O presidente da Assembleia defendeu esta quarta-feira que existem “urgências amplamente reconhecidas” no processo de revisão constitucional, como a forma de lidar com situações de emergência sanitária, embora apelando também a que os partidos saibam encontrar “áreas comuns”.

Augusto Santos Silva deu posse à comissão eventual de revisão constitucional, dando início ao processo de oitava revisão da Constituição da República Portuguesa (CRP), e lembrou que se atravessa o “período mais longo de estabilidade” do texto fundamental, já que a última mudança ocorreu em 2005.

“Sabemos todos que, por um lado, temos algumas urgências que estão amplamente reconhecidas, que anos mais recentes mostraram que são áreas em que é preciso atualizar o texto constitucional. Refiro-me, em particular às lições do combate à pandemia, no que diz respeito à maneira como o país pode enfrentar situações de emergência sanitária”, disse.

Por outro lado, o presidente do parlamento indicou “outros aspetos que decisões recentes” mostraram a necessidade de “ajustamentos ao texto constitucional”, sem referir expressamente a questão dos metadados, a outra área que foi apontada pelo Presidente da República como prioritária nesta revisão.

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“Sabemos identificar essas áreas de necessidade de atualização da Constituição, mas ao mesmo tempo conhecemos os textos apresentados pelos diferentes partidos. Sabemos todos que, nestes 90 dias, vai-se ter aqui um debate democrático muito intenso, muito importante sobre a nossa Constituição”, disse.

Uma vez que os partidos têm projetos muito diferentes – o PS quer mexer em apenas 20 artigos, por exemplo, enquanto o PSD pretende alterar mais de 70 em todos os capítulos da CRP – Santos Silva apelou a que decorra “um debate político franco e aberto, público” sobre as diferentes propostas, mas, ao mesmo tempo, haja um trabalho “não menos importante de concertação, de acordo, de encontro e descoberta de zonas e áreas comuns”.

“É condição essencial para que a revisão constitucional tenha sucesso”, afirmou, já que as alterações à Constituição só podem ser aprovadas por uma maioria de dois terços dos deputados, o que, na atual composição parlamentar, implica o voto favorável de PS e PSD.

Santos Silva fez questão de cumprimentar todos os partidos, “sem exceção”, por todos terem entregado projetos de revisão constitucional e também pela “qualidade de representação” que indicaram para a comissão eventual.

“É garantia da qualidade do trabalho que aqui se vai desenvolver”, afirmou.

Augusto Santos Silva lembrou que a revisão constitucional é um processo no qual “a Assembleia da República é totalmente soberana desde o arranque até à conclusão” e considerou que este processo é “uma das missões mais nobres” do parlamento.

“É um momento muito, mas muito importante do trabalho parlamentar. Desejo a todos os maiores êxitos, o vosso êxito beneficia-nos a todos, não apenas ao parlamento, mas a todos os órgãos de soberania e ao nosso país”, salientou.

Numa breve reunião de cerca de 15 minutos, com sala cheia, Santos Silva chamou todos os membros efetivos e suplentes da comissão, passando, no final, a palavra ao presidente, indicado pelo PSD, o deputado Joaquim Pinto Moreira.

Ladeado pelas vice-presidentes da comissão, a primeira designada pelo PS Marta Temido, a segunda pelo PCP Alma Rivera, Pinto Moreira classificou como “missão desafiadora mas também muito aliciante” o processo de revisão constitucional que hoje arranca.

“Estamos todos imbuídos sentido de dever e responsabilidade, estou certo que chegaremos a bom porto”, disse.

A próxima reunião da comissão eventual de revisão constitucional ficou marcada para dia 12, após o plenário, para apreciar e aprovar o seu regulamento, definir a metodologia dos trabalhos e aprovar a calendarização, devendo realizar-se previamente um encontro apenas da Mesa e coordenadores.

Desencadeado pelo Chega, com um projeto admitido na Assembleia da República em 12 de outubro, o oitavo processo contará com iniciativas dos oito partidos com assento parlamentar.

O Grupo Parlamentar do PS, que tem direito a 12 efetivos e 12 suplentes, escolheu para os lugares de coordenador e de vice-coordenador dois constitucionalistas: Pedro Delgado Alves, antigo líder da JS e vice-presidente da bancada, e Isabel Moreira, que faz parte do Secretariado Nacional deste partido.

Já o PSD – que indica oito efetivos e oito suplentes – terá como coordenador o antigo vice-presidente de Rui Rio André Coelho Lima e como vice-coordenadora Mónica Quintela, ambos advogados.

O líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, será o último suplente da bancada socialista, enquanto Joaquim Miranda Sarmento, presidente do grupo parlamentar do PSD, vai ser o primeiro suplente social-democrata, e ambos marcaram presença na reunião de hoje.

As restantes bancadas têm direito a um membro efetivo e um suplente cada, enquanto PAN e Livre estarão representados pelos deputados únicos Inês Sousa Real e Rui Tavares, respetivamente.

O Chega terá como membro efetivo na comissão o presidente do partido, André Ventura, pela IL será efetivo o ainda presidente do partido, João Cotrim Figueiredo, enquanto o PCP será representado por Alma Rivera, como efetiva, e o BE o líder parlamentar Pedro Filipe Soares.