O Peugeot Inception, protótipo apresentado hoje em Las Vegas, revela o futuro que a marca antecipa já a partir de 2025: eléctrico e sustentável, mas sem ser aborrecido ou lento. A estética surge repleta de personalidade, mantendo-se fiel às três marcas paralelas da garra do leão, ainda que seja improvável que a versão final se cole à deste concept car, uma vez que a exuberância das linhas não se coaduna com as necessidades de apuro aerodinâmico dos veículos 100% eléctricos.
O Inception é apenas a embalagem do muito que a Peugeot reserva para para os próximos tempos, sendo o principal o compromisso de apenas produzir veículos eléctricos a bateria a partir de 2025. Isto significa nada de motores a gasolina e a gasóleo, além dos híbridos plug-in que representam o grosso das vendas actuais da marca francesa. Mas o construtor avança para os modelos a bateria consciente que o Grupo Stellantis, liderado pelo português Carlos Tavares, possui um arsenal tecnológico que lhe permite ambicionar a liderança entre os fabricantes europeus de eléctricos.
Quatro plataformas específicas com EV para todos os gostos
As quatro plataformas STLA, desenvolvidas especificamente para veículos eléctricos a bateria, são um dos trunfos a que a Peugeot vai recorrer no banco de órgãos da Stellantis. O concept Inception, agora apresentado, está concebido sobre STLA Large, a que permite a maior distância entre eixos, bem como a maior largura e o equipamento mais sofisticado, destinada a servir os topos de gama. A STLA Large, que será mais utilizada por marcas do grupo como a Alfa Romeo, a Lancia e a DS, além das norte-americanas, servirá os segmentos D e E, sendo depois seguida pela STLA Medium (para os segmentos C e D) e pela STLA Small (segmentos A, B e C), a que se junta a STLA Frame, para pick-ups e furgões, mais populares nos EUA.
O Inception pretende revelar o potencial das STLA, pelo que a Peugeot avança com uma solução com dois motores, um por eixo, totalizando 500 kW, ou seja, 680 cv, o que deixa antever a capacidade de ir de 0-100 km/h em apenas 3 segundos. A alimentá-los está um pack de baterias com uma capacidade de 100 kWh, que não deverá ser o máximo admitido pela STLA Large, mas apenas o suficiente para a futurista berlina da Peugeot anunciar 800 km de autonomia, o que se traduz por um consumo médio de 12,5 kWh/100 km, um valor anormalmente reduzido, o que confirma a esperada eficiência do sistema da Stellantis.
Quanto ao carregamento, a marca francesa avançou com a capacidade de recarregar energia de forma a percorrer mais 30 km em apenas um minuto. Apesar do construtor não revelar em que condições esta velocidade de carregamento é atingida, o valor médio aponta para 200 kW, sem que a marca divulgue se a arquitectura é de 400V ou 800V. De qualquer forma, estamos perante tempos de carregamento mínimos para continuar viagem.
Hypersquare em vez de volante e muito vidro
Por dentro, o Inception é tão ousado quanto por fora. O revestimento é realizado à custa de materiais reutilizados, que ajudam ao design, sendo contudo mais facilmente recicláveis, de forma a tornar mais acessível a produção do veículo. Toda a zona superior da berlina da Peugeot é em vidro, porque a marca acredita ser possível dotá-lo com o necessário isolamento acústico e térmico, no que é ajudado pela inclusão de uma camada multicromática, que protege os ocupantes nos dias mais ensolarados.
O toque mais futurista é dado pelo volante, que a marca denomina hypersquare. De aspecto rectangular, com um centro que se transforma num ecrã e quatro orifícios próximo das quatro arestas, a curiosa solução permite conduzir o Inception, mas sem estar ligada fisicamente às rodas, uma vez que o sistema de direcção é by wire. O objectivo é que, assim que o modelo estiver equipado com condução autónoma Nível 4 ou 5, o condutor possa mandar recolher o volante e continuar viagem, confiando à máquina a condução.
São visíveis no centro do hypersquare algumas informações transmitidas pelo veículo ao condutor, mas o grosso dos dados é exibido pela nova geração do i-Cockpit, que finalmente deixa de estar visível através do volante, mas sim por cima deste, como é habitual. O novo i-Cockpit integra a plataforma tecnológica Stellantis STLA Smart Cockpit, que se apresenta como um ecrã flexível a 360º, através do qual quem vai a bordo acede a informações, dados de condução e entretenimento.
Independentemente do potencial do banco de órgãos da Stellantis, no capítulo da electrificação, não há como retirar mérito à ousada decisão da Peugeot, que acredita dentro de dois anos estar em condições de acabar com a produção de veículos com motores de combustão, uma aposta que certamente fará calafrios aos accionistas e administradores da Peugeot e da Stellantis, uma vez que a marca francesa é das mais importantes e representativas do grupo. Mas a confiança que suporta a estratégia de Carlos Tavares, cada vez mais um farol entre os CEO dos construtores europeus, deverá acalmar as preocupações da maioria.