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O tanque T-34 colocado em Narva, na Estónia, marca o local onde o exército russo entrou no país, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, para expulsar os ocupantes alemães. Agora, o governo quer guardar o tanque num museu: não aceita que o memorial seja usado para alimentar tensões na sociedade estónia, conforme comunicado do governo, desta terça-feira.

“Considerando o rápido aumento das tensões e confusão junto aos memoriais em Narva, temos de agir rapidamente para garantir a ordem pública e a segurança interna“, disse a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, no comunicado. “Foi por isso que o governo tomou a decisão de remover os monumentos de guerra do antigo regime [soviético] para evitar que promovessem mais hostilidade na sociedade e que abrissem velhas feridas.”

A líder do país que marca uma das fronteiras entre a NATO e a Rússia criticou a invasão da Ucrânia desde o início e comparou o Presidente russo, Vladimir Putin, aos antigos ditadores da Alemanha e Rússia, Hitler e Estaline, num artigo de opinião publicado no jornal The New York Times. “Na NATO, o nosso foco deve ser simples: Putin não pode ganhar esta guerra“, reforçou.

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A Estónia, antiga república soviética, é independente desde 1991 e membro da União Europeia desde 2004, ano em que também se tornou membro da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Os memoriais soviéticos que assinalam a rendição da Alemanha nazi são, ao mesmo tempo, marcos de uma nova invasão e domínio russo. Ainda assim, a cidade de Narva e a cidade de Ivangorod, na Rússia, separadas apenas pelo rio Narva, mantinham boas relações — pelo menos, até a Rússia ter invadido a Ucrânia.

Estes monumentos foram erguidos aqui para glorificar a reocupação da Estónia e não têm lugar no nosso espaço público”, disse Urmas Reinsalu, ministro dos Negócios Estrangeiros, no comunicado.

Apesar de a larga maioria da população de Narva ser de origem russa e falar principalmente russo, são cidadãos estónios e o governo não admite que haja uma escalada de tensão ou movimentos pró-Rússia que possam colocar em risco a segurança do próprio país — e também da Europa.

“Como a Rússia está a travar uma guerra genocida contra a Ucrânia e a tentar quebrar as fundações da arquitetura de segurança da Europa, não podemos permitir divisões internas na nossa sociedade”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Urmas Reinsalu, reforçando a posição do governo.

Porque é que a Estónia tem medo da Rússia?

Narva é apelidada por alguns como uma possível ‘nova Crimeia’. A terceira maior cidade estónia é um dos pontos de entrada mais prováveis para uma potencial invasão russa, uma vez que o resto da fronteira é quase totalmente ocupada pelo lago Peipus. A outra porção de fronteira terrestre fica mais a sul, perto da Letónia — outro membro da União Europeia e da NATO desde 2004.

Uma das primeiras medidas após a invasão da Ucrânia foi banir totalmente os órgãos de comunicação social russos, para minimizar a desinformação do Kremlin, mas mantendo os órgãos de comunicação estónios em língua russa. “O nosso objetivo é o de dar-lhes a maior quantidade de informação objetiva possível, para que eles possam formular os seus próprios argumentos”, disse a secretária de Estado da Defesa, Tuuli Duneton, ao Observador, em março deste ano.

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A mudança de local dos memoriais soviéticos até ao final do ano é agora outra das medidas do governo da Estónia. Mas, depois do incidente com a mudança de local da estátua do Soldado de Bronze, em Tallinn, o governo não deseja novos confrontos. “É evidente que muitos habitantes locais se preocupam com a remoção dos monumentos, mas temos de encontrar um local onde possamos comemorar as vítimas da Segunda Guerra Mundial sem conflitos e sem ameaças de provocações”, afirmou o ministro do Interior, Lauri Läänemets, no comunicado do governo.

Nas declarações agora divulgadas, a primeira-ministra disse ainda que a sepultura comum das vítimas da Segunda Guerra Mundial, em Narva, terá uma identificação neutra e que “continuará a ser um local digno para comemorar os mortos”. O comunicado acrescenta que as sepulturas de guerra serão enterradas novamente de acordo com os compromissos internacionais de proteção de monumentos culturais e locais de sepultura.

Estónia, Letónia e Lituânia deixaram de importar gás russo a partir de abril de 2022 e pediram, este domingo, que a União Europeia limite ou bloqueie os vistos para cidadãos russos — o chanceler alemão Olaf Scholz, no entanto, não concorda com a ideia. Para proteger estes países de uma potencial invasão russa, Kaja Kallas defende que a presença militar da NATO nos países bálticos seja reforçada.

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