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Nikita Chibrin alistou-se no exército russo no verão de 2021. Não foi o sentimento de patriotismo ou a vontade de defender o país que o levou a juntar-se às forças russas, mas as dificuldades financeiras. Estava longe de imaginar que, em menos de um ano, estaria a deflagrar uma guerra.

A 24 de fevereiro, Chibrin, de 27 anos, cruzava a fronteira da Ucrânia a partir da Bielorrússia, sem ter a menor ideia de que estava a ser enviado para lutar em território ucraniano. “Fomos todos enganados”, recorda meses depois numa entrevista ao The Guardian, a partir do centro de imigração do aeroporto na cidade de Madrid, onde pediu asilo político.

O jovem, que pertencia à 64.ª brigada do exército russo, passou os primeiros meses na aldeia de Lypivka, perto de Kiev. A sua unidade, condecorada pelo próprio Presidente Vladimir Putin, é acusada de cometer crimes de guerra em Bucha e Andriivka, duas localidades próximas.

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Desde os primeiros dias de guerra, Chibrin expressou o seu descontentamento diretamente aos seus comandantes, que o despromoveram do cargo de mecânico do exército. “Ameaçaram prender-me, mas no fim os meus superiores decidiram usar-me para os trabalhos de limpeza e carregamentos. Fui colocado longe do campo de batalha”, explica. Não era o único descontente com a situação. Ao The Guardian revelou que o moral dos militares era “extremamente baixo” e muitos procuravam formas de escapar, mas o risco era elevado: “Os nossos comandantes ameaçavam disparar sobre nós se desertássemos”.

Passou quatro meses na Ucrânia, mas nega ter estado envolvido nos crimes de guerra cometidos pela sua brigada. Garante até que nunca pegou numa arma, admitindo, porém, que circulavam “rumores” sobre soldados envolvidos na morte de civis e em violência sexual. Desertou em junho – escondido numa carrinha que ia buscar mantimentos à Rússia – e agora quer testemunhar num tribunal internacional sobre o que viu na Ucrânia: “Não tenho nada a esconder”, garante.

Esta é uma guerra criminal que a Rússia começou. Quero fazer todos os possíveis para que chegue ao fim”.

Chibrin é o segundo soldado russo a testemunhar publicamente sobre a sua experiência na Ucrânia. Em agosto, o paraquedista Pavel Filatyev publicava um diário pormenorizado de 141 páginas onde relatava o tempo passado nas fileiras do exército, assumindo não ver “justiça”, nem “verdade” na guerra na Ucrânia.

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À semelhança de Filatyev, Chibrin conseguiu sair da Rússia com a ajuda da organização de direitos humanos Gulagu.net. Espera agora conseguir asilo político em Espanha, onde vai ficar temporariamente num centro para refugiados.