“Hoje em dia já ninguém contrata ninguém por marcar golos. Ele tem a qualidade dele. É de realçar as palavras do treinador do West Ham, que disse que ele recusou. Para mim, esse é o maior sinal para o Sporting. Houve fases em que os jogadores do Sporting queriam sair e agora têm propostas que lhes mudam a vida e querem ficar. Demonstra que os jogadores estão cá, que gostam daquilo que estamos a fazer e que abdicam de outras coisas para estar junto a nós”, tinha comentado Rúben Amorim, naquela que foi a última declaração na zona de entrevistas rápidas da SportTV após o triunfo com o Rio Ave.
O técnico falava tendo como contexto as palavras de David Moyes, treinador dos hammers, que admitira em termos públicos uma proposta por Matheus Nunes que tinha sido recusada pelo próprio jogador. E não tinha sido a primeira porque já antes, no início do mercado, o Wolverhampton tinha ficado a saber que o internacional português preferia manter-se em Alvalade perante a falta de um projeto desportivo que lhe permitisse lutar por títulos. No entanto, e como dizia o antigo presidente do V. Guimarães, Pimenta Machado, “no futebol o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira”. E, apenas 48 horas depois, os leões aceitaram uma nova proposta do Wolves de 45 milhões de euros mais cinco de variáveis e mais 10% de uma futura mais-valia, neste caso com o médio a aceitar mudar-se para a armada portuguesa na Premier.
Pelo clube que era depois da primeira recusa e pelo timing de uma venda antes do clássico, a saída acabou por ser uma surpresa esta semana, fazendo com que o Sporting defrontasse o FC Porto no Dragão após os dois pontos perdidos na primeira jornada em Braga sem um titular indiscutível (e antes já não contava com João Palhinha). Ugarte e Morita são as opções mais óbvias, até porque Daniel Bragança vai ficar alguns meses de fora, havendo ainda a possibilidade de recuo de Pedro Gonçalves ou a aposta no jovem Mateus Fernandes, que fez a pré-temporada com a equipa principal, mas sempre a olhar para a frente contando com os que estão ainda no Sporting, algo que Rúben Amorim fez questão de destacar em conferência.
“Não vou dizer, não vou ajudar o mister Sérgio Conceição… Mas de certeza que não muda muito naquilo que é a abordagem do FC Porto mas guardamos isso para a hora de jogo. Temos o Pote que pode jogar lá, o Morita também, o Mateus Fernandes também, vamos ver… Temos uma ideia, alguém vai estar lá”, começou por referir já a sorrir com as “esperadas” perguntas sobre o médio internacional português. Mais tarde, falou em específico de Mateus Fernandes: “Não sei se é o mais próximo dele… O principal erro era procurar outro Matheus, nós vamos procurar jogadores, o Mateus é um jogador de projeto no qual nós acreditamos muito mas temos de ter cuidados com as fases que têm de passar. Vamos vendo…”.
“A insatisfação, claro que sim. Se eu não estivesse insatisfeito por perder um jogador como o Matheus era porque alguma coisa se passaria comigo… Em relação à azia, o mister Sérgio Conceição mesmo sendo campeão e ganhando títulos está sempre muito mais aziado do que eu. Temos personalidades diferentes. Não estou contente, faz muita falta, não contava perdê-lo mas agora é preparar o próximo jogo com os jogadores que temos”, respondeu depois numa pergunta que vinha da conferência do homólogo portista.
“Orçamento? Não vamos gastar o dinheiro do Matheus porque foi vendido para fazer face a coisas básicas do clube, foi essa a ideia que me transmitiram, e não vamos ser nós a estragar esse conforto financeiro à Direção. É difícil contratar, os clubes não querem perder os melhores, nós não queremos jogadores abaixo do nosso nível, temos alguns jogadores de potencial que já tínhamos e poderemos acelerar a sua contratação mas não tenho ideia, sou um treinador que precisa de tempo para amadurecer”, frisou.
“Saiu o colega do lado, dificulta ainda mais. O que vai ser agora, não sei. Sei desde o primeiro momento que o Matheus podia sair e a vontade da Direção era tirar o Matheus, fizemos o máximo para mantê-lo, depois passámos para um plano B que era vender alguns jogadores como o Tabata para manter os melhores, apareceu outra vez esta proposta aliciante e a Direção faz escolhas, eu sou empregado do clube e essas coisas não controlo. Foi aliciante, é um conforto muito grande para vários departamentos em termos financeiros, foi o que me explicaram. Arranjaremos soluções, como tem vindo a acontecer, e para nós equipa técnica é mais um objetivo que o próximo que se sentar aqui não tenha de passar por estes problemas todas as épocas a começar. Dá-nos mais força para voltarmos ao nosso nível”, salientou.
Incoerência? Incoerente, nunca, se há pessoa coerente aqui sou eu. O Tabata saiu para segurar o Matheus, não sou eu que vendo os jogadores. Se há coisa que eu sou é muito coerente, vou até ao fim e já fui criticado pelo contrário, por seguir as minhas ideias… Não é uma pergunta para mim, nós vendemos o Tabata porque o Matheus não quis sair, recusou uma proposta, tínhamos de arranjar dinheiro, vendemos os outros para segurar o Matheus. Desde o primeiro momento que disse que o Tabata era importante mas, não podendo ficar com todos, tive essa atenção… A incoerência não é do lado do treinador, de certeza…”, apontou ainda.
“Em relação ao ter dinheiro, já expliquei que se vendemos para fazer face a coisas básicas do clube e do dia a dia, não vamos gastar e o nosso projeto é criar mais valias para sustentar o clube. Em relação ao Matheus, como eu não leio, vieram dizer-me que se dizia que fiquei chateado com o Matheus. Não é verdade, eu adoro aquele miúdo, eu quero é que ele seja feliz. Os jogadores podem mudar de opinião de um momento para o outro, as coisas mudam. Também não sei o que é que foi falado por parte dos empresários, não sei onde é que o Matheus vai estar para o ano. Eu adoro aquele miúdo, seja aqui, seja em qualquer lugar. Eu sou muito agarrado a eles e nunca ficaria chateado com o Matheus. Se estou aqui é por causa dos Nunos Mendes, dos Matheus e dos Palhinhas, eles que sejam felizes e ajudarei outros. Vai ficar marcado na vida como todos os outros jogadores”, fez questão de destacar entre o discurso na conferência de imprensa.
“Foi uma semana estranha e diferente pelos motivos que se sabem mas depois reorganizámos, focámos, começámos a preparar o jogo da melhor maneira. Preparámos da melhor forma os pontos fortes do FC Porto, que são vários. É uma equipa que está a fazer muitos golos, que não sofre, é muito competente em todos os momentos do jogo quando ganha a bola, é o campeão. Já tivemos um empate, sabemos da importância do jogo”, tinha referido Rúben Amorim no início da conversa no auditório Artur Agostinho no Estádio José Alvalade, de onde sairão esta tarde os convocados rumo a um hotel no norte do país.