A Rússia está a preparar um plano de compra de divisas de países que o Kremlin considera “amigos”, sobretudo o yuan chinês mas, também, a lira turca e a rupia indiana – uma forma de contrariar a valorização do rublo e de aplicar as receitas com a exportação de petróleo e gás natural, que continuam a entrar no país e a melhorar a conta-corrente da Rússia para níveis historicamente elevados.

A melhoria do excedente comercial com o exterior, a par das medidas de controlos de capitais, estão a impulsionar o valor do rublo, que colapsou no início da invasão da Ucrânia mas, depois, não só recuperou esse “terreno” perdido como subiu para máximos desde 2014 (em relação a moedas como o euro e o dólar).

Rublo face ao euro, desde o início do ano. Fonte: TradingEconomics

Segundo a agência Bloomberg, que avança com a notícia sobre este plano, o tema foi discutido numa reunião “estratégica” em Moscovo na última terça-feira onde participou a governadora do banco central, Elvira Nabiullina.

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Já em junho tinha surgido uma primeira indicação de que um plano destes poderia ser uma hipótese, apesar de na altura o ministro da Economia, Maxim Reshetnikov, ter mostrado que não concordava já que, na sua opinião, isso obrigaria a um aperto orçamental e poderia não ser algo capaz de enfraquecer de forma significativa o valor do rublo – isto numa altura em que a apreciação da moeda já começa a penalizar as exportações russas.

Apesar da oposição manifestada publicamente pelo ministro da Economia, com o rublo a manter a tendência de valorização, terá havido um consenso inicial para avançar com o plano. Em reação, nos mercados cambiais, o yuan acelerou os ganhos face ao dólar, a lira turca chegou a valorizar-se em 1% e a rupia indiana também reagiu positivamente.

Economia russa está ferida mas não “esmagada”, como Biden profetizou. PIB deve contrair entre 4% e 6% (em abril previsão era de 8% a 10%)

O uso de rublos que estão nos cofres do banco central para comprar outras divisas é, porém, uma medida de curto prazo, porque no longo prazo o plano prevê que a Rússia reduza globalmente os valores que aplica na compra de divisas de outros países. Será uma inversão em relação à estratégia que foi seguida pelo Kremlin nos últimos anos, sobretudo desde 2014, que procurou acumular reservas de moeda estrangeira (que, agora, estão congeladas no caso das reservas detidas em bancos centrais dos EUA e da Europa, devido às sanções).

Durante a apresentação do plano, que não é público, terá sido argumentado que, “nas condições atuais, a acumulação de reservas de moeda estrangeira para acautelar crises futuras é extremamente difícil”. Afirma-se, também, que os 300 mil milhões de dólares que estão congelados pelas sanções acabaram por não ajudar a Rússia e, pelo contrário, tornaram-se uma vulnerabilidade que simboliza oportunidades perdidas”.

Ao acumular essas reservas, o Kremlin passou agora a acreditar que essa poupança representa “uma redução direta dos investimentos na Rússia, em benefício do investimento feito por países”. Em contraste, o plano a prazo passa por gastar mais no esforço de substituição tecnológica (reduzindo a dependência do Ocidente) e a aposta em novas infraestruturas de transportes com enfoque na Ásia.