A morte de Daria Dugina mantém-se no centro de uma violenta troca de acusações entre a Ucrânia e a Rússia. O autor do crime que tirou a vida à jornalista e filha de Alexander Dugin, ideólogo político russo, ainda está por confirmar, mas o Kremlin aponta o dedo numa direção: Natalya Vovk.

Sabe-se pouco sobre a mulher que, na segunda-feira, 22 de agosto, foi acusada pelo Serviço de Segurança Federal da Rússia pela morte de Daria Dugina — e as informações que se sabem vêm, maioritariamente, do lado russo. Terá, segundo o mesmo serviço, nascido em 1979 , em Mariupol, na região de Donetsk, tendo chegado à Rússia a 23 de julho deste ano, acompanhada por Sofia Shaban, a sua filha de 12 anos. Segundo a página de Wikipédia criada recentemente — e que a Ucrânia diz conter informações falsas — a mulher terá nascido em março e terá 43 anos.

De acordo com as autoridades russas, a cidadã ucraniana é, alegadamente, membro do Regimento de Azov, uma força especial da Ucrânia, tendo sido enviada à Rússia pelos Serviços Secretos de Kiev para executar a filha daquele que é conhecido como o “cérebro de Putin”.

Quem matou Daria Dugina: guerrilheiros russos ou uma cidadã ucraniana com a filha?

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Membro do Regimento de Azov. Sim ou não?

Informação divulgada nos pelos meios de comunicação social russos, e avançada pelas autoridades deste país, diz que foi encontrado um documento de identificação da suspeita, em que Vovk surge com uma farda oficial da Guarda Nacional e o Serviço de Segurança Federal.  No entanto, esta afirmação já foi desmentida pela Ucrânia. Vladislav Zhavoronok, membro desta força especial, disse em conferência de imprensa, que todos os elementos do regimento foram fotografados com uma farda com padrão camuflado — e não como surge a mulher. Zhavoronok disse ainda que, a julgar pela imagem, Vovk pertenceria à unidade militar 3057, referindo, no entanto, tratar-se de um documento antigo — suspeitando de que tivesse sido encontrado nos arquivos de Mariupol pelos ocupantes russos e manipulado para fazer crer tratar-se da autora do crime. Além disso, explicou o jornal online ucraniano Ukrainska Pravda, “não há uma única combatente feminina entre os ‘azovitas’”.

Esta terça-feira, 23 de agosto, a agência russa RIA, publicou uma entrevista com um homem que afirma ser o pai de Natalya Vovk: com a identidade omitida e o rosto desfocado, desmentiu o envolvimento da mulher no Regimento Azov, mas afirmou que esta “aparentemente” terá servido as Forças Armadas da Ucrânia. O mesmo indivíduo avança que a mulher terá recentemente estado na Europa como refugiada, tendo regressado à Ucrânia pouco tempo depois. “Ela foi para lá com sua filhinha. Ela estava em França como refugiada. Depois não gostou, voltou para a Polónia e depois para a Ucrânia”, cita o El Mundo.

A filha de Natalya Vovk

Dizem que se chama Sofia Shaban, terá 12 anos e estará sempre na companhia da mãe – e também sobre a potencial participação da criança no crime existem teorias. Apesar da idade, Moscovo avançou com a possibiidade de a menor ter contribuído para a explosão do carro que tirou a vida a Daria Dugina: as autoridades russas colocam a hipótese de ter sido a criança colocar o explosivo na parte inferior do Toyota Land Cruiser da família Dugin. O jornal russo ‘Kommersant’ diz que as autoridades suspeitam de que Vovk tenha usado a sua própria filha para encobrir as operações.

Nas redes sociais pró-Rússia circula ainda um nome que se diz ser de outro filho de Natalya: Danil Shaban, avança o Daily Mail. Contas de Telegram, diz o mesmo jornal britânico, apontam ainda a identidade do potencial marido de Natalya, através da descoberta nas redes sociais da conta de Andrey Vovk, um homem que terá ligações com rebeldes pró-Rússia no Donbass.

Condutora de um Mini, o cabelo pintado e a fuga para a Estónia

De acordo com os serviços de segurança russos, Natalya Vovk estava instalada num apartamento, perto daquele onde vivia Daria Dugina, e a partir do qual a espiava. No dia do ataque, mãe e filha terão marcado presença no festival de música e literatura da capital russa, onde Alexander e Daria participaram — tendo a jornalista sido, inclusivamente, oradora. Antes de cometido o crime, imagens de videoviligância do bloco de apartamentos onde Natalya estaria instalada, divulgados pelo Serviço de Segurança Federal russo, sugerem que a mulher, originalmente loira, terá pintado o cabelo de castanho para não ser detetada.

O que se sabe e o que falta saber da morte de Daria Dugina, filha do “cérebro de Putin”

Depois da explosão, Natalya terá, alegadamente, fugido com a filha para a Estónia, num carro Mini Cooper — o mesmo que teria usado para chegar à Rússia. Esta tese é sustentada por um vídeo que a Tass, agência estatal russa, divulgou, em que se vê uma mulher a atravessar a fronteira e a entrar num edifício. De acordo com o Serviço de Segurança Federal russo, Natalya terá trocado as matrículas do veículo em várias paragens, tendo entrado na Rússia com uma emitida pela autoproclamada República Popular de Donetsk, região ocupada da Ucrânia, controlada pelas forças russas. Na alegada fuga para a Estónia, terá trocado novamente a matrícula, agora emitida pela Ucrânia.

A mesma agência informou que Natalya Vovk faz agora parte da lista dos procurados e que a Rússia iria pedir a extradição à Estónia — a quem fez ameaças, no caso de não obedecer. O porta-voz da polícia estónia e serviços de fronteira dão uma versão diferente: negam ter recebido qualquer pedido de extradição — e, por isso, não vão fazer comentários sobre viagens de particulares. Já a Ucrânia continua a negar qualquer envolvimento na morte de Daria Dugin.