A NATO está “a monitorizar de perto as recentes tensões” entre Sérvia e Kosovo, garantiu esta quarta-feira o secretário-geral da Aliança, após receber em Bruxelas o Presidente sérvio, que assegurou que Belgrado “quer evitar qualquer tipo” de conflito.

O secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, e o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, falavam numa conferência de imprensa conjunta após uma reunião que antecede um outro encontro, à tarde, do líder da NATO com o primeiro-ministro do Kosovo, Albin Curti.

Na terça-feira, os líderes sérvio e kosovar vão sentar-se à mesma mesa numa reunião em Bruxelas promovida pelo Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell.

Apelando uma vez mais à contenção de todas as partes, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte reiterou que a missão de manutenção de paz da NATO no Kosovo (Kfor) “continua focada no seu mandato na ONU” e, “caso a estabilidade seja posta em risco, está pronta a intervir” e “tomará qualquer medida que seja necessária para assegurar um ambiente seguro e de liberdade de circulação para toda a população do Kosovo”.

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Stoltenberg defendeu que “o diálogo construtivo é a única forma de resolver as diferenças na região” e apontou que “o diálogo Belgrado-Pristina facilitado pela UE é a plataforma adequada para encontrar uma solução que respeite os direitos de todas as comunidades”, pelo que saudou a “próxima ronda do diálogo que terá lugar amanhã”, quinta-feira, e exortou “todas as partes a empenharem-se de boa-fé” e a serem “construtivas”.

Por seu lado, o Presidente sérvio assegurou que o seu país “quer evitar qualquer tipo de escalada ou conflito” com o Kosovo, negando que a Sérvia tenha provocado “quem quer que seja”, e admitiu uma fadiga por parte da comunidade internacional face aos contínuos problemas na região dos Balcãs Ocidentais.

Ainda que ressalvando que não está de acordo “em quase nada” com o chefe de governo kosovar, Vucic garantiu que partirá para a reunião de quinta-feira com o único objetivo de apaziguar a situação, afirmando que “a paz e a estabilidade são de importância crucial” para Belgrado.

O “diálogo” de quinta-feira em Bruxelas entre Vucic e Kurti foi convocado por Josep Borrell na sequência de um agravamento da tensão entre os dois países no final de julho, quando centenas de sérvios kosovares bloquearam as estradas no norte do Kosovo junto à fronteira em protesto contra as decisões do Governo kosovar sobre a aplicação de medidas para impedir o uso de documentos de identidade e matrículas da Sérvia no território do Kosovo.

Na última quinta-feira, o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, acusou as autoridades kosovares de estarem a preparar as condições para matar cidadãos sérvios no norte do Kosovo.

Recentemente, o primeiro-ministro kosovar Albin Kurti sugeriu a possibilidade de a Sérvia, “estimulada pela Rússia”, iniciar “uma guerra” no Kosovo.

Desde 2011 que a Sérvia e o Kosovo promovem negociações para a normalização das relações, mediadas pela UE, mas sem resultados palpáveis até ao momento.

Os cerca de 120.000 sérvios ortodoxos do Kosovo — os números divergem consoante a origem, admitindo-se que possam chegar aos 200.000, com cerca de um terço concentrado no norte do território — não reconhecem a autoridade de Pristina e permanecem identificados com Belgrado, de quem dependem financeiramente.

Belgrado nunca reconheceu a secessão do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra sangrenta iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da Organização das Nações Unidas (ONU).

Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.

O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos da América, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.

A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.