The Seven Moons of Maali Almeida, de Shehan Karunatilaka, é a obra vencedora do Booker Prize de 2022. Karunatilaka é o primeiro autor do Sri Lanka a vencer o importante prémio de ficção em língua inglesa. O anúncio foi feito esta segunda-feira à noite pelo presidente do júri de 2022, o historiador de arte e escritor Neil MacGregor, na reta final da cerimónia, que este ano decorreu na Roundhouse, uma sala de espetáculos em Londres, Inglaterra.

“Ambicioso” e “hilariante”, The Seven Moons of Maali Almeida, publicado no Reino Unido pela editora independente Sort Of Books, é, de acordo com MacGregor, um “thriller metafísico, um filme noir da vida além da morte que dissolve as barreiras não apenas dos diferentes géneros, mas também da vida e da morte, corpo e espírito, este e oeste”.

O segundo romance do escritor srilanquês de 47 anos fala sobre um fotojornalista de guerra que, após a morte, dá por si numa espécie de gabinete de emissão de visas celestiais, onde lhe são dadas “sete luas” para resolver o mistério da sua morte súbita e revelar um rolo de fotografias que promete “abanar” o Sri Lanka, devastado pelos horrores da guerra civil. Apesar de transportar o leitor ao “o coração negro do mundo”, o romance leva-o numa viagem à “descoberta da ternura e beleza, do amor e lealdade, e da procura por um ideal que justifica cada vida humana”, disse MacGregor.

Fonte: Booker Prize

No discurso de aceitação, Karunatilaka agradeceu a uma longa lista de colaboradores, principalmente aos seus editores, que aceitaram publicar o seu livro, que foi considerado por muitos “difícil e estranho”, e às “três senhoras” com quem o escritor vive e a quem The Seven Moons of Maali Almeida é dedicado. “O meu desejo para os escritores nesta sala e para os escritores em toda a parte é que tenham três senhoras, três senhores, três não binários ou qualquer combinação que prefiram para olhar por vocês quando os dias não são bons”, afirmou.

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Lembrando que The Seven Moons of Maali Almeida é sobre o assassinato de um fotojornalista de guerra, Karunatilaka confessou que gostaria de ler os nomes de “todos os jornalistas, ativistas, políticos, civis e inocentes que foram assassinados pelo Estado [srilanquês] por se lhe oporem” durante o seu tempo de vida, mas que se o fizesse, o evento duraria “a noite toda”.

“A minha esperança para Seven Moons é que, num futuro não muito distante, em dez anos ou o tempo que for preciso, o Sri Lanka tenha entendido que estas ideias de corrupção, raça e colonialismo não funcionam e nunca vão funcionar e que, nessa altura, Seven Moons esteja na secção de fantasia das livrarias, ao lado dos dragões e unicórnios.”

O prémio foi entregue ao vencedor pela Rainha Consorte. Este foi um dos primeiros compromissos públicos de Camila, que há vários anos participa na cerimónia de entrega do Booker Prize, após a morte de Isabel II. O troféu será, a partir deste ano, uma réplica do modelo original, criado em 1969 por Jan Pieńkowski, que morreu em fevereiro passado. A decisão foi tomada como forma de homenagear o ilustrador e autor de livros infantis.

[Reveja aqui o anúncio do vencedor do Booker Prize de 2022:]

Ao contrário de anos anteriores, o anúncio esteve para ser transmitido em exclusivo pela BBC, integrando o programa “Front Row” da BBC Radio 4, da jornalista Samira Ahmed. Porém, durante a tarde, a organização anunciou que “devido à agenda noticiosa do Reino Unido” o Booker já não passaria na televisão, apenas na rádio, tendo sido disponibilizado um link para o Youtube, onde a transmissão teve início pelas 21h50.

A longlist foi anunciada a 26 de julho e a shortlist a 6 de setembro, ambas dominadas por escritores norte-americanos. Shehan Karunatilaka, o inglês Alan Garner e a irlandesa Claire Keegan eram os únicos escritores não americanos da shortlist. Além de Neil MacGregor (presidente), o júri deste ano foi composto pela académica, crítica e apresentadora da BBC Shahidha Bari; a historiadora Helen Castor; o escritor e crítico literário M. John Harrison; e o romancista e poeta Alain Mabanckou.

No ano passado, o Booker Prize foi atribuído ao sul-africano Damon Galgut, pelo romance A Promessa, publicado em Portugal em janeiro pela editora Relógio d’Água. O romance fala sobre três gerações da família Swart, natural de Pretoria, onde o escritor cresceu. A história dos Swart é uma reflexão sobre a passagem do tempo e a história da África do Sul.