O tribunal de Bucareste, na Roménia, decidiu prolongar o período de detenção de Andrew Tate e do irmão, Tristan Tate. De acordo com o jornal Guardian, os dois homens vão continuar detidos até 27 de fevereiro, enquanto prossegue a investigação.
Ex-kickboxer e um influencer polémico pelas declarações consideradas misóginas, que até já lhe valeram uma suspensão das redes sociais, Andrew Tate e o irmão são acusados de fazerem parte de um grupo de crime organizado, com suspeitas de tráfico humano e de crimes sexuais. Além dos irmãos, estão também detidas duas mulheres romenas, Georgiana Naghel e a antiga agente da polícia Alexandra Luana Radu, suspeitas de estarem ligadas a este grupo organizado.
“A pedido dos procuradores, o tribunal aceitou a extensão do período de detenção antes do julgamento dos dois irmãos Tate até 27 de fevereiro”, transmitiu uma porta-voz da Procuradoria romena, Ramona Bolla, citada pelo Guardian. Os dois homens, que negam as acusações, tem a hipótese de apresentar um recurso a esta decisão.
Os irmãos e as duas mulheres foram detidos a 29 de dezembro, na Roménia. Na altura, as autoridades romenas descobriram a localização do ex-kickboxer através das caixas de pizza visíveis num vídeo onde provocava a ativista Greta Thunberg. O facto de as caixas serem de uma pizzaria romena denunciaram Andrew Tate.
No final do ano, o tribunal de Bucareste já tinha prolongado o período de detenção dos quatro suspeitos durante 30 dias. As autoridades consideraram que, devido à “capacidade financeira”, os irmãos poderiam “fugir à investigação, sair da Roménia e ficar em países que não permitem a extradição”.
No momento da detenção, as autoridades romenas encontraram armas de fogo, armas brancas e grandes quantidades de dinheiro. Até ao momento, já foram apreendidos vários bens dos irmãos Tate na Roménia, incluindo 15 carros de luxo – três Porsche, dois BMW, dois Ferrari, um Aston Martin, um McLaren, um Lamborghini e cinco Mercedes. Também foram encontrados 14 relógios de luxo. No total, os bens e o dinheiro confiscado ascendem a 18 milhões de lei romenos, o que equivale a 3,7 milhões de euros.
O advogado do influencer de 36 anos, Eugen Vidineac, já disse que “não há provas” contra os clientes e que Tate estava simplesmente a “fazer uma personagem”. Nas redes sociais, Andrew Tate transmitia mensagens de defesa da masculinidade e até criou a agora extinta “Hustler’s University”, um curso online onde ensinava os seus “truques” de vida para enriquecer e conquistar mulheres.
A investigação das autoridades romenas começou em março de 2022, depois de um dos irmãos ter sido acusado de alegadamente violar uma mulher e envolvê-la numa rede de tráfico humano.
As autoridades consideram que Andrew Tate, de 36 anos, e o irmão Tristan, de 34, recrutavam as vítimas para este esquema de tráfico humano fingindo que estavam disponíveis para ter uma relação romântica. As vítimas eram depois levadas para propriedades fora de Bucareste e forçadas através de “violência física, intimidação mental e coação” a produzir conteúdos pornográficos para sites. Os envolvidos no alegado esquema ficavam com os lucros destas atividades.
Foi encontrada uma dúzia de telemóveis e equipamento tecnológico para transmissão de vídeo nestas propriedades. Até ao momento, as autoridades romenas identificaram pelo menos seis vítimas, incluindo duas menores.
Jovens romenas contaram à BBC como eram abordadas pelos Tate
Esta sexta-feira a BBC revela algumas das táticas dos Tate para abordar jovens para este suposto esquema de tráfico humano. Daria Gusa é uma das jovens que conta à estação televisiva britânica a mensagem que recebeu de uma suposta conta de Andrew Tate em 2020, quando tinha 16 anos.
“Dizia só ‘rapariga romena’ e pôs um emoji ‘flirty’”, contou a jovem – nesta mensagem, era um morango. “Fiquei confusa porque tinha só 200 seguidores e era uma conta privada.” Gusa, que é filha de um político romeno e atualmente está no Reino Unido a estudar, é uma das jovens que conta algumas das táticas dos irmãos Tate. Não respondeu à mensagem, mas diz que algumas das amigas responderam.
“Era óbvio que éramos estudantes do secundário. Tínhamos a indicação da escola no nosso perfil e tudo. Acho que ele só estava a tentar encontrar miúdas que fossem o mais inocente ou ingénuas possíveis, na minha opinião.”
A BBC recorda um vídeo de Andrew Tate, que nas redes sociais explicou ao seu público, maioritariamente masculino, como abordar mulheres. “Da minha experiência, aquilo que as intriga e leva a responder é perguntar de onde são”, contou. “Às vezes, para gerar alguma intriga, ponho um emoji completamente inútil no fim: algumas cerejas, uma laranja, um morango”, exemplificou.
Embora os irmãos Tate neguem os crimes de que são acusados pelas autoridades romenas, em alguns dos vídeos Andrew Tate já dizia que tinha enriquecido à custa de mulheres que atraía para o negócio das webcam. Conhecidas como webcam girls, neste tipo de interação os clientes pagam para aceder ao feed de vídeo – dependendo do negócio, podem ser feitos pedidos especiais por um montante adicional. “Giro um estúdio de webcam há mais de uma década… Mais de 50% das minhas empregadas já foram minhas namoradas em alguma altura e, de todas as minhas namoradas, nenhuma estava na indústria de entretenimento adulto antes de me conhecer.”
E já explicava a tática: “[passa] conhecer uma rapariga, ir em alguns encontros, dormir com ela… fazer com que ela se apaixone por mim e depois ela fazia tudo o que eu dissesse.” Mais tarde, Tate fazia com que entrassem no negócio das “webcam para que pudessem enriquecer juntos”.
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