A escolha de um dos rostos socialistas para a pasta da Saúde não convence, à partida, os partidos da oposição. Dão alguma margem para que Manuel Pizarro dê provas da competência, mas o cartão de militante deixa a oposição com os dois pés atrás. O PSD não tem dúvidas de que o “ministro está condenado à partida”. A Iniciativa Liberal lembra, inclusivamente, o nome de má memória — José Sócrates –, na mensagem de reação à indicação do Governo. O Chega fala num “boy do PS” e o PCP não quer continuar a “ouvir a mesma música”.

“O novo ministro da Saúde está condenado à partida, pelo primeiro-ministro. Aquando do pedido de demissão da ex-ministra, António Costa foi muito claro ao dizer que ia mudar o titular da pasta, mas a política ia ser a mesma. Manuel Pizarro está condenado. Se a política é a mesma os resultados que os portugueses podem esperar não são diferentes dos que conseguiu a anterior ministra”, diz o líder do PSD Luís Montenegro.

Montenegro considera, aliás, que a escolha do primeiro-ministro é mais uma marca da “incapacidade de António Costa recrutar na sociedade pessoas que fujam da esfera do Partido Socialista”. “Este governo está tomado por dirigentes do Partido Socialista. É um núcleo fechado à sociedade”, aponta o líder do maior partido da oposição que, no entanto, deseja “sorte a Manuel Pizarro” embora cético que consiga recuperar a saúde em Portugal.

“Desejo sorte ao Pizarro, mas antevejo muitas dificuldades. Não tenho confiança em que vá conseguir obter bons resultados”, acrescentou ainda.

“A escolha de Manuel Pizarro para ministro da Saúde significa que António Costa está contente com o estado da Saúde em Portugal e que não tem qualquer intenção de mudar as políticas que levaram o SNS ao colapso e que para o Governo cabe sempre mais um fiel do aparelho do PS e um ex-governante de José Sócrates”, afirmou Joana Cordeiro, a coordenadora do grupo da Iniciativa Liberal na comissão de Saúde do Parlamento.

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Diz a IL que a “nomeação é uma má notícia para todos os portugueses que têm alternativa ao SNS quando mais precisam de cuidados de saúde”. “Enquanto não reconhecerem os efeitos catastróficos da sua política e não reformar o sistema de saúde como um todo no sentido da concorrência entre prestadores e da liberdade de escolha das pessoas, António Costa será sempre o principal responsável pelo estado calamitoso do SNS”, aponta a Iniciativa Liberal.

O Chega fala numa “escolha previsível” que acarreta “dois riscos”: “Tem sido mais um boy do PS do que um especialista na área da saúde” e uma “excessiva politização da saúde que vai ser levada ao extremo”.

André Ventura diz que o Chega dá o “benefício da dúvida a quem vai entrar em funções”, ao mesmo tempo que classifica a escolha do primeiro-ministro como “coerente” considerando as outras opções nas “principais pastas do Governo”.

Também o Bloco de Esquerda já reagiu à escolha de António Costa para a Saúde com Catarina Martins a considerar, numa publicação no Twitter, que “não garante qualquer mudança”. “Salvar o SNS exige fixação de profissionais, mais investimento e menos vetos de gaveta. Nada muda com a mesma política”, diz o Bloco.

O PCP não se preocupa tanto com “quem vem”, parecendo indiferente ao nome de Manuel Pizarro, mas sim com as políticas. À Rádio Observador, diz João Dias que “mais do que saber quem vem, importa saber ao que vem.”

“É preciso romper com os poderosos poderes instalados. Aqui está alguém que conhece o SNS e o ministério da Saúde, ainda mais responsabilidades tem em romper com os interesses instalados. No PCP queremos um SNS que responda, mas temos a consciência que é este que serve a população. A preocupação é que não continue o mesmo caminho, com a mesma música que estávamos a dançar”, afirmou o deputado, também ele um profissional de saúde.

A deputada única do PAN, Inês Sousa Real tem dúvidas de que Manuel Pizarro de facto tenha conhecimento do atual estado do Serviço Nacional de Saúde, considerando os anos que tem dedicado à política. “Apesar da formação de Manuel Pizarro não nos podemos esquecer que tem estado mais ligado à vida política e mais afastado do contexto prático do SNS. Esperamos que saiba olhar para as reais necessidades do SNS, reconhecer a importância que o SNS e a valorização dos profissionais tem para as pessoas que efetivamente precisam”, afirmou a deputada à Rádio Observador.

Diz a deputada do Pessoas-Animais-Natureza que o partido “preferia outro perfil”, já que “tem faltado o arrojo político de investir no Serviço Nacional de Saúde”, e coloca pressão em Pizarro: “Esperamos que saiba focar no essencial as medidas necessárias para que o SNS não continue depauperado”.