O PSD está “completamente disponível” para acordar com o PS uma demissão em bloco e precipitar eleições antecipadas no Seixal. Os social-democratas criticam a substituição de Joaquim Santos na presidência da autarquia pelo vice-presidente Paulo Silva e querem deixar o futuro do município “nas mãos da população”.

O presidente da Câmara do Seixal anunciou na quarta-feira que ia apresentar a demissão, mesmo depois de jurado a pés juntos que “ia ficar à frente dos destinos da Câmara”. Por considerar esta situação uma “falta de respeito com a autarquia e com a democracia”, o PSD está disposto alinhar numa demissão em bloco dos vereadores, articulada com a restante oposição, para precipitar eleições antecipadas.

“Estamos completamente disponíveis para isso, está tudo em cima da mesa e acredito que o próprio PS também alinharia”, sublinha Bruno Vasconcelos, em declaraçoes ao Observador. O vereador social-democrata diz que ainda não houve contacto entre os dois partidos, mas garante que vai falar com o PS Seixal e coordenar uma resposta.

Tudo se precipitou ao longo de quarta-feira. Num primeiro momento, o jornal Público deu conta da saída de Joaquim Santos. Horas depois, a SIC, através de uma fonte do PCP, confirmou que o autarca ia sair por “vontade própria” numa posição, ainda assim, considerada coletivamente. Na mesma tarde, no entanto, durante a reunião do executivo, Joaquim Santos desmentiu a informação e garantiu que ia ficar “muito tempo” na cadeira de presidente. À noite, veio a confirmação: num vídeo publicado no Facebook, Joaquim Santos anunciou que estava de saída.

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Ao Observador, o vereador do PSD Bruno Vasconcelos relata que, durante o encontro da Câmara, confrontou o autarca com a notícia do Público e garante que o comunista negou o afastamento por duas vezes. “Ao longo da reunião  acabou por sair uma outra notícia em que o PCP confirmava a saída do até então presidente. Acho que ele foi apanhado de surpresa. Confrontei-o. Não me respondeu, só dizia que ia continuar. À pergunta ‘até quando’, não respondeu”, recorda o vereador do PSD.

[Ouça aqui as declarações do vereador do PSD]

PSD admite acordo com o PS e demissão em bloco no Seixal. “Está tudo em cima da mesa”

O vídeo publicado nas redes sociais chegou depois confirmando o destino de Joaquim Santos, que se afasta para dar lugar ao seu número dois, Paulo Silva. O até agora presidente diz que sai para se focar na carreira profissional; mas o PSD questiona essa justificação. “Não temos dúvidas de que esta substituição já estava pensada antes das autárquicas”, garante Bruno Vasconcelos.

Os sociais-democratas acreditam que Joaquim Santos foi a votos nas eleições autárquicas em 2021 por ser uma “cara conhecida” e que a substituição por Paulo Silva esteve sempre planeada. “Creio que esta saída já está a ser programada há algum tempo, tanto que em entrevistas, em aparições públicas, tem sido já o vice-presidente a aparecer”, conclui o vereador único do PSD no Seixal.

Para Bruno Vasconcelos, as contradições no processo resultaram de uma falta de coordenação do partido comunista, acredita mesmo que o atual presidente foi “apanhado de surpresa” durante a reunião de Câmara e que depois foi “pressionado a fazer aquele comunicado”.

Eleições nas mãos de PS e ex-Chega

Vereador ex-Chega pode segurar a autarquia da CDU

Se o PS também estiver disponível para avançar com a demissão em bloco, o PSD assume desde já a vontade de reunir com socialistas e vereador independente para tentar encontrar um entendimento entre as três partes. O Observador tentou contactar Eduardo Rodrigues, vereador socialista no Seixal, mas sem efeito.

Num cenário de acordo entre PS e PSD para uma demissão em bloco, a possibilidade de a Câmara do Seixal ir novamente a eleições fica nas mãos do vereador independente. Henrique Freire foi eleito pelo Chega, mas perdeu a confiança política do partido depois de ter viabilizado o orçamento municipal da CDU.

Depois do anúncio da demissão do atual presidente do Seixal, o vereador ex-Chega emitiu um comunicado, citado pelo Diário Distrito, em que deseja “sorte ao futuro presidente” pedindo que “se foque nos objetivos que sejam sempre em prol do Seixal”, garante ainda que sempre que essa preocupação esteja garantida vai continuar “presente”.

Ao Observador, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) explica que há dois cenários possíveis para uma nova ida às urnas: ou há uma demissão de toda a lista que ganhou as eleições, incluindo o presidente; ou no caso das maiorias relativas, toda a oposição tem de renunciar ao cargo.

Neste último caso, a CNE explica que com a demissão de todos os vereadores da oposição, “não é possível ter quórum” nos órgãos autárquicos e por isso não podem funcionar.