A campanha de verão de Espanha contra os “estereótipos” e a “violência estética” nas praias espanholas está envolta em polémica. Algumas das mulheres presentes na ilustração partilhada pelo Ministério da Igualdade espanhol garantem não ter dado autorização para a utilização da sua imagem.

Espanha promove praias com todo o tipo de corpos. Campanha do Ministério da Igualdade alvo de elogios e de críticas

A modelo britânica Nyome Nicholas-Williams, de 30 anos, foi alertada por um dos seus 78 mil seguidores de que a sua imagem estava a ser utilizada depois de a campanha ter sido difundida pelos meios de comunicação.

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A ilustração que já levou três das cinco mulheres a dizerem que não autorizaram o uso da sua imagem na campanha

Na ilustração vê-se uma mulher com um biquíni dourado, sentada na areia, com a cabeça virada para trás e com a língua de fora. Esta imagem é uma adaptação de uma fotografia que Nyome Nicholas-Williams publicou no Instagram e que não deu permissão ao Ministério da Igualdade espanhol para utilizar.

Não é uma imagem de um banco de imagens. É uma fotografia que tirei [e coloquei] no meu Instagram. [A utilização da imagem] é rude e desrespeitosa”, disse a modelo, que é citada pela BBC.

Nyome Nicholas-Williams foi contactada pelo projeto responsável pela criação da ilustração final, que lhe pediu desculpas e disse que utilizou a sua fotografia por estar com “pouco tempo”. “Estou chateada porque se me tivessem pedido no início, eu poderia ter tomado uma decisão e provavelmente diria que sim”, acrescentou a modelo, que escreveu no Instagram estar “exausta”.

Nyome Nicholas-Williams afirmou não conhecer as outras mulheres presentes na ilustração e não saber se o ilustrador e o governo espanhol lhes tinham pedido a elas permissão para utilizar as imagens. Contudo, uma outra modelo veio esclarecer as dúvidas.

Sian Green-Lord denunciou que a sua imagem também foi utilizada sem autorização. “Eu nem sei como explicar a raiva que sinto agora. Um amigo enviou-me uma campanha do governo em Espanha em que a minha imagem é usada, mas na qual a minha prótese ortopédica foi apagada”, disse a modelo, que é citada pelo El Confidencial e que aparece representada na ilustração deitada numa toalha de praia branca.

Entretanto, esta terça-feira, Sian Green-Lord publicou no Instagram a imagem que foi adaptada na ilustração e escreveu que a fotografia já não a representa a passar um “bom tempo” com os amigos, mas que agora a deixa “extremamente triste”.

A minha perna não é nada que me envergonhe. É um produto de força, resiliência e independência”, lê-se na publicação da modelo que anteriormente já tinha afirmado que “uma coisa é usar” a sua imagem sem permissão e “outra coisa é editar” o seu corpo — como foi feito.

Ao longo dos últimos dias, uma terceira mulher decidiu falar e dizer que pensa que uma fotografia sua pode ter servido de inspiração para a campanha espanhola. Aos 60 anos, Juliet FitzPatrick sobreviveu ao cancro e fez uma dupla mastectomia — ao contrário da mulher que aparece em topless na ilustração.

Apesar dessa diferença, a semelhança entre o rosto de Juliet FitzPatrick e o da mulher representada na ilustração é evidente — assim, o rosto da mulher de 60 anos terá sido colocado no corpo de outra que não passou pelo mesmo procedimento. Segundo a BBC, a mulher afirmou que a utilização de imagens sem permissão “parece ser totalmente contra” o tema da campanha.

Para mim, isto é sobre a forma como o meu corpo foi utilizado e representado sem a minha permissão”, acrescentou.

O projeto ativista Arte Mapache é, segundo o El Español, o responsável pela ilustração que já se desculpou publicamente perante as modelos — revelando que vai dividir as receitas do contrato com o governo espanhol que teve um valor de 4.500 euros.

No Twitter, na página do Arte Mapache, foi publicado um esclarecimento de que a intenção nunca foi abusar da imagem de nenhuma das mulheres, mas “transferir a inspiração” do que as mesmas representam.

O Instituto da Mulher, que trabalhou diretamente com o Arte Mapache, agradeceu no Twitter o “ativismo anti-gordofóbico” pelo reconhecimento “do erro na ilustração” e por “estar aberta a ouvir as mulheres envolvidas na luta contra a gordofobia e o racismo”.

Nyome Nicholas-Williams escreveu esta terça-feira no Instagram que o governo espanhol pediu desculpas apenas a Juliet FitzPatrick, que é uma “mulher branca”. A modelo e Sian Green-Lord alegam não ter recebido o perdão por parte do executivo de Espanha — que terá dito em comunicado que contactou as três mulheres acerca da utilização das suas imagens quando não o terá feito.