No início de 2018, as empregadas da Nike começaram a preencher inquéritos anónimos, numa movimentação que recebeu o nome de código de inquéritos Starfish, em português, estrela do mar. Em documentos manuscritos ou escritos a computador, as mulheres da empresa partilharam pormenores sobre a cultura interna da companhia, relatando um verdadeiro “boys club”.

Os relatos desses inquéritos vieram agora a público, conforme relata a Business Insider. No total, são mais de cinco mil páginas de registos que chegaram à justiça a propósito de um processo que pretende processar a Nike por discriminação.

Não é a primeira vez que surgem relatos de uma cultura de sexismo e discriminação na Nike – a Business Insider lembra que, ainda em 2018, o New York Times também abordou a empresa sobre esta questão.

Nos inquéritos, algumas empregadas relatam que ouviram pedidos de empregados para se vestirem “de forma mais sexy” e “mostrar mais pele” no escritório. “Talvez se te vestisses melhor eu chegasse a horas”, terá ouvido uma empregada de um executivo da empresa durante uma reunião. “Tira esse casaco largo e mostra alguma pele.”

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Não eram só as indumentárias no local de trabalho a ser alvo de comentários. Várias empregadas relataram que receberam pedidos de executivos para supostos jantares de trabalho, que afinal tinham segundas intenções.

Algumas funcionárias indicaram que viram executivos “alcoolizados” a tentar abraçar mulheres durante viagens de trabalho. E, num dos ginásios da empresa, uma funcionária terá visto um executivo a receber sexo oral de uma subordinada.

Os documentos consultados pela Business Insider incluem dez inquéritos Starfish e sugerem uma cultura onde “ninguém quer saber da m***** do empoderamento feminino”, é citado. O que, a confirmar-se, contrasta com os valores que a Nike transmite ao público. Além dos inquéritos, também existem emails de executivos, rascunhos de discursos e mensagens entre os advogados na documentação do processo.

Além do assédio, há também contexto sobre a enorme diferença salarial entre as executivas e os executivos – uma mulher num cargo de executiva podia receber até menos 11 mil dólares (10.400 euros) por ano do que um homem, pelo menos entre 2015 e 2019. Entretanto, a Nike afirma que já atingiu a paridade salarial.

Este meio norte-americano contextualiza que Mark Parker, o CEO da Nike na altura, recebeu os resultados dos inquéritos em março de 2018. Dez dias após receber os inquéritos, foi anunciada uma mudança na gestão, que resultou na saída de 11 executivos, as empregadas terão recebido um pedido de desculpas por email. “Ao longo das últimas semanas, ficamos a par de relatos de situações que aconteceram dentro da nossa organização que não refletem os nossos valores de inclusividade, respeito e empoderamento”, cita a Business Insider, a partir do email do então CEO.