Luís Marques Mendes acredita que António Costa está “irritado” e “zangado” por ter percebido que não poderá cumprir o “sonho” de ir para Bruxelas em 2024. No habitual espaço de comentário no jornal da SIC, o ex-líder do PSD sublinhou que o primeiro-ministro escolheu dar a entrevista à Visão com o objetivo de “reganhar a iniciativa política” — e que o tentou fazer ao apresentar “três boas notícias”.

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Depois de uma semana marcada pela entrevista de António Costa à revista Visão, em que o chefe de Governo se atirou à oposição (da esquerda à direita) e onde resolveu apresentar um apoio de 240 euros para famílias vulneráveis, a distribuir ainda este ano, Luís Marques Mendes tentou explicar os motivos do atual estado de espírito do primeiro-ministro.

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“O primeiro-ministro usou um tom irritado na entrevista e fora da entrevista [com IL, com jornalistas e comentadores, com Carlos Moedas], (…) e usando uma linguagem que não é própria de primeiro-ministro. Fez bem em pedir desculpa (…), mas que anda muito irritado, zangado, intranquilo é indiscutível”, explicou o antigo líder social-democrata, que tem uma suspeita e um exemplo.

Não colocando de parte as justificações que têm sido lançadas nos últimos tempos — estar cansado por estar no Governo há sete anos; a sugestão de que será “sobranceria” pela maioria absoluta —, Marques Mendes não entende o estado de irritação que atribui ao primeiro-ministro, por considerar que Costa tem “condições fantásticas” para a governação do país.

E deixou um palpite: “Acho que a razão é o sonho europeu do primeiro-ministro.” O comentador reiterou que António Costa tem o “sonho político” de ir para Bruxelas em 2024 exercer o cargo de presidente do Conselho Europeu e “não o pode dizer”, mas “toda a gente sabe”.

“O sonho provavelmente ficou pelo caminho”, antecipou Mendes, argumentando que, com uma “maioria absoluta, é difícil deixar um governo a meio do mandato”. Essa ideia, diz, tornou-se ainda mais improvável quando o “Presidente da República, no momento em que lhe deu posse, disse que ia provavelmente haver eleições antecipadas” caso Costa abandonasse o cargo. Na altura, disse que esta era uma maioria absoluta com um rosto e que essa era uma responsabilidade acrescida.

Perante o cenário, explicou Marques Mendes, Costa sente uma “frustração” porque não quer deixar o país e o partido com uma “crise política” espoletada pela sua decisão.

O antigo líder social-democrata recorda uma situação em que os mais próximos sentiram a mudança: na altura em que “António Guterres estava no poder, foi a eleições e queria maioria absoluta, não conseguiu por um deputado, e os ministros contam que a partir daí ficou homem diferente e frustrado”. “Acho que a irritação de António Costa tem muito a ver com isto, não é bom para ele, nem para o Governo, nem para o país.”

Três boas notícias: “Tinha sido possível fazer mais”

Ainda sobre a entrevista, Marques Mendes sublinhou que António Costa fez questão de apresentar “três boas notícias” — o apoio extraordinário de 240 euros para famílias vulneráveis, o défice abaixo do previsto e o crescimento da riqueza do PIB superior ao que tinha sido avançado.

O comentador considera que é preciso notar que “a crise chega a todos”, mas que “os cofres do Estado enchem”. “Governo consegue, de uma assentada, ter um défice mais baixo do que o previsto e ajudar.”

Desta forma, não tem dúvidas em descrever a medida de apoio às famílias mais vulneráveis como positiva, mas acredita que era possível fazer mais: “Podia ir mais longe? Acho que sim. O Governo não só não fez um favor em dar este apoio como acho que tinha sido possível fazer mais”, salvaguardou.

António Costa anuncia mais um apoio extraordinário: 240 euros para as famílias vulneráveis

E exemplificou: “Se tivesse havido vontade, teria sido possível um aumento extraordinário aos funcionários públicos; fazer alguma redução de impostos, por exemplo no IVA da alimentação, mesmo que temporário; ou mesmo um aumento extraordinário aos pensionistas com pensões mais baixas.” “O Governo tinha folga para tudo isto”, assegurou Luís Marques Mendes.

O comentador reforçou que o cabaz alimentar “aumentou em mais de 19% desde o início da guerra”, que os produtos “subiram de preço de forma brutal” e que a “inflação ajuda muito o Estado”, o que o leva a sugerir que o Governo se podia ter chegado à frente com mais apoios.

Corrupção em Bruxelas: Mendes critica demora na Entidade da Transparência

À boleia do processo de corrupção do Parlamento Europeu — que Marques Mendes critica e diz ser uma “vergonha” porque os deputados “ganham excelentes salários e estão cheios de privilégios e mordomias” — o comentador criticou o facto de a Entidade da Transparência ainda não estar a funcionar em Portugal.

Sublinhando que foi criada em 2019 e que serve para “fiscalizar as declarações de rendimentos e património dos políticos”, o comentador reiterou que “é importante para prevenir”.

“Há três anos que está criada e não sai do papel? Três anos? Não está instalada nem está a funcionar. Isto tem a ver com prevenção da corrupção e com transparência”, insistiu, frisando que o Tribunal Constitucional “deve uma explicação”.”Não é normal”, reiterou, sugerindo que pode ser por “falta de competência ou de interesse”.

Manuel Pinho: “Isto não é normal, tem de explicar”

Ainda sobre a acusação a Manuel Pinho, Luís Marques Mendes absteve-se de comentários sobre a parte da justiça, mas enalteceu que o caso tem uma parte política e que o ex-governante tem de se justificar: “O ex-ministro Manuel Pinho tem obrigação de dar uma explicação aos portugueses porque um ex-ministro tem mais responsabilidade do que qualquer outra pessoa.”

“Enquanto foi ministro foi recebendo cerca de 15 mil euros por mês de Ricardo Salgado, do Grupo Espírito Santo, e isto não é normal, tem de explicar, é suspeito. Isto é uma anormalidade, tem a obrigação de vir a publico explicar por que é que recebia este dinheiro. Isto é suspeito e a ausência de explicação ainda torna tudo mais suspeito”, sublinhou o comentador.

Luís Marques Mendes fez um balanço do ano:

Acontecimento internacional: guerra na Ucrânia;

Figura internacional do ano: Volodymyr Zelensky;

Acontecimento nacional político: fim da geringonça;

Figura nacional do ano: António Costa;

Acontecimento económico: regresso da inflação;

Sociedade – Factos do Ano: fim da máscara e pedofilia na Igreja;

Figura do ano no desporto: Cristiano Ronaldo.