Depois de um míssil ter atingido a maternidade em Vilnyansk, Zaporíjia, não havia sinais de Serhii entre os escombros. A mãe, Maria Kamianetska, fora resgatada ainda com vida e ferimentos ligeiros, mas as equipas de resgate prosseguiam as buscas agora pelo seu recém-nascido, com apenas dois dias de vida — e o único internado naquela ala do hospital nessa noite. Já sem esperança de o encontrarem, ollharam para o que parecia ser um boneco com o rosto voltado para o chão. “É o meu filho”, soltou Maria Kamianetska.
Serhii é a única vítima mortal do ataque com míssil que atingiu a maternidade na última quarta-feira e a história da sua curta vida foi agora contada pelo The Washington Post. O pai, Vitalii Podlianov, nunca conheceu o filho recém-nascido em vida — o benjamim de quatro, que tinha vindo ao mundo depois de o filho de sete anos ter pedido um irmão mais novo. Tudo o que viu foi uma fotografia do bebé com um gorro branco na cabeça, de olhos fechados e enrolado numa manta de algodão. Foi a mãe da criança que lhe enviou a imagem, acompanhada da boa nova: “Tens um filho”.
Era o segundo rapaz da família, que estava em mudanças para uma casa maior em Novosolone, terra natal de Maria e Vitalii. O casal descobriu que tinha mais um filho a caminho no fim de fevereiro, precisamente na mesma altura em que a Rússia invadiu a Ucrânia e a guerra eclodiu. A linha de combate em Zaporíjia ficava a uma hora da casa da família, mas aproximava-se cada vez mais à medida que os meses passavam.
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Apesar das dificuldades impostas pela guerra, a família reuniu tudo o que necessitava para receber o quarto filho, desde o berço ao carrinho de bebé. O irmão também organizou os brinquedos favoritos, incluindo um trator de tamanho infantil, na esperança de o partilhar com o recém-nascido. Uns dias antes da data prevista para o parto, Vitalii levou Maria para a casa de um familiar que ficava mais perto do hospital em Vilnyansk — tudo para garantir que nenhuma investida bélica prejudicaria o nascimento do bebé.
Maria foi para a maternidade de ambulância na madrugada de segunda-feira, 21 de novembro de 2022. Serhii nasceu às 8h20 desse mesmo dia, ao fim de duas contrações: era saudável, pesava cerca de 2,7 quilos e tinha 50 centímetros.
Dois dias mais tarde, às duas da manhã, pouco depois de ter sido amamentado pela mãe e colocado no berço para dormir, Serhii ficou soterrado nos escombros das paredes da maternidade, atingida por um míssil. Maria, vestida com uma camisa de noite, foi atingida por um pedaço de cimento, mas conseguiu libertar-se. Foi afastando os escombros que encontrava no caminho até ao berço, mas quando finalmente o alcançou, Serhii não estava lá. Enquanto o procurava, a mãe acabou por ser retirada do local. Não tinha mais do que ferimentos nas pernas.
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Mas Serhii adensou a lista de mais de 440 crianças que morreram desde o início da guerra na Ucrânia: o corpo do recém-nascido tinha sido projetado para fora do berço com o impacto do míssil na maternidade. É agora a vítima mais nova da guerra que se trava em território ucraniano. No funeral, apenas um dia depois da morte, Serhii não parecia exibir mais do que alguns arranhões no rosto, descreve o The Washington Post. Foi enterrado num caixão que tinha pouco mais de 90 centímetros. Os irmãos não participaram na cerimónia: no dia seguinte, na companhia da mãe, visitaram a urna de Serhii. Levaram leite e bolachas.