João Gomes Cravinho, que será ouvido em breve na comissão parlamentar da Defesa, no âmbito da Operação “Tempestade Perfeita”, tem negado qualquer conhecimento prévio da derrapagem nas obras no antigo Hospital Militar de Belém, transformado em 2020 em Centro de Apoio para doentes Covid.
Tem garantido o atual ministro dos Negócios Estrangeiros, então titular da pasta da Defesa, que não aprovou (nem lhe terá sido pedido que o fizesse) a despesa que acabou por fixar nos 3,2 milhões de euros o custo da requalificação do edifício, inicialmente estimado em 750 mil euros. Mais: Gomes Cravinho tem recusado quaisquer responsabilidades e assegurado que terá agido “com a informação que tinha”.
Essa informação, sabe-se agora, não seria assim tão parca. Gomes Cravinho terá sido informado, através de um ofício enviado logo no decorrer da primeira semana de obras, que os custos estimados para a intervenção já tinham aumentado cerca de um milhão de euros. O semanário Expresso, que esta sexta-feira avança a notícia, revela que o ofício n.º 486 foi enviado a 27 de março de 2020 pelo então diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN), Alberto Coelho, hoje arguido no âmbito da “Tempestade Perfeita”, para o gabinete do ministro a dar conta de “trabalhos adicionais”, avaliados em mais 920 mil euros, a cuja execução a DGRDN já tinha “dado início”.
No passado dia 20 de dezembro, no debate de urgência no Parlamento, requerido pelo Chega, Gomes Cravinho assegurou que, ao longo do processo, que culminou na detenção de altos quadros da Defesa, por suspeitas de envolvimento em crimes de corrupção ativa e passiva, peculato, participação económica em negócio, abuso de poder e branqueamento, foi sempre “prudente” e “pró-ativo”.“Em cada momento, com a informação que tinha, fiz exatamente o que devia fazer”, declarou.
O documento agora revelado pelo Expresso, e que terá sido enviado para o gabinete do ministro, com conhecimento do então secretário de Estado da Defesa, Jorge Seguro Sanches, logo uma semana depois de as obras começarem, revela que João Gomes Cravinho estava ao corrente da derrapagem que, de acordo com a investigação da Polícia Judiciária, lesou o Estado português em “muitos milhares de euros”. O mesmo Jorge Seguro Sanches que a 23 de julho de 2020 assinou o despacho que, identificando ilegalidades nos ajustes diretos e na ausência de pedidos de autorização à tutela, deu origem à investigação da Inspeção-Geral da Defesa Nacional, primeiro, e, depois, à da Polícia Judiciária.