Ainda na semana passada, a Estónia retirou um importante memorial soviético de uma simbólica cidade na fronteira com a Rússia. Agora, será a vez da Letónia. Em causa um obelisco com 80 metros de altura e a estrela soviética no topo e dois conjuntos de estátuas que se encontram no Parque Vitória, em Riga, a capital letã.

Os políticos locais defendem que a demolição do monumento é importante para a cidade e para o país porque, neste momento, glorifica não só as conquistas do Exército Vermelho — e a expulsão dos nazis alemães na II Guerra Mundial —, mas também a ocupação da Letónia por duas vezes e os crimes de guerra russos, noticiou o Politico. As estátuas ao lado do obelisco simbolizam os soldados russos e a pátria-mãe. O conjunto foi instalado em 1985 durante a ocupação soviética.

O anúncio foi recebido com contestação por parte da comunidade russa, que constitui cerca de um quarto dos habitantes na Letónia e todos os dias 9 de maio, no Dia da Vitória, prestam homenagem junto ao monumento. Agora, o partido União Russa da Letónia queria promover um protesto no local, dentro das vedações, mas o diretor executivo da cidade, Jānis Lange, disse que não ia autorizar a manifestação, noticiou a agência Associated Press.

Tal como a Estónia, a Letónia é independente desde 1991 e faz parte da NATO e da União Europeia desde 2004.

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A decisão de demolir foi tomada em maio

O monumento letão foi isolado já em abril deste ano. A justificação do município de Riga na altura foi a de que a condição técnica tinha sido considerada insegura — havia lajes a cair e a estruturas apresentava-se rachada —, de acordo com um parecer do Departamento de Desenvolvimento da Cidade da Câmara Municipal, que confirmava as conclusões de outro parecer de 2018. O autarca Mārtiņš Staķis referiu também que o município não iria investir dinheiro na reabilitação do momento, especialmente num momento em que o governo central decidia o que se deveria fazer com ele.

O governo central discutia a suspensão do artigo 13.º do acordo entre o Governo da Federação Russa e o Governo da República da Letónia que visava, por exemplo, garantir que a Letónia preservava os memoriais soviéticos. A decisão foi tomada a 12 de maio de 2022 e suspensão do artigo entrou em vigor no dia 16 — e assim ficará até que abandone a ofensiva contra a Ucrânia.

Logo no dia seguinte à decisão do governo, a 13 de maio, uma reunião extraordinária da Câmara de Riga decidiu instruir a Agência de Monumentos de Riga a desmantelar o monumento, contando com a ajuda do Departamento de Desenvolvimento da Cidade, o Departamento de Propriedade e a Polícia Municipal.

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Esta segunda-feira, 22 de agosto, foi dado início ao processo de desmantelamento do monumento no Parque da Vitória, com a vedação do espaço necessário à obra, assim como a restrição à passagem de peões e de veículos na zona — por exemplo, o parque de estacionamento da área verde ficará fechado até 12 de setembro, de acordo com informação da município.

Ao final do dia, cidadãos a favor e contra a destruição do monumento manifestaram-se no parque, obrigando a polícia a dispersar as pessoas e a deter cinco insurgentes, noticiou a Baltic News Network (BNN).

A partir desta terça-feira, o plano é esvaziar os lagos que se encontram aos pés das estátuas, desmantelar as estátuas e depois o obelisco, com recurso a máquinas pesadas, mas sem usar explosivos, noticiou a BNN.

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Cerca de um mês depois da decisão sobre o monumento no Parque da Vitória, em Riga, o parlamento letão também aprovou uma lei “sobre a proibição de exibir objetos que glorificam o regime soviético e nazi e o seu desmantelamento no território da República da Letónia”, conforme comunicado no site oficial do Saeima.

A decisão do parlamento prende-se com a necessidade de combater a ameaça aos valores e democracia letã, assim como condenar a ocupação russa e alemã no país. A Letónia quer acabar com a informação falsa sobre a história da Letónia e “honrar a resistência do povo letão à URSS e ao poder de ocupação da Alemanha nazista”.

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Os monumentos a desmantelar deveriam ser determinados pelo Conselho de Ministros até 31 de julho e as obras estarem concluídas até 15 de novembro. O desmantelamento será da responsabilidade dos municípios onde estejam localizados e poderá contar com vários tipos de financiamento, incluindo fundos municipais e do Estado. No caso do monumento de Riga, 50% da obra será financiada pelo Estado e os 268.383 euros resultantes de donativos públicos serão usados na recuperação do local.

Os fragmentos dos monumentos que tenham valor artístico, arquitetónico, histórico-cultural ou educacional vão ser incluídos na coleção do Museu da Ocupação da Letónia.

Correção: a Estónia não foi o primeiro país a retirar memoriais soviéticos depois da Rússia invadir a Ucrânia.