O processo foi bastante rápido. Esta sexta-feira, ao final da tarde, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que estava escolhido o novo ministro da Saúde e, um dia depois, Manuel Pizarro assume a pasta e é, oficialmente, o sucessor de Marta Temido. Aliás, a agora ex-ministra da Saúde esteve presente na cerimónia que decorreu durante a tarde deste sábado e deu um abraço a Manuel Pizarro.
Na presença de vários membros do Executivo e do Presidente da República, Manuel Pizarro firmou a assinatura que lhe atribuiu o cargo de ministro da Saúde. “Cumprirei com lealdade as funções que me são atribuídas”, disse.
Depois da cerimónia, António Costa começou logo por deixar um agradecimento a Marta Temido, vincando o período difícil da pandemia. E deixou também uma palavra a António Sales e a Fátima Fonseca, secretários de Estado da Saúde, que cessam agora funções. Depois, deixou críticas à oposição, que apontou dedos a Costa por escolher um membro do PS para a pasta da Saúde. “Se a melhor coisa que têm a dizer que num Governo do PS foi escolhido um membro do PS, é uma escolha verdadeiramente estranha.”
Sobre Manuel Pizarro, o primeiro-ministro disse não ter dúvidas que o novo ministro da Saúde “é um político muito experiente”. E agradeceu “a disponibilidade para [ele] regressar a Portugal e servir a saúde dos portugueses”. “Tem todas as condições para prosseguir a execução do nosso programa do Governo e dar continuidade às reformas que estão em curso e prosseguir a estratégia do Serviço Nacional de Saúde.”
Já o novo ministro da Saúde preferiu não responder a todas as perguntas dos jornalistas. “Vamos ver o que acontece no futuro”, disse quando questionado sobre o que vai acontecer com o novo estatuto do SNS.
Serão sempre necessários mais meios e será sempre necessário utilizar melhor esses meios de que dispomos.”
Marta Temido decidiu também prestar as últimas declarações, garantindo que vai continuar no Parlamento como deputada socialista, já que foi eleita pelo círculo de Coimbra. Sobre a sua saída, reconheceu que esta era a altura para sair. “Era um episódio de uma gravidade tal, que era necessário que houvesse uma responsabilização. A primeira responsável das coisas que correm bem e que correm mal é a ministra”, disse, referindo-se ao caso da mulher grávida que morreu enquanto foi transportava do Hospital de Santa Maria para o Hospital de São Francisco Xavier, por falta de vagas.
A ministra que abandonou o cargo na semana passada disse que o ministério da Saúde “é uma tarefa muitíssimo difícil e exigente”. E, para o seu sucessor, preferiu não deixar recados: “Se os conselhos fossem bons, não se davam, vendiam-se”, acrescentou.
Pizarro, o “canivete suíço” e “apparatchik de primeira água” que diz sim ao amigo e ao inimigo
Depois do anúncio do Presidente da República, na sexta-feira, feito através da página da Presidência, Manuel Pizarro falou sobre o assunto, na Batalha, onde participava num evento do PS. “Perante a importância deste setor e do meu percurso profissional enquanto médico não podia recusar este convite e regresso a Portugal cheio de determinação e vontade de trabalhar em favor da saúde dos portugueses e em defesa do SNS”, disse o agora ex-eurodeputado socialista.
Manuel Pizarro é o novo ministro da Saúde. “Não podia recusar convite”
Também na sexta-feira, ao final da tarde, começaram a surgir várias reações, quer da esfera política, quer das áreas abrangidas pelo ministério da Saúde. A Ordem dos Médicos entende a opção de António Costa como “sensata”, mas a Ordem dos Enfermeiros prefere esperar para ver, já que não esquecem que, quando Manuel Pizarro foi secretário de Estado da Saúde, conduziu as negociações entre a tutela e os sindicatos e acabou por “trocar a carreira dos enfermeiros por outra que nunca chegou sequer a entrar em vigor”.
Já a oposição criticou a decisão socialista. O PSD considera que o “ministro está condenado à partida”. A Iniciativa Liberal lembra o nome de má memória — o de José Sócrates, o Chega fala num “boy do PS” e o PCP não quer continuar a “ouvir a mesma música”. A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, defendeu este sábado que a escolha de Manuel Pizarro não dá garantias de que os problemas do setor vão ser resolvidos. “Enquanto o Governo continuar a achar mais normal pagar, a cada dois anos, mais em ressonâncias magnéticas feitas no privado, do que em comprar a maquina de ressonâncias magnéticas que o hospital de Setúbal precisa, o Serviço Nacional de Saúde vai ficar pior […]. Desse ponto de vista, o nome da Manuel Pizarro não nos dá nenhuma garantia”, afirmou Catarina Martins, que falava em conferência de imprensa, em Lisboa, após a reunião da Mesa Nacional do partido.