Desde os primeiros dias da ofensiva russa na Ucrânia que o termo foi utilizado por Joe Biden para adjetivar as sanções impostas pelo ocidente que iriam “esmagar” a economia russa, mas a verdade é que, seis meses depois, os números não dão assim tanta razão ao Presidente americano.

As sanções económicas causam mossa, sim, mas não de forma tão contundente como nos primeiros meses chegou a parecer. Por exemplo, a inflação, depois de em abril quase ter chegado aos 18% entretanto desacelerou e a previsão do Banco Central da Rússia é de que fique entre os 12% e os 15% no cômputo do ano, analisa a CNN.

Há mais: o rublo, que logo após a invasão caiu 30% e atingiu um novo recorde em baixa face ao dólar, recuperou e em junho chegou mesmo a alcançar a maior valorização em sete anos. Depois de, numa fase inicial, o banco central ter aumentado as taxas de juro, voltou a fazê-las descer, para níveis pré-guerra. As previsões iniciais de contração do PIB para 2022 eram de 8% a 10%. Agora o banco central já prevê uma revisão em baixa, entre os 4% e os 6%. O Fundo Monetário Internacional não destoa e calcula, para o PIB russo de 2022,  uma contração de 6%.

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Entre março e julho, diz a Agência Internacional de Energia, as receitas da Rússia com a venda de petróleo e gás para a Europa duplicaram, na comparação com a média dos anos anteriores — isto apesar de as entregas de gás para a Europa terem caído 75% nos últimos meses. No que diz respeito às exportações de petróleo para fora do continente, também a realidade não se provou tão dura como as previsões: apesar de uma ligeira queda registada durante os meses de verão, as remessas mantiveram-se, sobretudo em direção à Ásia. Se em julho do ano passado este mercado representava 37%, este ano a maior parte das exportações marítimas de petróleo da Rússia passaram a ter aquele continente como destino: 56%.

Entre janeiro e julho, de acordo com dados da consultora Kpler, a China aumentou em 40% as importações marítimas de petróleo russo, cujos preços entretanto foram revistos em baixa. Já a Índia, no mesmo período e segundo a mesma fonte, aumentou em 1.700% estas importações.

O facto de a Rússia ter deixado de publicar grande parte das estatísticas económicas, assinalou recentemente o Washington Post, dificulta a análise, mas em julho o país comunicou um défice orçamental federal de 900 mil milhões de rublos, o equivalente a 8% do PIB, disse àquele jornal Sergei Guriev, economista e diretor da Sciences Po em Paris.

“Putin ainda tem dinheiro porque ganhou muito dinheiro nos primeiros meses da guerra, quando os preços do petróleo estavam altos e a economia ainda não tinha estagnado. Mas agora as sanções começam a funcionar, começam a funcionar substancialmente”, apontou o especialista.

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Se a taxa de desemprego estabilizou nos 4%, em grande parte foi porque o Kremlin obrigou as empresas em dificuldades a colocar os trabalhadores em licença parcialmente remunerada ou a reduzir-lhes os horários, disse ao jornal americano Elina Ribakova, vice-economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais, apontando para a insustentabilidade da medida a longo prazo.

A queda de 10% das vendas a retalho no segundo trimestre deste ano, em comparação com o período homólogo, será mais uma prova de que a economia está claudicante e de que os consumidores já começaram a reduzir os gastos — quando mais não seja perante o aumento de preços, sobretudo dos produtos importados.

Também ao Washington Post, Maria Shagina, especialista em sanções do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, disse que 78% dos russos não têm quaisquer compras grandes no horizonte. Desde 2015 que os níveis de confiança do consumidor não eram tão baixos no país.

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