Olaf Scholz, o chanceler da Alemanha, defendeu esta quinta-feira a construção de um gasoduto que pudesse ligar Portugal à Europa central, passando por países como Espanha e França.
As declarações foram feitas esta quinta-feira, durante uma conferência de imprensa na Alemanha, e citadas pela agência Reuters.
Na ótica do governante alemão, a construção desta ligação poderia contribuir para aliviar a pressão na área da energia – particularmente sentida nos países da Europa central e, em especial, na Alemanha.
“Um gasoduto deste tipo seria um alívio gigante para a situação atual”, avançou o chanceler da maior economia da zona euro.
Na mesma ocasião, Olaf Scholz especificou que já terá abordado a questão com os governantes portugueses e espanhóis, assim como com França. Scholz também terá já partilhado a ideia com a Comissão Europeia, diz a Reuters.
Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a proposta alemã de gasoduto.
“Alemanha pode contar 100% com Portugal”
A resposta de António Costa foi feita através de uma mensagem na rede social Twitter, na qual o primeiro-ministro diz que o chanceler pode contar com Portugal para a construção do gasoduto e reforça a importância logística de Sines. “A Alemanha pode contar 100% com o empenho de Portugal para a construção do gasoduto. Hoje para o gás natural, amanhã para o hidrogénio verde. Até lá, o Porto de Sines poderá ser utilizado como plataforma logística para acelerar a distribuição de GNL para a Europa”, escreveu Costa.
O ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, assumiu, por seu turno, que o Governo quer reforçar as interligações do país “o mais rapidamente possível” e definiu as declarações de Scholz como “muito importantes”. “Aquilo que é a vontade de Portugal é reforçar as interligações o mais rapidamente possível, avançar com estes projetos para nos afirmarmos e podermos ter um contributo superior naquilo que é o fornecimento de gás natural e, de hoje para amanhã, de hidrogénio verde, a nível europeu”, disse o governante à Lusa.
Duarte Cordeiro diz que Portugal tem um objetivo há vários anos: criar uma terceira interligação energética entre Portugal e Espanha e reforçar as interligações entre a Península Ibérica e o resto da Europa. Para o governante, esta terceira interligação vai posicionar Portugal “como uma opção para o resto da Europa”, tanto a nível do gás natural como, no futuro, do hidrogénio verde. Assim, referiu ainda fazer todo o sentido planear a construção deste gasoduto tendo em conta a possibilidade de adequação para o hidrogénio verde.
O titular da pasta do Ambiente lembrou que o projeto carece de financiamento europeu, sendo, por isso, necessário ter reconhecimento do “caráter estratégico” do mesmo. “Temos trabalhado no sentido de, uma vez tendo luz verde, podermos arrancar a toda a força”, assegurou.
Até à construção do gasoduto, o Porto de Sines mantém-se como uma oportunidade, tendo o Governo como objetivo afirmar o seu potencial de exportação para os países que necessitam de gás natural. “Temos posicionado o Porto de Sines para ser essa solução a nível europeu. Estamos a preparar os investimentos necessários para aumentar a sua capacidade”, concluiu.
A #Alemanha pode contar 100% com o empenho de #Portugal para a construção do gasoduto. Hoje para o gás natural, amanhã para o hidrogénio verde. Até lá, o Porto de #Sines poderá ser utilizado como plataforma logística para acelerar a distribuição de #GNL para a Europa.
— António Costa (@antoniocostapm) August 11, 2022
A dependência dos países europeus da energia russa, especialmente do gás natural, tem sido usada como uma arma pela Rússia desde o início da invasão à Ucrânia. Com a hipótese de a Rússia reduzir o abastecimento de gás natural – em julho reduziu em 20% o fornecimento à Alemanha, por exemplo – a Comissão Europeia adotou um plano para que Estados-membros poupem gás de forma voluntária.
Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para as consequências de um corte total do fornecimento de gás russo à Europa. De acordo com um relatório de julho, um encerramento total do fornecimento de gás da Rússia para a Europa teria um efeito devastador nos países da Europa Central e de Leste, que poderiam registar contrações de 6% do Produto Interno Bruto (PIB).
Fim do fornecimento de gás russo pode levar a queda de 6% do PIB de países europeus