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A maior parte das chamadas chega durante a noite. São vozes em parte “desesperadas” e “frustradas”, em busca de respostas sobre as condições de uma eventual rendição. Desde que foi criado, em setembro, o projeto “I want to live” (em português, “Eu quero viver”), já recebeu, entre mensagens e telefonemas, mais de 3.500 contactos de militares russos e dos seus familiares.

“Eu não entendo exatamente o que devo fazer quando os ucranianos vierem. Coloco-me de joelhos ou quê? O que devo fazer? Como devo render-me?”, pode ler-se numa das muitas mensagens enviadas por soldados russos para a linha de rendição e a que a BBC teve acesso. “Sou de Moscovo. Ainda não recebi a convocatória para a mobilização, mas já tentaram entregá-la. Têm algum conselho sobre o que devo fazer? Não vou matar ucranianos. Gostava de salvar a minha vida“, diz um outro.

Com uma bandeira branca improvisada, imagens mostram soldados russos a renderem-se em Kherson

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Os militares russos na Ucrânia, os cidadãos que temem ser mobilizados para a guerra e os seus familiares podem ligar para a linha de chamadas ucraniana ou enviar uma mensagem através de aplicações como o Telegram ou o WhatsApp. São cerca de 100 pessoas que, diariamente, procuram respostas. Do outro lado, são recebidos por conselhos de como devem proceder para se renderem.

Primeiro, ouvimos uma voz, na maior parte das vezes masculina. Em parte desesperada, frustrada, porque não compreendem muito bem como é que a linha de rendição funciona ou se é apenas uma armadilha”, explica Svitlana (nome fictício), em entrevista ao canal britânico. As chamadas nunca são iguais e há uma certa “curiosidade”. Muitos não ligam para se render, mas para saber como o podem fazer, se vierem a precisar. Há também aqueles que contactam apenas como forma de provocação. Os soldados russos podem depois ser usados em futuras trocas de prisioneiros com as autoridades russas para recuperar militares ucranianos.

Não podemos julgar um país inteiro. A maior parte deles está preocupada com as suas vidas”, revela.

Desde que foi criada, a linha registou vários picos, em particular depois de 21 de setembro, com o anúncio da mobilização parcial russa, a primeira desde a Segunda Guerra Mundial. Voltou a aumentar após a retirada dos militares russos da cidade de Kherson para a margem esquerda do rio Dnipro.

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A Rússia e a Ucrânia têm trocado acusações sobre a forma como os prisioneiros de guerra estão a ser tratados. Recentemente, Moscovo acusou as forças ucranianas de executarem “com tiros na cabeça” mais de uma dezena de militares que estavam imobilizados. O caso terá acontecido na cidade de Makiivka, na região de Donetsk. “Ninguém será capaz de justificar o assassinato deliberado e metódico de mais de dez militares russos imobilizados por degenerados das Forças Armadas ucranianas com tiros diretos na cabeça como uma exceção trágica”, afirmou o Ministério da Defesa russo em comunicado.

Rússia acusa Kiev de executar mais de uma dezena de soldados russos

Uma análise preliminar dos especialistas do Gabinete de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que as imagens são provavelmente verdadeiras. “Estes vídeos perturbadores são muito provavelmente autênticos no que mostram. As circunstâncias reais de toda a sequência de eventos devem ser investigadas o mais extensivamente possível”, sublinhou em comunicado Volker Turk, alto comissário da ONU para os direitos humanos.