Pedro Adão e Silva foi o visitante seis milhões da Torre dos Clérigos, o monumento mais emblemático da cidade do Porto, e a cerimónia mereceu toda a pompa e circunstância. Numa das salas mais emblemáticas e antigas do complexo, repleta de quadros pintados a óleo e onde se ouviam, ainda que timidamente, as muitas dezenas de turistas que faziam fila para entrar, o ministro da Cultura foi recebido, entre outros convidados, pelo padre Manuel Fernandes, presidente da Irmandade dos Clérigos.

“O Sr. padre [Presidente da Irmandade dos Clérigos] duvidou da minha disponibilidade para subir os 225 degraus, não sei como interpretar essa sua hesitação, mas acho que estou com condições físicas de subir e de ver a cidade lá de cima”, afirmou com humor Adão e Silva.

Desde 2014 que, após obras de recuperação, o complexo composto pela torre, igreja e museu dos Clérigos passou a contabilizar os seus visitantes, chegando esta terça-feira aos seis milhões. “No primeiro semestre deste ano já contabilizámos meio milhão de visitas, arrisca-se a ser o melhor ano de sempre”, sublinhou o presidente da Irmandade dos Clérigos, acrescentando que as receitas angariadas se destinam a apoiar hospitais da Área Metropolitana do Porto, Instituições Particulares de Solidariedade Social e investigação em universidades.

Apesar desta não ser a primeira vez que visita o Porto enquanto ministro, Pedro Adão e Silva não esconde a importância do momento, principalmente depois de um período de pandemia. “Este é um sinal que a recuperação também está a chegar ao setor da cultura, que foi um dos mais afetados pela pandemia e dos que está a ter mais dificuldades a recuperar. Ter um número de visitantes em 2022 quase a ultrapassar o alcançado em 2019 deixa-nos cheios de otimismo e dá conta da importância do património para diferenciar também a oferta turista em Portugal.”

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O ministro não tem dúvidas de que são necessários recursos, humanos e financeiros, para “rejuvenescer” o setor e recorda o compromisso do Governo nesta legislatura: aumentar significativamente o orçamento para a cultura. “Há o compromisso de fazer aumentar o orçamento da cultura para 2,5% no final desta legislatura e vamos cumprir essa meta”, sublinhou.

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Questionado sobre se o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) será uma boa arma para dinamizar o setor, admite que é um instrumento financeiro importante, mas deixa claro que não é o único e recusa a ideia de estar concentrado apenas na região de Lisboa. “É um instrumento importante para a cultura, há muitos recursos do PRR para investimento no património, mas não esgota aquilo que é o investimento na cultura. O PRR não vai fechar o investimento na cultura, haverá, certamente, outras oportunidades de investimento”, assegura.

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Ali bem perto está o Coliseu do Porto, outro símbolo de cidade, onde no mês passado foi aprovado o seu modelo de concessão, uma decisão envolta em polémica, mas com a qual o ministro da Cultura parece concordar.

“O Governo acompanhou uma proposta da Câmara Municipal do Porto para avançar na concessão do Coliseu, essa proposta está, aliás, alinhada com o que Associação Amigos do Coliseu já tinha decidido num passado não muito distante. Seria um pouco estranho que o Governo decidisse ao contrário da decisão de uma câmara municipal, que por definição estão mais bem posicionadas para tomar decisões naquilo que são os interesses do seu concelho.”

Já sobre o pedido de audição do Bloco de Esquerda, entretanto recusado, Adão e Silva garante que quando houver novidades e se iniciar a discussão sobre o contrato que estará na base da concessão, estará “inteiramente disponível para prestar todos os esclarecimentos aos deputados no Parlamento”.

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Relativamente ao facto de o Estatuto dos Profissionais da Cultura registar ainda poucos inscritos, cerca de dois mil, meio ano depois de estar em vigor, o responsável pela tutela acredita que falta “pedagogia” e promete uma campanha de esclarecimento depois do verão. “O regime acabou de entrar em vigor, é importante que se faça uma pedagogia e é isso que vamos fazer. Haverá uma campanha depois do verão a apelar que as pessoas se registem e que os próprios trabalhadores do setor compreendam as vantagens do estatuto.”

Adão e Silva explica que “a grande vantagem” do estatuto é permitir que com um esforço contributivo adicional os trabalhadores da cultura tenham acesso ao subsídio de desemprego, um benefício que os trabalhadores independentes não têm.

“Este é um reconhecimento importante e uma exceção ao contexto laboral português. Estou convencido que, depois da experiência da pandemia, os trabalhadores da cultura façam uma avaliação e entendam que contribuindo um pouco mais terão um benefício no futuro que até agora não tinham.”

Questionado sobre o futuro da Coleção Berardo, com quem em maio o Governo terminou o protocolo, o ministro admite que esta se encontra “num quadro de enorme indefinição”.  “Há um arresto decretado pelos tribunais por força de um processo em que o Estado não é parte e achou melhor denunciar o contrato, dando, no entanto, a garantia de que enquanto vigorar o arresto assegura os pagamentos dos seguros para salvaguardar e preservar a coleção.”

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Pedro Adão e Silva deixa claro que quando existir uma decisão do tribunal sobre quem é o legítimo proprietário, o Estado “estará disponível para negociar um novo protocolo”, tendo, no entanto, uma “enorme diferença” relativamente ao anterior. “Será um protocolo sobre a coleção e não sobre o facto de o Centro Cultural de Belém estar ao serviço da coleção”, afirmou, recordando que a partir do dia 1 de janeiro, onde hoje é o Museu Berardo, o CCB irá gerir o espaço, “que na verdade é seu”, e que irá permitir “lançar as bases do que será no futuro o Museu de Arte Contemporânea em Belém”.