Bob Iger já não é CEO da Disney, mas continua a ter uma série de histórias para contar sobre o tempo que passou ao leme na gigante de entretenimento. Esta quarta-feira, no evento Code Conference, contou com maior detalhe o processo da quase compra da rede social Twitter. E, nesta história, há alguns pontos familiares com a saga de Elon Musk com o Twitter.

Em 2016, a Disney terá olhado para a rede social como uma boa oportunidade. Bob Iger, que foi CEO da gigante de entretenimento entre 2005 e 2020, partilhou que na altura a Disney estava a tentar expandir-se na área do digital.

O Twitter seria uma plataforma “fenomenal” para os planos de distribuição de conteúdos da Disney, partilhou Bob Iger na Code Conference. Afinal, o serviço de streaming da empresa, o Disney+, só viu a luz do dia em 2019. “Tínhamos intenções de entrar no negócio de streaming. Precisávamos de uma solução tecnológica. Temos toda esta excelente propriedade intelectual [IP]. Não éramos uma empresa de tecnologia. Como é que se distribui essa IP aos consumidores de todo o mundo?”, contextualizou o ex-CEO da Disney, citado pela Vox.

“Estávamos a apontar em todas as direções. Pensamos em desenvolver [a tecnologia] de forma própria. Cinco anos, 500 milhões de dólares. Não era uma questão de dinheiro, mas sim de tempo, porque o mundo estava a mudar de forma rápida. E, ao mesmo tempo, ouvimos que o Twitter estava a ponderar a venda.”

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Do rumor até às negociações terá passado pouco tempo, relatou. “Entrámos imediatamente no processo, vimos o Twitter como uma solução: uma plataforma global de distribuição”, explicou o antigo CEO da companhia. Os planos da Disney para o Twitter eram ligeiramente diferentes do propósito de ser uma rede social. “Estávamos a olhar [para o Twitter] como algo completamente diferente. Podíamos pôr notícias, desporto, entretenimento e alcançar o mundo. E, francamente, teria sido uma solução fenomenal do ponto de vista de distribuição.”

O que é que mudou? Bob Iger diz que a gestão até conseguiu “vender” todo o conceito aos conselhos de administração da Disney e do Twitter, estando tudo pronto a executar e a negociação quase concluída até que percebeu que poderia “não estar a ponderar a questão com o cuidado necessário”. “Sim, é uma excelente solução da perspetiva de distribuição, mas que teria muitos outros desafios e complexidades que, na qualidade de gestor de uma empresa global, não estava preparado para ter uma enorme distração e ter de gerir circunstâncias que não eram próximas de qualquer coisa que tivéssemos enfrentado antes.”

Bob Iger decidiu inverter o sentido de marcha também devido à questão do discurso de ódio na plataforma – como, aliás, até já tinha contado na sua biografia, “The Ride of a Lifetime”, datada de 2019. A diferença é que no livro o episódio terá sido partilhado sem maiores pormenores, nota a Vox. “Estamos no negócio de criar diversão na Disney”, referiu, pelo que a responsabilidade de uma rede social com discurso a ser moderado não estaria de acordo com os objetivos da Disney.

Iger diz que continua a acompanhar as notícias, sendo por isso inevitável falar sobre o Twitter sem mencionar Elon Musk. Em abril o homem mais rico do mundo avançou com uma oferta para comprar o Twitter por 44 mil milhões de dólares, mas o negócio está atualmente num impasse, depois de Musk ter mudado de ideias em julho e tentar terminar o negócio. O Twitter decidiu processar Musk, estando o julgamento marcado para 17 de outubro.

Julgamento Twitter versus Musk começa a 17 de outubro e durará cinco dias

“É curioso, porque leio as notícias destes dias, que olhámos de forma muito atenta para os utilizadores do Twitter – acho que se chamam utilizadores? – e na altura estimámos, com a ajuda do Twitter, que havia uma porção substancial – não a maioria – que não eram reais”, contou Bob Iger. “Não me lembro do número mas descontámos o valor de forma pesada”, referiu, acrescentando que “o negócio até era bastante barato” para a Disney.

A questão dos utilizadores falsos no Twitter tem sido um dos principais pontos de Elon Musk para justificar a mudança de ideias nesta compra da rede social. Os números públicos do Twitter dão conta de que cerca de 5% dos utilizadores da plataforma serão “bots” ou contas falsas. No entanto, Musk contestou este número, alegando que a rede social não terá apresentado todos os documentos necessários para o comprador avaliar esta questão.

Já esta semana, numa audiência do tribunal do Delaware, onde vai decorrer o julgamento, o advogado do Twitter referiu que o dono da Tesla estará a usar este ponto como “pretexto” para justificar a mudança de ideias.

Juíza recusa pedido para adiar julgamento. Musk terá decidido não comprar Twitter devido “à terceira Guerra Mundial”