Há poucas certezas sobre o que aconteceu numa das cidades da Polónia que ainda há nove meses abrigava milhares de ucranianos que fugiam da invasão russa. Ninguém sabe (ou revela) o que caiu em Przewodów às 15h35 polacas, menos uma hora em Lisboa, matando dois trabalhadores de uma empresa de cereais. E quase ninguém arrisca apontar dedos. Mas há teorias em cima da mesa.

A primeira é também a mais alarmante e afirma que os destroços encontrados na cratera em Przewodów são de mísseis russos. Esta teoria desdobra-se noutras duas hipóteses. Uma conjetura que os mísseis foram enviados propositadamente, possivelmente até da Bielorrússia, o que significaria uma escalada sem precedentes que poderia culminar num novo conflito mundial se a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a que a Polónia pertence, ativar o Artigo 5º e preparar uma resposta armada.

A outra hipótese sugere que o Kremlin falhou o alvo, que seria a região oeste da Ucrânia, onde fica Lviv, acabando por cruzar a fronteira para um país da NATO por erro. Se assim fosse, os membros da Aliança ficariam numa incerteza sobre a resposta a dar à Rússia: seria o Artigo 5º acionável, tendo em conta que tudo tinha acontecido por acidente? E quão avisado seria utilizá-lo?

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A batalha aérea que pode ter matado duas pessoas na Polónia

Num segundo momento, outra teoria foi colocada em cima da mesa: afinal, os destroços não seriam de mísseis russos, mas sim de um sistema anti-míssil ucraniano. O exército teria intercetado um míssil russo ao sobrevoar a região oeste da Ucrânia, junto a Lviv, e enviado um sistema anti-aéreo para o aniquilar. Mas os escombros resultantes da colisão entre os dois foguetes vieram a cair do outro lado da fronteira, na Polónia.

Ambas as versões foram apresentadas pelo jornalista que avançou a notícia da queda de um míssil em território polaco. Mariusz Gierszewski, jornalista da Radio ZET, começou por noticiar que fontes norte-americanas diziam que o míssil caído em Przewodów era russo. Depois, avançou no Twitter que a explosão teria sido provocada pela interceção de um míssil russo por parte do exército ucraniano.

“As minhas fontes nos serviços dizem que o que atingiu Przewodów eram provavelmente os restos de um foguete abatido pelas Forças Armadas da Ucrânia“, descreveu. Para Dmytro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros ucranianos, esta ideia não passa de uma “teoria da conspiração” promovida pela Rússia: “Ninguém deve comprar a propaganda russa ou amplificar as suas mensagens”.

E prosseguiu: “Esta lição deveria ter sido aprendida há muito tempo desde a queda do MH17″, escreveu o governante de Kiev no Twitter, recordando o voo da Malaysia Airlines que caiu em Hrabove depois de o avião que voava de Amesterdão para o Kuala Lumpur ter sido abatido por um míssil terra-ar da Rússia em julho de 2014, provocando a morte de 298 pessoas.

O que caiu em Przewodów? Um sistema de defesa anti-aéreo ou míssil subsónico

Além da origem dos destroços, outro mistério paira sobre os acontecimentos em Przewodów: que objetos são estes? As primeiras informações diziam que os destroços eram de um S-300, um sistema de mísseis terra-ar desenvolvido pela União Soviética para defesa contra ataques aéreos e mísseis de cruzeiro. Tanto as Forças Armadas da Rússia como as da Ucrânia têm este sistemas de mísseis.

Uma análise às imagens que chegam da fronteira entre a Polónia e a Ucrânia parecem revelar mais detalhes. A conta Ukraine Weapons Tracker, que se dedica a identificar o armamento utilizado na guerra na Ucrânia, e Neil Gibson, especialista em armamento e tecnologia bélica, dizem que os destroços são de um motor do tipo 48D6. Este motor será de um míssil do sistema S-300 que pertencerá à série 5V55.

Esta é a teoria dominante neste momento, mas não é a única. Uma delas afirma que os destroços são de um Kh-55, um míssil de cruzeiro subsónico que é lançado diretamente do ar, a partir de uma aeronave, e que pode carregar ogivas nucleares. O Kh-55 também foi desenvolvido pela União Soviética e já foi utilizado pela Rússia nos ataques contra a Ucrânia, que não possui nenhum no seu inventário bélico.

Outra possibilidade é que os objetos que aterraram na Polónia sejam de um Kh-101, também ele um míssil de cruzeiro lançado a partir do ar, com capacidade para transportar carga nuclear, desenvolvido e utilizado pela Rússia. Uma das características do Kh-101 é o facto de voar a baixa altitude, permitindo-lhe escapar aos radares e aos sistema de defesa aérea.