginas, é ainda referido que a Federação Russa reserva-se o direito de usar a força militar apropriada a cada situação nos oceanos mundiais, se outras vias como “as diplomáticas e económicas” se esgotarem.
O regime russo projeta também uma “diversificação” geográfica para a sua estratégia marítima e naval futura, prevendo-se um aumento das atividades navais no Oceano Ártico — em particular, “junto ao arquipélago de Spitsbergen [Noruega], nos arquipélagos de Franz Josef Land e Novaya Zemlya [ambos russos]” e “na ilha de Wrangel”, que pertence à Federação Russa, escreve a TASS.
O Oceano Ártico é de particular importância para a Rússia, que tem uma vasta área costeira de 37.650 quilómetros. Esta costa vai do Mar do Japão ao Mar Branco, incluindo ainda o Mar Negro e o Mar Cáspio, segundo a Reuters. A agência refere que o documento publicado este domingo assume que a Rússia não tem bases navais suficientes pelo mundo e acrescenta que anuncia intenções de desenvolver “vias de cooperação estratégica e naval com a Índia, tal como o aprofundamento da cooperação com o Irão, o Iraque, a Arábia Saudita e outros Estados da região“.
A nova doutrina naval detalha também que os “objetivos estratégicos” da “política marinha” russa passam por “aumentar as capacidades operacionais [de combate] da Marinha” russa, com o alegado intuito de “garantir a segurança nacional da Federação Russa e a proteção dos interesses nacionais nos oceanos”.
É ainda mencionada no documento a intenção de “desenvolver uma indústria de construção de navios moderna e altamente avançada tecnologicamente no Extremo Oriente, orientada para a construção de veículos de grande tonelagem (em particular, para o desenvolvimento das atividades no Oceano Ártico) e de porta-aviões de tecnologia avançada que ficarão ao serviço da Marinha”.
Putin anuncia novos mísseis e elogia Marinha russa
Ainda nas celebrações do Dia da Marinha, este domingo, o Presidente russo Vladimir Putin fez um pequeno discurso em São Petersburgo. Nesse discurso, prometeu que a Rússia terá em breve mais armamento militar marítimo, nomeadamente mísseis cruzeiro supersónicos Zircon, que se prevê que venham a ser entregues à fragata Gorshkov dentro de meses.
Descrevendo-os como “mísseis ímpares” que “não têm equivalente no mundo”, Putin deixou o aviso de que a Rússia tem “potencial e influência militar” marítima para “derrotar quaisquer possíveis agressores”. E acrescentou, de acordo com a Reuters:
A questão chave aqui é a capacidade da Marinha russa… é capaz de responder com uma velocidade relâmpago a todos os que decidirem infringir a nossa soberania e a nossa liberdade.”
O Presidente russo, porém, não aludiu nem sequer implicitamente ao atual conflito militar na Ucrânia, abstendo-se de fazer comentários sobre a guerra provocada pela invasão militar das tropas do Kremlin ao país vizinho. Isto apesar do documento assinado por Putin este domingo prever “um fortalecimento significativo da posição geopolítica russa” no Mar Negro e no Mar de Azov, ou seja, junto à Ucrânia.