A antiga presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, considera que o caso de Alexandra Reis veio mostrar que “o Governo é formado por capelinhas” e que “não funciona em equipa”, criticando a gestão de António Costa, que considera estar mais focado em resolver os problemas do PS do que do país.
Em entrevista à Rádio Observador, no programa Semáforo Político, Manuela Ferreira Leite defende que esta é a “lição” a tirar da polémica indemnização paga pela TAP a Alexandra Reis, que já levou à demissão do ministro Pedro Nuno Santos. E deixa um aviso:
“No fundo, o que fica à vista é que o Executivo é formado por capelinhas: há o ministério dos Transportes, das Finanças, etc. Porque é que não se dão bem uns com os outros? Porque não são uma equipa. É um conjunto de pessoas que está lá porque são amigas do primeiro-ministro ou porque fazem parte de um determinado setor do PS”, critica Manuela Ferreira Leite.
A também antiga ministra das Finanças afirma que “se estivessem todos empenhados na resolução dos problemas do país, não havia a hipótese de um secretário de Estado saber de um assunto gravíssimo e não o comunicar a ninguém”.
Manuela Ferreira Leite refere-se ao facto de ter sido Hugo Mendes, agora ex-secretário de Estado das Infraestruturas, ter sido informado sobre o acordo de Alexandra Reis com a TAP e não ter visto incompatibilidades ou sequer informado o ministro Pedro Nuno Santos, de acordo com o comunicado divulgado pela tutela.
Em entrevista à Rádio Observador, Manuela Ferreira Leite é perentória: “Comigo, não acontecia“. “Já estive em dois ministérios e não havia nenhum processo que fosse da responsabilidade de algum secretário de Estado. Tudo era minha responsabilidade”, recorda.
A antiga presidente do PSD isenta Fernando Medina de responsabilidades, recordando que, na altura do pagamento da indemnização, este ainda não era ministro das Finanças. Manuel Ferreira Leite considera assim que Medina não se deve demitir, apesar de criticar o facto de o governante ter nomeado Alexandra Reis para secretária de Estado do Tesouro.
“Do meu ponto de vista, o único erro que Fernando Medina pode ter cometido foi não ter feito uma análise profunda ao currículo de Alexandra Reis. Não teria arranjado um colaborador sem saber, no mínimo, o que tinha feito nos últimos dois ou três anos”, afirma.
Gestão governativa? “Não defendo eleições antecipadas”
A antiga presidente do PSD considera também que dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas, levando à queda do Governo, não é solução neste momento, subscrevendo a posição do Presidente da República.
“Esse tema neste momento é prematuro, isso não resolveria os problemas do país. Eu não faço parte das pessoas que defendem que deve haver eleições antecipadas”, defende Manuela Ferreira Leite. Ainda assim, a ex-ministra das Finanças defende que o primeiro-ministro deve fazer uma “remodelação do zero“.
“Acho que Costa tem condições políticas para continuar se constituir, a partir do zero, um novo Governo. Caso contrário, vai ter problemas dentro de poucos dias. E as pessoas têm de ir para o Governo por competência e com espírito de serviço público”, avisa.
Manuela Ferreira Leite afirma, por isso, que a estratégia de António Costa está errada: “O primeiro-ministro não tem de resolver os problemas do PS no Largo do Rato; tem de resolver os problemas do país no Governo. E acho que tem feito o contrário”. E deixa um aviso: “Se ficam todos à solta, a maioria no PS vai-se”.
Confrontada também com as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, que afirmou que “não é claro que surgisse uma alternativa evidente, forte e imediata àquilo que existe no Governo”, Manuela Ferreira Leite diz que não pode falar por Luís Montenegro, mas considera que a atual liderança do PSD está “formalmente preparada” para formar Executivo.
Ouça aqui na íntegra a entrevista a Manuela Ferreira Leite no Semáforo Político: