Adriano Moreira morreu este domingo de manhã aos 100 anos, avançou o Diário de Notícias, que confirmou a notícia junto de fonte familiar. A Agência Lusa obteve confirmação junto de um membro do CDS, de que Moreira foi presidente entre 1986 e 1988.
Condecorado pelo Presidente da República em junho passado com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, antes de completar 100 anos, Moreira destacou-se não só como político e estadista, mas também como professor universitário e pensador na área das Relações Internacionais.
Antigo ministro do Ultramar do Estado Novo, ex-presidente do CDS, advogado e professor universitário, Adriano Moreira nasceu a 6 de setembro de 1922 em Grijó, em Macedo de Cavaleiros. Mudou-se para Lisboa em criança, quando o pai, António José Moreira, foi nomeado subchefe da Polícia de Segurança Pública no porto de Lisboa. Morou no bairro de Campolide.
Estudou no Liceu Passos Manuel e depois na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde se formou em Ciências Histórico-Jurídicas, em 1944, durante o período da Segunda Guerra Mundial.
Recém-formado, o seu envolvimento num processo movido contra o então ministro da Guerra, Fernando dos Santos Costa, fez com que fosse detido no Aljube, onde esteve dois meses. Na prisão, conheceu Mário Soares, que até então só conhecia de nome. Após ter sido libertado, integrou no corpo docente da antiga Escola Superior Colonial, depois Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (atual ISCSP), onde se doutorou com uma tese sobre o problema prisional do ultramar.
Apesar de se ter mantido numa primeira fase afastado da política, em 1960, foi chamado por António de Oliveira Salazar para integrar o seu governo como subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, para que pusesse em prática as reformas de que falava nas suas aulas. Em 1961, passou a ministro do Ultramar. Moreira foi um dos primeiros académicos portugueses a refletir sobre o fenómeno da integração europeia e sobre a realidade do colonialismo português no século XX, tendo integrado a primeira delegação portuguesa nas Nações Unidas, no final dos anos 50.
Quando deixou o governo, em 1963, voltou ao ensino. Em 1968, casou-se com Mónica Mayer, com quem teve seis filhos.
Adriano Moreira recordado como senador, português ilustre e que deixa marca
Após o 25 de Abril, foi saneado das funções oficiais e exilou-se no Brasil, onde deu aulas na Universidade Católica do Rio de Janeiro. Regressou a Portugal e à política ativa em 1980, como candidato a deputado nas listas da Aliança Democrática. Mais tarde, filiou-se no CDS, que liderou entre 1986 e 1988, continuando como deputado até 1995. Em 2015, foi eleito para o Conselho de Estado, função que manteve até 2019.
Por altura do seu 100.º aniversário, a dia 6 de setembro, Marcelo Rebelo de Sousa disse que o advogado e político entrou “para a História de Portugal ao unir o nosso passado com o futuro” e que “foi grande em dois regimes políticos diferentes”, representando “sempre o universalismo português”.
“Projetou a língua, a cultura e os valores universais portugueses por todo o mundo. Deu uma contribuição importante ao longo de décadas para a instituição militar”, assinalou o Presidente da República.